Além de cursos tradicionais, como Medicina e Direito, as áreas ligadas à Computação e Tecnologia estão em alta em vestibulares como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a Fuvest (prova da Universidade de São Paulo, a USP). Isso ocorre diante dos avanços técnicos e das oportunidades no mercado de trabalho. As Engenharias também atraem grande interesse.
“No Brasil, temos um perfil, de certo modo, tradicional. Em Biológicas, a Medicina continua sendo a carreira mais procurada. Isso se reflete em quase todos os vestibulares, e também em São Paulo, principalmente na Fuvest, diz Heitor Ribeiro, professor de História e coordenador do Curso Anglo.
De acordo com ele, o curso da Universidade de São Paulo (USP), mais importante instituição de ensino superior da América Latina, também é o de ingresso mais difícil.
Para Ribeiro, a área de Exatas é a que tem apresentado maior diversidade no vestibular, uma vez que o campo passou a apresentar muitas subáreas, como Civil, Mecânica, Química, Elétrica, Ambiental, entre outras.
“Na Fuvest, Ciências da Computação é bem concorrido. Muitos alunos têm procurado essa área e isso é uma tendência, por causa dos avanços tecnológicos, principalmente, que a gente tem tido com a inteligência artificial”, afirma o professor do Anglo. “Essas duas áreas são bastante promissoras e, geralmente, quem está saindo para elas é quem mais está ganhando dinheiro, pela falta de profissionais no mercado. A parte de TI também ainda é muito forte.”
Para ele, essas áreas tecnológicas devem se manter em crescente. “O profissional que entra na faculdade agora só vai para o mercado daqui a 4, 5 anos. Então, eu acho que a tendência é de que essas áreas continuem em expansão e sendo bastante promissoras”, acredita.
Na avaliação do professor, a carreira de Engenharia da Computação, assim como Ciências da Computação, é outra de alto interesse. “As Engenharias são muito procuradas de forma geral. Agora, quando eu especifico, eu percebo que a Engenharia da Computação é um curso bastante em alta.”
Pelo Sisu (o sistema unificado do governo federal), em concorrência, destaca-se ainda o curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.
Saindo desse mercado mais tradicional, o coordenador do Anglo alerta sobre o aumento na procura tanto por Engenharia Química quanto por Química como Ciência. “Muita gente que faz Química vai para a indústria pensando, principalmente, no agronegócio. Então, acaba tendo uma ligação bastante por culpa dos pesticidas e outros produtos que são usados hoje nas lavouras.”
Ciências atuariais, por fim, é outra área que tem crescido, sobretudo na precificação de risco. “É uma das profissões que mais vai ter demanda de trabalho no futuro”, aposta Ribeiro.
E entre os alunos?
Aí, vale colocar as apostas onde der. Há três anos no cursinho do Anglo, por exemplo, Gabriel Gaspar, de 21 anos, quer uma vaga em Medicina.
Neste ano, ele vai prestar para USP, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Também vai concorrer a uma vaga pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e pela Faculdade de Medicina de Marília (Famema), além da Santa Casa.
“Por enquanto, são essas as opções. Pode ser que eu ainda escolha mais uma faculdade”, disse o estudante. A paixão pelo curso, no entanto, não foi imediata. Após terminar o ensino médio, ele tirou um ano livre até iniciar no ano seguinte o cursinho. “Eu era completamente contra fazer Medicina. Falava: ‘Deus me livre de ficar me matando para estudar para o vestibular, ficar no cursinho anos e anos, não quero isso.’ Mas eu não sabia o que ia fazer. Pensava em fazer História ou Antropologia, porque gosto muito dessas áreas.”
Com o passar do tempo, começou a conversar com o primo, que é médico, e surgiu o interesse pela carreira dele. “Antes de tudo, eu queria fazer algo em que pudesse ajudar as pessoas, a sociedade, de alguma forma. Eu tenho muito essa visão dentro da minha família, de que a gente tem de fazer algo não só pensando em nós, mas pensando em um todo. O meu primo foi me mostrando a Medicina aos poucos e eu vi na profissão uma forma de poder fazer mais pelas pessoas.”
Agora, já pensa até na especialização, que pode ser ortopedia, como o primo. “Também penso muito em cardiologia. Eu acho que é muito legal. Além disso, uma área que vem despertando algum interesse é a de Medicina da Família: o médico acompanha a família ao longo do tempo.”
Universidades federais
Estela Mercadante, de 19 anos, é aluna do Curso Etapa. Ela está no segundo ano de cursinho e vai concorrer a uma vaga para Ciências Biológicas em USP, Unicamp e Unesp e pelo Sisu, com foco nas federais e com base na média da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Eu sempre gostei muito mais do trabalho fora das cidades, envolvendo animais, plantas e natureza. Ao mesmo tempo, não gostava da parte difícil, que é, por exemplo, a área de veterinária, de mexer com os animais feridos”, relata ela. “Eu gosto mais da parte de explorar a vida deles. Após formada, vou mais para a área de pesquisa, de Biologia, de realmente trabalho de campo ativo”, já projeta.
Em busca de uma vaga em Educação Física na USP, Unesp, Unicamp e usando a nota do Enem para conseguir se classificar na Unifesp, pelo Sisu, Leonardo Tenório, de 18 anos, está otimista. “Minha família é muito ligada à Educação Física. Minha mãe fez Educação Física, meu padrinho... Eu acho que é algo mais familiar mesmo. Eu pretendo ser técnico de futebol, que é uma área que eu gosto muito.”
Entre públicas e privadas
Prestando para Psicologia pelo segundo ano, Ana Beatriz Amorim, de 18 anos, está confiante na profissão escolhida. “Eu vou prestar para a Unesp, vou fazer o vestibular do Einstein e vou usar o Enem para tentar as federais. Eu sempre gostei muito dessa parte de comportamento das pessoas.”
Ela destaca como virtude, e vocação, o fato de “gostar de ouvir as pessoas e tentar ajudar naquilo que eu consigo”. “Após formada, eu penso em trabalhar numa clínica com crianças e adolescentes.” Pela listagem do Sisu, o curso integral de Psicologia na Unifesp (Câmpus Baixada Santista) ocupa a décima colocação na lista com os mais inscrições na edição de 2024.
Na área de Humanas, a carreira que mais se destaca ainda é o Direito, conforme mostra a lista da Fuvest 2024, com essa opção em segundo lugar, assim como na listagem dos dez cursos com os maior número de inscrições na edição de 2024 do Sisu, em que aparece em terceiro lugar o programa integral de Direito da Unifesp (câmpus Osasco).
“O aluno ainda se encanta muito por essa carreira. E, após o Direito, a gente também tem um grande número de estudantes que procuram a área de Administração. Essas duas seriam, digamos, o carros-chefe na área de Humanas”, segundo os especialistas e coordenadores de cursinhos.
Ciências Atuariais, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas perfilam em sexto lugar entre os dez cursos mais procurados no último vestibular da Fuvest. Embora não tenha a mesma procura do passado, a Arquitetura ainda está entre os dez cursos mais procurados, conforme a Fuvest 2024. A carreira aparece em sétimo lugar, com 2.707 candidatos.
Em quais cursos a procura por profissionais deve crescer nos próximos anos?
- Ciências Atuariais
- Ciências da Computação
- Engenharia da Computação
- Engenharia Química
- Química
- Medicina
- Psicologia
Som e imagem
No primeiro ano do cursinho Anglo, Maria Luiza da Cruz Zancopé, de 18 anos, vai prestar para Audiovisual. Ela optou por USP e pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). “Eu comecei a fazer teatro com 6 anos. Então, eu me apaixonei por essa área. Fui gostando tanto da atuação quanto da parte de produção, direção e roteiro. Conforme cresci, eu me envolvi cada vez mais nesse mundo e eu acabei me apaixonando completamente por cinema.”
A estudante disse que a escolha pelo Audiovisual surgiu para ter um curso que lhe oferecesse base teórica e técnica necessárias para produção e direção. “No futuro, gostaria de ter minha produtora. Não largar teatro, né? Não deixar de estudar essa área de atuação, porque eu gosto muito.”
O mapa das Engenharias, o mais complexo da atualidade, não assusta os vestibulandos. Miguel Absy Freire de Oliveira, de 18 anos, vai prestar Engenharia da Computação pela segunda vez. “Eu estou focado na USP e na Unicamp. Converso com algumas pessoas da área e sei que é um curso que tem muita perspectiva. Quero ir mais para a área de pesquisa científica, mas há muitas oportunidades, várias opções de trabalho.”
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