Os pais poderão decidir se os filhos voltarão ou não para a escola na cidade de São Paulo, segundo resolução que está sendo preparada pelo Conselho Municipal de Educação. A capital paulista está tomando a frente no debate que tem preocupado famílias e instituições públicas e particulares. O Estadão ouviu a opinião de dois especialistas sobre o retorno das aulas. Veja abaixo a resposta deles à seguinte pergunta: devemos retomar as aulas presenciais?
Sim
Arthur Fonseca, presidente da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares)
"É uma necessidade educacional e social. Países de todos os continentes que reabriram suas escolas com estratégias adequadas e medidas de controle obtiveram sucesso. No Brasil, o caminho é uma retomada gradual e regional. Um estudo independente solicitado pela Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), em fase de finalização, avaliou os riscos e benefícios, principalmente para educação infantil e ensino fundamental 1. Os principais achados indicam que os ganhos são maiores do que as perdas.
Crianças são menos suscetíveis à covid-19, representando 2% dos casos no mundo. Mesmo que contraiam o vírus, o quadro costuma ser menos agressivo nelas do que nos adultos, o que reduz também as chances de morte. Os maiores riscos, porém, devem-se ao próprio fechamento das escolas, que pode agravar condições psiquiátricas, comprometer a segurança alimentar e aumentar o número de abusos.
As desigualdades sociais serão acentuadas, uma vez que crianças em situação de vulnerabilidade têm menos acesso à educação a distância. Quanto à economia, manter as instituições de ensino fechadas pode agravar a recessão econômica, com prejuízos de até 1% do PIB. Sem reivindicação às escolas privadas, a defesa é pelo segmento escolar como um todo."
Não
Gonzalo Vecina, médico sanitarista e colunista do Estadão
"Esta é, sem duvida, uma das questões mais difíceis de responder sobre a pandemia. O isolamento social somente não foi um fiasco maior graças à suspensão das aulas. Foram cerca de 50 a 60 milhões de alunos, professores e trabalhadores da educação que deixaram de circular e portanto de encontrar o vírus.
O sucesso da medida pode ser verificado pela utilização dos prontos-socorros infantis - que estão funcionando com apenas 10% a 15% de sua carga normal para este período do ano. Vocês pais e mães não se lembram de um ano em que correram tão pouco com seus filhos por problemas respiratórios.
Mas para a educação foi um ano perdido. As escolas públicas sofreram muito mais e seus alunos - que em grande parte já estão prejudicados pela sua condição econômica - serão duplamente castigados. Em grande medida tudo isso ocorreu pela inépcia do Estado em oferecer um sistema educacional melhor e por não ter conseguido construir alternativas minimamente viáveis.
Retomar as aulas faltando apenas três meses para o fim do ano criará uma onda de infecções entre as crianças e, pior, se disseminará a epidemia nas casas desses alunos. Será fechar com mais uma irresponsabilidade este difícil episódio da vida brasileira."
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