A proximidade com o futebol, os games e o celular fizeram com que as bets, plataformas de apostas esportivas online, entrassem no universo de crianças e adolescentes com uma força que preocupa escolas, famílias e especialistas.
O maior risco é a forma como as apostas esportivas são apresentadas, o que atrai fortemente crianças e adolescentes. A publicidade ostensiva online e offline, com influenciadores e até medalhistas olímpicos, durante o jogo de futebol, na camisa dos times, nas redes sociais, normaliza as bets e faz com que pareçam saudáveis e divertidas.
A falta de regulamentação no País, que só agora começa a ser enfrentada, também permite que o público infanto-juvenil fique desprotegido e tenha acesso a uma atividade proibida para menores. O Instituto Jogo Legal, entidade que representa o setor, diz que o problema está nos sites irregulares.
Para Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e da adolescência, as famílias devem ter cuidado com o tom para abordar o problema. “Tem mãe e pai com discurso alarmista para tudo. Aí as bets vão entrar em mais um grupo de coisas que os pais trazem”, afirma.
“Nesses casos, as crianças começam a desenvolver senso de alarme para tudo, com medo do mundo, ou passam a bater de frente e a testar tudo porque não conseguem mais discernir”, acrescenta ele, pesquisador do Instituto Ame Sua Mente.
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Veja dicas de especialistas para lidar com o tema:
- Compartilhe relatos ou histórias de quem teve problemas com apostas, como perdeu muito dinheiro, vício ou efeitos na saúde mental
- Não trate as apostas como algo divertido
- Não discuta pretensas habilidades para se conseguir ganhar mais facilmente
- Fique atento à cultura de apostas de adultos dentro da família, isso também leva a uma naturalização para crianças e adolescentes
- Fale de riscos, mas com equilíbrio e bom senso. Ser alarmista com tudo pode fazer a criança ou adolescente ter medo de tudo ou, por outro lado, querer testar os pais
- Discuta educação financeira e fale do valor do dinheiro, de como ele é ganho e da importância de se poupar o futuro
- Acompanhe de perto as atividades das crianças e adolescentes em celulares e redes sociais
Em nota, o Ministério da Educação (MEC) diz que a educação financeira faz parte da Base Nacional Comum Curricular e diz que as transformações na sociedade com o uso de novas tecnologias são “imprescindíveis para inserção crítica e consciente” e devem ser “incorporados pelas redes de ensino e pelas escolas”. Afirma ainda induzir a abordagem de tais conteúdos a partir de ações como a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) e formação de professores.
Já a pasta da Saúde informa que tem ampliado o atendimento a pessoas com problemas de saúde mental, incluindo o jogo patológico. E diz que foram habilitados mais novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) este ano, sendo 314 para atendimento exclusivo de crianças, adolescentes e jovens.
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