Diretor de felicidade é nova aposta no mercado; veja o que faz e como se especializar

Cursos permitem que profissionais sejam capazes de promover processos no ambiente de trabalho voltados ao bem-estar, em diversos contextos organizacionais

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Foto do author Renata Okumura

Em meio à crescente valorização do bem-estar corporativo, especializações focadas em ações que promovam ambientes mais saudáveis têm ganhado cada vez mais destaque no mercado de trabalho. Uma das atuações envolve o cargo de Chief Happiness Officer (CHO), também conhecido como diretor de felicidade. O objetivo é desenvolver e colocar em prática estratégias que possam contribuir para uma cultura organizacional positiva.

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Para o coordenador do curso de Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Kleber Candioto, a especialização em felicidade ajuda a entender os mecanismos que levam as pessoas a experiências felizes ou a situações que promovam essas experiências felizes.

Candioto destaca ainda a importância de compreender o contexto atual para alcançar um equilíbrio entre o autoconhecimento e as oportunidades oferecidas pelo ambiente. “Um movimento que passa tanto por questões ligadas ao meio ambiente, preocupações de cunho social e de cunho de governança, questões de ESG, e como isso pode favorecer ambientes em que os indivíduos possam buscar essas experiências de bem-estar”, avalia Candioto.

Kleber Candioto, coordenador do curso de Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness da PUCPR. Foto: Divulgação/PUCPR

Aos 27 anos, Guilherme Bernardino está buscando especializações que envolvam a qualidade de vida no ambiente corporativo. Graduado em Recursos Humanos, atuou por um período na área da educação, mas desde o ano passado, tem optado por cursos que o ajudem a se desenvolver profissionalmente nesta área.

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“Depois de concluir uma especialização em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano, eu iniciei o curso de Neurociência, Psicologia positiva e Mindfulness. Os cursos mostram uma nova perspectiva sobre o bem-estar e desenvolvimento humano, principalmente com base em ciência e práticas que de fato fazem a diferença no dia a dia, sobretudo o organizacional que é o meu foco”, disse.

Em janeiro deste ano, iniciou em um novo segmento voltado para Recursos Humanos em uma empresa de terceirização. Segundo ele, um dos desafios é lidar com o encontro de gerações no mercado de trabalho.

“Nossa geração Z, e agora, Alpha, que também está começando a entrar no mercado, têm uma nova visão sobre o que é trabalho e carreira, exigindo mais das empresas: mais qualidade de vida, bem-estar, flexibilidade de horário e tem preferência por trabalhos híbridos e remotos. E as empresas precisam se adaptar. Logo mais, essa será a mão de obra principal disponível no mercado”, acredita Bernardino.

Guilherme Bernardino, aluno do curso de Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness da PUCPR. Foto: Divulgação/PUCPR

Para Milton Marinho, CEO da Avante Desenvolvimento Organizacional, empresa especialista em remuneração estratégica, gestão de desempenho e gestão organizacional, o nome diretoria da felicidade ainda é pouco difundido no Brasil. “Na maioria dos casos, a função está inserida nas áreas de desenvolvimento humano e organizacional ou ainda nas diretorias de cultura e contexto.”

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Conforme o CEO da Avante Desenvolvimento Organizacional, um CHO ou cargo similar pode ganhar R$ 23 mil atuando em companhias de médio porte. Em grandes empresas, o valor pode chegar até R$ 31 mil.

Jelson Oliveira, coordenador do curso de Graduação 4D de Gestão da Felicidade e Projeto de Vida da PUCPR, acredita que a demanda por especialização na área está em crescimento.

Em geral, segundo o professor, a busca pela especialização é feita por pessoas que já estão no mercado de trabalho, de alguma forma, já ligadas a atividades próximas a isso, mas não estão emolduradas nesse novo debate sobre felicidade.

“São pessoas entre 30 e 50 anos, que já tem graduação, estão atuando, e querem agora, de alguma forma, profissionalizar-se mais e se aprofundar nesse novo debate. Nos cursos, também há muitos profissionais que trabalham com Educação Física, Medicina e Psicologia, por exemplo”, avalia.

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Jelson Oliveira coordenador do curso de Graduação 4D de Gestão da Felicidade e Projeto de Vida da PUCPR. Foto: Divulgação/PUCPR

Foco no bem-estar corporativo

Para Eliane Ramos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), o profissional de felicidade deve estar atento aos fatores psicossociais no trabalho que afetam o bem-estar das pessoas.

A partir de maio de 2025, empresas no Brasil serão obrigadas a incluir avaliações de riscos psicossociais na gestão de Segurança e Saúde no Trabalho. A obrigatoriedade faz parte da atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-01) do Ministério do Trabalho e Emprego, alterada pela Portaria 1.419 de 27 de agosto de 2024.

“Isso estará muito presente quando a NR-01 entrar em vigor. Conteúdo das tarefas, horário de trabalho e flexibilidade. Todo mundo trabalhando sob pressão, buscando resultados. A pessoa observa se pode crescer ou não dentro da empresa. O salário pode ser um grande desmotivador se estiver abaixo do esperado. Tudo isso afeta o trabalhador”, diz Eliane.

Alessandra Becker, professora convidada e curadora da certificação Chief Happiness Officer do Instituto Feliciência. Foto: Arquivo pessoal/Alessandra Becker

“Durante a pandemia da covid-19, os empregadores tiveram um olhar mais focado no bem-estar dos colaboradores, quer seja por pauta de assédio ou questão mental. E, agora, com movimentos políticos, isso tende a aumentar”, concorda Alessandra Becker, professora convidada e curadora da certificação Chief Happiness Officer do Instituto Feliciência.

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Fundado em 2015, o centro de educação corporativa no Brasil é focado em áreas como Felicidade, Bem-Estar, Saúde Mental, Liderança, Sustentabilidade e ESG. Desde 2020, é ministrado o curso de certificação pelo instituto, com uma abordagem baseada em evidências científicas.

Segundo Alessandra, os gestores precisam entender que isso não é opcional, mas que vai fazer parte de algo mais estratégico para que as pessoas não adoeçam e para atrair e manter bons talentos na empresa.

“Como se olha, por exemplo, para os domínios mais vulneráveis. No curso, trazemos um olhar bem amplo e estratégico e depois fazemos um mergulho específico sobre o que compõe uma cultura positiva, o que representa o pilar de um líder positivo para poder instrumentalizar os alunos a saírem com um plano de ação a ser colocado em prática dentro de uma empresa”, afirma ela.

Para a professora do Instituto Feliciência, a adoção de estratégias de bem-estar nas organizações requer convencer o líder principal, alinhar lideranças sobre a relevância e viabilidade das ações, garantir recursos para implementação e diagnóstico, além de obter a confiança dos funcionários sobre as ações a serem colocadas em prática.

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Denize Savi, CHO da Chilli Beans. Foto: Divulgação/Chilli Beans

Jornada de transformação

Natural do Paraná, Denize Savi, de 45 anos, assumiu há dois anos o cargo de Chief Happiness Officer da Chilli Beans. Formada em jornalismo há mais de 25 anos, ela é especialista em Ciência da Felicidade com MBA em Psicologia Positiva, Neurociência e Comportamento.

A ação da empresa envolve o monitoramento contínuo do bem-estar e da felicidade dentro do ambiente de trabalho. “Um mapeamento do cenário, com embasamento científico, com reflexões mensais baseadas em indicadores que envolvem muito como a pessoa está se sentindo naquele ambiente. Neste contexto, são avaliadas seis dimensões do comportamento humano”, disse.

Desta forma, é possível monitorar e saber qual demanda está mais sensível e necessita de atuação imediata. “Mensalmente, a gente também se reúne com os líderes para saber onde há uma oportunidade de trabalhar melhor o engajamento desse time”, disse.

A empresa, segundo ela, também valoriza o fortalecimento dos relacionamentos e promove momentos de descontração, como happy hours e comemorações de metas atingidas. “A gente reúne todo mundo, dá bonificação, todo mundo comemora, e é uma festa mesmo”, acrescenta ela.

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