Cursinhos de SP dão aulas online e mantêm rotina de ensino durante a quarentena

Professores seguem cronograma com conteúdos e plantões de dúvidas virtuais; projetos populares de alunos da USP dão atendimento especial a vestibulandos de baixa renda

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Por Caio Nascimento
Atualização:

O corpo pedagógico dos cursinhos de São Paulo está fazendo de tudo para ajudar os estudantes. Logo que o governador João Doria anunciou a quarentena no Estado, em 24 de março, os professores começaram uma força-tarefa para gravar aulas compartilhadas em plataformas virtuais. O mesmo vale para os plantões de dúvida e correção de redações: os educadores ficam de prontidão em uma sala de vídeo para sanar as dificuldades de quem precisar.

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Fernanda Souza, coordenadora do cursinho popular da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, conta que a equipe possui um projeto de apadrinhamento no qual cada aluno recebe um acompanhamento individualizado, a fim de resolver ao máximo as dificuldades de cada um. “Para além da manutenção das aulas, cursinhos populares têm a preocupação em saber como os alunos estão sobrevivendo nesta pandemia e se estão tendo meios para se manter e estudar”, diz. 

A iniciativa recebe, atualmente, 128 alunos com uma renda de até três salários mínimos por família. No fim de 2019, os voluntários firmaram uma parceria com o Anglo para receber material didático e acessar as plataformas online da escola, o que facilitou a transição das atividades presenciais para o ensino à distância (EaD).

Professores usam plataformas de videoconferência para dar aulas; material fica gravado para alunos consultarem depois Foto: Fernanda Souza

Já o cursinho da Psico, localizado na Faculdade de Psicologia da USP, deixou de cobrar a mensalidade de R$ 70 e, além de disponibilizar as videoaulas, está também oferecendo apoio psicológico aos alunos durante a pandemia. Como é voltado para pessoas mais pobres, nem todos têm acesso adequado a computadores e internet, o que levou os professores a criarem grupos de WhatsApp para dar mais acessibilidade aos vestibulandos. 

“Tem estudante que só tem um computador em casa para toda a família e acaba tendo que usar o celular. Alguns não têm boa internet e a plataforma trava. Outros dependem do 3G. É difícil oferecer um acesso igualitário para todo mundo”, explica a voluntária Poliana Barbosa. 

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No cursinhos Etapa, da Poli, Anglo, Objetivo e Poliedro – uns dos mais tradicionais de São Paulo –, a situação é um pouco menos complicada: além de já contarem com conteúdos online que complementam os encontros presenciais, os professores passam o dia gravando as aulas que seriam dadas em sala. Em todos os cinco há plantões de dúvida virtual e as aulas ficam gravadas e salvas em um aplicativo, para proporcionar maior flexibilidade de tempo ao estudante. No caso do Poliedro, os alunos ainda têm acesso a tutoriais de yoga para relaxar.

O Projeto Progressão, destinado a jovens do 9º ano do ensino fundamental que querem prestar o ‘vestibulinho’ para entrar em Etecs e Institutos Federais, também se adaptou à quarentena. Criada há oito anos por alunos da Escola Técnica Estadual de São Paulo (Etesp) – melhor escola pública da capital paulista –, a iniciativa ajuda adolescentes de baixa renda e da periferia a conquistarem vagas em um ensino médio de qualidade.

“A maioria dos nossos alunos não têm acesso a uma internet qualidade nem estrutura para acompanhar as aulas em vídeo. Então estamos passando conteúdos em texto para eles”, explica o coordenador Guilherme Amorim, ex-aluno da Etesp e estudante de Química na USP.  Os professores planejam aumentar o ritmo das aulas quando o regime de quarentena acabar e vão fornecer monitorias para sanar as dúvidas dos jovens com um atendimento individual.

Rodrigo Fulgêncio, coordenador e professor do Poliedro, afirma que a desigualdade que existe entre cursinhos de ponta e os populares no acesso a computadores e plataformas sofisticadas pode tornar os vestibulares ainda mais desiguais. “Nós, como instituição privada, continuamos as atividades. O problema é que nem todos têm essa mesma estrutura. As bancas dos vestibulares devem estar atentas para um modelo mais justo caso essa pandemia perdurar por mais tempo”, defende.

Gabriel Alves, de 22 anos, é um exemplo dessa realidade. Trabalhando e com uma renda familiar per capita de meio salário mínimo, ele estuda para passar em Medicina na USP, não tem condições de comprar um computador e acompanha o EaD do cursinho por um celular que trava bastante. 

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O coordenador do cursinho da Poli, Gilberto Alvarez,  explica que essa realidade demonstra que se as notas de corte caírem devido ao menor rendimento na pandemia, o resultado dos estudantes da rede estadual poderá ser ainda pior. “Quem entra pelas cotas nas carreiras mais concorridas geralmente é a elite das escolas públicas, como as Etecs e os Institutos Federais”, avalia. 

Dificuldades com o EaD

Para Alvarez, a quarentena compromete o aprendizado de uma grande parcela dos estudantes. “O presencial cumpre papéis que o online não alcança. Em educação virtual, o ideal seria processos pedagógicos híbridos, com fases presenciais acompanhando o estudo pela internet. A experiência à distância por si só é incompleta”, afirma.

Uma pesquisa do Poliedro identificou que os grandes problemas dos alunos com o EaD são a disciplina com o horário, manter o foco em frente ao computador, lidar com excesso de distrações de casa e a perda de incentivos. “É mais fácil se motivar a estudar quando vê que o outro está estudando. O processo de ensino e aprendizagem ficou mais difícil”, analisa Fulgêncio.

A situação se cruza ainda com um problema típico do vestibulando: a matéria acumulada. Como o volume de conteúdo cobrado nos exames é grande e cada aula é um assunto novo, as dificuldades tornam essa realidade ainda mais desafiadora. 

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Kelly Ferreira, por exemplo, tem epilepsia mioclônica e precisa tomar remédios que causam irritabilidade, fadiga e falta de concentração. “Os medicamentos da doença mexem com o meu humor, me deixa depressiva. E o que me tirava disso era me relacionar com pessoas as pessoas no cursinho”, diz a jovem, de 22 anos, que pretende passar em Biomedicina na USP.

Raphaella Almeida, de 18 anos, também enfrenta obstáculos. Ela sonho em estudar Medicina e tinha uma rotina regrada antes da pandemia: chegava de manhã no cursinho e só ia embora à noite. Mas agora enfrenta dificuldades para manter o ritmo. “Conheço alunos que estão sem pique de assistir às aulas. Eu vejo, mas me distraio. Minha família está toda em casa, tem criança gritando e meu sono desregulou. Está bem difícil”, relata.

Marcelo Fonseca, coordenador do curso Etapa, avalia que apesar de ser um momento complicado, a quarentena derruba a máscara do estudante irresponsável. “O teatro do aluno que só ia para as aulas para preencher tabela acabou, pois não tem mais para quem ele fingir. À distância não faz sentido. Vai ter que se convencer de que tem que estudar”, diz.

Dicas para render na quarentena

Alvarez recomenda que o estudante escolha um local tranquilo onde possa acostumar o cérebro a uma nova rotina. “Sempre organize o espaço e comece a estudar da mesma forma, leve uma água, arrume o estojo e padronize a montagem da sua apostila. Assim, sua mente vai começar a se condicionar para um momento de concentração”, sugere. “Não exija muito de você. Reserve uma hora de estudo corrido, concentrado, sem se distrair. Depois, tire 10 minutos para olhar o celular e dar uma arejada.”

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O YouTube também pode ajudar. De forma divertida e didática, a influenciadora digital Débora Aladim oferece em seu canal diversas dicas de como se dar bem no vestibular, com vídeos sobre como colocar os estudos em dia, como estudar no barulho e formas de lidar com a ansiedade, a preguiça e a desmotivação. Ela faz ainda resumos de história e fala sobre a redação do Enem, sugerindo 50 citações filosóficas para melhorar o texto e comentando as notas altas.

Em meio a tantos outros, tem também o canal do Professor Piccini, com técnicas de estudo, tutoriais de como estudar pelo celular do jeito certo, dicas de como ter raciocínio rápido e formas de ler e memorizar. 

Para quem busca conteúdos mais específico, vale olhar os canais do YouTube Biologia Total com Prof. Jubilut, Matemaníaca por Julia Jaccoud, Física Total, Português Objetivo e Química com Prof. Paulo Valim - Ciência em Ação.  

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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