Aos 21 anos, era 1967 e, portanto, eu era contra tudo. Fazia Economia na USP e trabalhava no Banco do Brasil. Era um universo que não me pertencia, mas ao mesmo tempo estava começando a brincar de ser ator e a escrever para o teatro. Minha primeira peça, Cordão Umbilical, seria montada em 1970 e mudaria tudo.
Mas aos 21 estava em um período de dúvidas. Sempre gostei de escrever e pensava em voltar para o Jornalismo, com o que eu tinha trabalhado em Lins (SP), aos 14 anos. Acabaria fazendo isso em 1972, quando largaria a Economia no último ano e o banco. Aos 21, só sabia que queria ser escritor, que era um sonho louco e, para isso, era preciso ser funcionário público, como o Drummond. Quando saí do banco, minha família achou que estivesse louco. Eu precisava largar aquilo para fazer o que realmente queria: escrever.
Os anos 1960 foram muito revolucionários para quem era jovem. Foi um período de muitas passeatas, festivais de música. Houve um boom da literatura latino-americana com Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Mario Vargas Llosa, que na época era um bom escritor. Aquilo mexeu com todo mundo. Nem era preciso ser gênio para ver que o mundo estava mudando.
Acontecia muita coisa ao mesmo tempo, e eu queria participar daquilo não apenas batendo carimbo do banco. Por isso, era contra o que estava fazendo, que era ter uma vida normal, fazendo uma faculdade, com um trabalho que me daria uma boa aposentadoria.
O que me fez largar tudo foi o sucesso que fez uma peça que montei. Mas ela só existiu porque, durante uma ocupação na faculdade, por volta de 1968, escrevi um livro mimeografado que vendia nos restaurantes e alguém me aconselhou a escrever a peça.
Se a peça não tivesse dado certo, teria continuado no banco e na faculdade. Depois, fiz nove peças, ganhei dinheiro, prêmios. Uma coisa foi puxando a outra. Comecei fazendo teatro nos anos 1970, cinema e televisão nos 1980, virei cronista e escritor nos anos 1990 e, agora, me preparo para lançar mais dois livros." / DEPOIMENTO A THIAGO MATTOS, ESPECIAL PARA O ESTADO
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.