Geralmente quem está pensando em cursar uma faculdade leva em consideração vários fatores para escolher o curso e a instituição de ensino. Entre os principais estão a mensalidade, a distância – se, por exemplo, o candidato terá de se mudar de cidade – e como anda o mercado de trabalho para aquela profissão. Especialistas em educação financeira, no entanto, citam outros pontos que devem ser observados. O custo de cursos complementares exigidos para uma melhor qualificação na área de trabalho e as oportunidades de bolsas e benefícios oferecidos pelas faculdades são alguns deles.
“Muitas vezes, o candidato vai na emoção, sem fazer esse tipo de análise. Muitas instituições de ensino oferecem bolsas, integrais ou parciais. Algumas utilizam nota no Enem e outras provas próprias para conceder benefícios”, diz Cíntia Senna, mestre em Educação Financeira. “Um ponto importante é observar o que a faculdade já tem de programas para ajudar na economia do custo mensal do estudante. Às vezes, a gente acaba não olhando e perdendo esses benefícios.”
Mauro Cervellini, especialista em finanças e sócio da MZM Wealth, alerta para a importância do planejamento para os cursos complementares. “Isso deve ser feito desde o início da graduação. O ideal é identificar quais serão os cursos ou especializações necessários para alcançar as metas profissionais e avaliar os custos e o tempo necessário para concluí-los. Assim, o estudante pode começar a reservar uma parte do orçamento todos os meses para esses investimentos futuros e ainda contar com a ajuda dos juros mês a mês, mantendo este dinheiro investido”, aconselha.
Para ele, o estudante também deve ter “clareza” sobre os custos totais da faculdade. Além da mensalidade, ele deve pensar no material didático, no transporte, na alimentação e em outros gastos indiretos. “Criar um orçamento detalhado é fundamental para saber exatamente quanto será necessário gastar e se há formas de otimizar esses custos, como aproveitar bolsas, descontos ou programas de auxílio.”
Antecedência
Segundo Cervellini, a antecedência de planejamento vai depender da duração e do custo do curso, mas, como regra geral, o aluno deveria começar a se planejar com pelo menos dois anos de antecedência para programas mais robustos, como uma pós-graduação ou um curso no exterior.
A educadora financeira Cíntia também lembra que o estudante deve “observar, dentro da área em que pretende atuar, vários requisitos, que não só a graduação”. “Deve observar também que, por exemplo, para estudar Inglês, hoje tem muitas oportunidades gratuitas disponíveis. Até nas redes sociais, na internet”, afirma.
Caso o estudante queira buscar certificação no exterior, além de um planejamento financeiro detalhado de custos, seu principal conselho é “vá a feiras de intercâmbio”. Ela cita o próprio exemplo. “Acabei fazendo isso. Você vai a essas feiras para pegar contatos, informações sobre oportunidades, sobre os cursos. Saber qual é o custo, tanto da viagem quanto do curso e do tempo em que vai estar lá e, de preferência, colocar um pouquinho a mais. Fui na feira e mirei no mais caro. Na época, era Londres, por causa da libra. Pensei: ‘Se eu conseguir pelo menos perto disso, consigo em qualquer outro país’.”
Cuidado com locais, formatos e currículos é fundamental
Na hora de escolher o curso, é importante prestar atenção na qualidade das instituições e dos seus programas. E também em uma mudança de regras na área durante o seu período em sala de aula.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), planeja incluir critérios de empregabilidade de egressos e o impacto social dos cursos na avaliação da qualidade das graduações e das faculdades do País.
Hoje, o Conceito Preliminar de Curso (CPC) avalia as graduações. Ele considera o desempenho dos alunos por meio de uma avaliação nacional (Enade), o corpo docente, a infraestrutura e um questionário com universitários. O Inep disse que estuda ainda criar indicadores setoriais, por áreas temáticas. E mudar prazos: hoje, cada carreira só é avaliada a cada três anos.
Mais uma mudança em discussão em Brasília é um novo regramento para o ensino a distância. Até 31 de dezembro, o Ministério da Educação (MEC) prevê a conclusão dos trabalhos que devem estabelecer os novos referenciais e o marco regulatório para a oferta desses programas.
Neste ano, o governo já limitou a carga não presencial em licenciaturas para docência a 50%. E em junho decidiu suspender a criação de programas, bem como o aumento de vagas e a criação de polos até 10 de março de 2025.
Nesse processo, o Semesp, entidade que representa instituições de ensino superior de todo o País, apresentou neste mês no 26.º Fnesp o documento intitulado Dimensões da qualidade para cursos de EAD, com indicadores de qualidade aplicáveis e relevantes para diferentes contextos educacionais da educação a distância. A proposta encaminhada ao MEC foca desde frequência síncrona e assíncrona até o papel dos polos.
Outro cuidado se refere a saber o que se vai realmente cursar. Os programas de Direito, por exemplo, devem mudar a partir de 2025. A Comissão Especial de Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais, que inclui membros do Conselho Nacional de Educação, responde por essa revisão. Entre os debates estão aumentar a carga horária e a proporção de atividades práticas e restringir as possibilidades de EAD.
Do total de cursos, apenas 10% receberam o Selo de Qualidade da OAB e 36,5% têm nota 3 ou mais (em uma escala de 1 a 5) no atual Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), aplicado pelo MEC.
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