No fim do ano letivo, são feitas as avaliações mais importantes - na escola e em casa. Enquanto o filho resolve as últimas provas, os pais também podem estar debruçados sobre outra questão delicada: mudá-lo ou não de colégio. Se a criança tirou notas baixas, está desanimada ou tem dificuldade de se enturmar, aumentam as dúvidas. Para especialistas, o momento pede calma e diálogo.
Antes de tomar qualquer decisão, é importante que os pais ouçam a escola. “A primeira medida, com qualquer tipo de problema, é sempre conversar para buscar uma solução conjunta e evitar essa atitude mais radical que envolve uma adaptação muito maior”, defende a professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Colello.
Mesmo em caso de baixo desempenho escolar, em que a criança ficou de recuperação ou não conseguiu nota suficiente para passar de ano, permanecer no colégio pode ser a melhor opção, desde que o aluno seja acompanhado mais de perto pelos pais e professores no ano seguinte.
“É possível manter a criança na escola, mas com um olhar diferente para ela, mais acolhedor. Isso mostra que ela tem de tentar”, diz Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem e membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Explicar a matéria de um jeito diferente ou passar exercícios extras, segundo ela, podem ajudar o aluno a ganhar destreza e, dessa forma, melhorar o desempenho.
No entanto, se a metodologia do colégio não é adequada à forma de aprender do estudante, a mudança pode ser necessária. Para avaliar isso, os pais contam com a ajuda de profissionais da própria escola ou de especialistas de fora. O cuidado, nesses casos, deve ser redobrado para que a troca não passe uma mensagem ao filho de que ele não é capaz.
Persistência. Para Sandra Braga, orientadora educacional do Colégio Pio XII, na zona sul de São Paulo, independentemente de trocar ou não de colégio, é importante que os pais ajudem os filhos a lidar com os fracassos. “Não é só mudar de lugar. Em relação à criança que tem baixo rendimento, a família deve ser orientada o ano inteiro.” Além de seguir de perto os estudantes com dificuldade de desempenho, a escola também trabalha na prevenção ao bullying, outro motivo que pode levar os pais a trocar de colégio.
“A gente acredita que o afetivo leva ao sucesso do cognitivo. O mais importante no olhar do aluno é se sentir bem e pertencer a um grupo”, diz Sandra. Para ajudar na adaptação dos estudantes, o colégio faz um trabalho de tutoria, em que colegas da mesma faixa etária apresentam a escola a alunos novatos e os ajudam a se enturmar.
No caso de Luísa Barberio, de 13 anos, as “tutoras” se tornaram suas melhores amigas em um momento decisivo de adaptação à nova escola. A menina deixou, no segundo semestre, o colégio onde estudou desde o 1.º ano do fundamental. “As pessoas da minha antiga escola não eram muito legais e aqui me acolhem bem. Mudar de colégio não é muito fácil, mas elas vieram na porta me receber, foram super simpáticas, me apresentaram aos professores.”
Para Maria Beatriz Barberio, mãe de Luísa, a decisão de trocar de escola veio após um acúmulo de insatisfações com o colégio anterior, uma instituição italiana. “O colégio parou de me agradar na parte pedagógica, tinha uma estrutura muito precária e um preço muito alto para o que estava oferecendo”, afirma a publicitária. O projeto de socialização oferecido pelo Pio XII, segundo ela, ajudou a família a ter mais tranquilidade na transição.
Falta de motivação. A troca de escola também pode ser positiva quando a instituição não oferece mais incentivos para o estudante, levando ao desinteresse. “Na escola anterior, eu sentia falta de um estímulo. Nunca tive nota baixa e sentia que estava tudo bem, mas precisava sair da zona de conforto”, conta o estudante Enzo Fantini, de 16 anos, que cursa o 2.º ano do ensino médio no Colégio Etapa.
Para Edmilson Motta, coordenador-geral da escola, é natural que os colégios deem mais atenção a alunos que estão com mais dificuldades. “Mas a escola não pode fazer com que essa preocupação ofusque a que ela deve ter com aqueles que estão conseguindo levar bem e precisam ter um desafio maior, uma palavra de apoio, um reconhecimento.”
Para Enzo, a mudança de escola significou também uma troca de cidade, do interior de São Paulo para a capital, e dedicação exclusiva ao estudo, longe da família e dos amigos. Mas o estudante não se arrepende e conta animado: “Hoje faço provas todos os dias e também participo de olimpíadas de Química”.
A mudança também incentivou a aluna Beatriz Krause, de 14 anos, que pedia a troca à mãe em busca de uma experiência mais “renovadora”. Fã de História e Português, a menina encontrou no novo colégio mais espaço para desenvolver suas habilidades com texto. “A gente tem aula de Leitura e Interpretação, de Redação, e lê um livro por período”, conta a aluna, que cursa o 9.º ano do Colégio Anglo 21, na zona sul de São Paulo.
O QUE FAZER ANTES DE DECIDIR TROCAR DE COLÉGIO
1) Ouça seu filho Quando a criança é pequena, ela pode não conseguir se expressar claramente com as palavras, mas é possível perceber se não está feliz pelo desinteresse que ela manifesta pela escola ou por seus colegas. Se a criança for maior, pergunte a ela
2) Entenda o problema Veja se o caso é pontual (com uma matéria ou um professor, por exemplo) ou se é crônico (dificuldade de adaptação ou bullying)
3) Tente resolver com o colégio Se existir um problema de fato, aproxime-se da escola para buscar uma solução. Converse com professores, diretores e até pais de colegas. Em relação a notas baixas, é possível que o colégio tenha um plano de acompanhamento mais individualizado
4) Veja a troca como positiva Se a opção for mesmo pela troca de escola, garanta que o processo seja feito com diálogo e tome cuidado para não passar a mensagem de fracasso (acadêmico ou de relacionamento) para a criança. Fale dessa experiência como uma nova oportunidade.
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