Ensinar Língua Portuguesa, Matemática e Geografia é só uma parte do papel da escola. Em seus primeiros anos, as crianças são preparadas para serem boas cidadãs – e isso inclui a sustentabilidade em seu sentido amplo, que abarca uso consciente de água, descarte correto do lixo, reciclagem, preservação das florestas, agricultura responsável e mais. Por isso, escolas paulistanas vêm se esforçando para se alinharem aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), a chamada Agenda 2030.
“A sustentabilidade é um conceito que não está dissociado da educação”, afirma Ana Cecília Chaves Arruda, coordenadora de programas e projetos do Cenpec, ONG que atua na promoção da equidade e qualidade da educação básica no Brasil.
Incluir atividades sustentáveis no currículo escolar é um trabalho gradual. O Colégio Santa Cruz, por exemplo, iniciou em 2012 seu primeiro comitê de sustentabilidade – hoje, conta com telhados verdes, placas solares, pisos drenantes (que substituíram o asfalto), coleta seletiva e minhocário. “O principal conselho que tenho a dar para outras escolas é: tem de começar aos poucos; não adianta querer fazer tudo de uma vez”, diz Guilherme Taunay, engenheiro responsável pelo câmpus.
O Colégio Franciscano Pio XII também abraçou o tema e o aborda diariamente com seus alunos. A escola tem uma trilha ecológica, área de 179 mil m² com trechos de Mata Atlântica preservados. Lá, os estudantes realizam atividades relacionadas à vegetação, ao solo e à preservação do meio ambiente, como parte de Biologia e Ciências.
Mas nem todas as ações são visíveis para quem passeia pela escola – é preciso vê-la de cima para observar os enormes painéis solares. “É energia suficiente para abastecer 120 casas com um consumo médio de 165 kWh por mês”, diz a diretora Fátima Lopes dos Santos Miranda. Em sala de aula, os alunos estudam o uso consciente de energia elétrica, com a ajuda de maquetes funcionais, cartazes e experimentos. Em 2022, estudantes do 8.º e 9.º anos também participaram da Olimpíada Nacional de Eficiência Energética.
Até cadernos, agendas, livros didáticos e paradidáticos, informativos e matrículas em papel estão ficando para um passado pré-agenda 2030. “Os alunos nas séries iniciais ainda precisam do papel, porque é importante que eles aprendam a escrita, a caligrafia”, diz Erik Hörner, diretor pedagógico e administrativo do Colégio Humboldt, em São Paulo. Mas nessa escola alunos a partir do 7.º ano já deram adeus ao hábito de ter um caderno para cada disciplina.
O material didático agora é o Chromebook, um notebook leve, resistente e mais barato do que os laptops de mercado. “É um notebook desenhado para o ambiente escolar”, esclarece Hörner. “Ele possui licença escolar e um sistema que nos permite acompanhar o uso dos alunos. Eu posso bloquear o acesso à internet nas provas.”
O Chromebook ainda compila dados de uso que, quando analisados pela equipe de Tecnologia de Informação do colégio, permitem que a equipe faça atualizações e crie soluções para facilitar a vida dos estudantes. Todo esse esforço, que incluiu a formação de professores, rendeu à instituição o selo de Escola de Referência Google for Education.
Leia também:
E a mudança não se limita às instituições particulares. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Vinicius de Moraes, por exemplo, os alunos também se engajam em temas sustentáveis. “Algumas ações envolvem toda a escola, como os contêineres de material reciclável. Desde cedo, os estudantes aprendem o descarte correto do lixo”, diz o diretor, Moisés Basilio Leal.
Para Ana Cecília, do Cenpec, “ações sustentáveis que partem da escola precisam ser contínuas e construídas com toda a comunidade escolar, para que não sejam isoladas”. “É também importante lembrar que esse trabalho alinhado aos objetivos de desenvolvimento sustentável contribui diretamente para o enfrentamento das desigualdades, uma questão estrutural da realidade brasileira.”
Faculdades investem em reciclagem, mas o digital vem avançando
A transformação digital inclui o ensino superior. Desde 2013, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) vinha digitalizando documentos para que o departamento administrativo não dependesse mais do papel. Após a pandemia de covid-19, porém, a faculdade constatou uma redução significativa no uso de papel.
Para se ter ideia, antes de 2020, o centro de reciclagem da instituição universitária recebia 39 mil quilos de descarte por ano. Agora, o número caiu para 27 mil.
“A contratação de funcionários, por exemplo, precisou ser totalmente digitalizada”, diz Regina Mazon, gerente de administração interna da ESPM. “Há um volume enorme de documentos, como RG, CPF e carteira de trabalho. Todos os funcionários que foram registrados a partir de março de 2020 já tiveram todo esse processo digitalizado.”
Já a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), também em São Paulo, mantém um programa de reciclagem, seguindo o objetivo de desenvolvimento sustentável número 12 da ONU. Em 2022, a faculdade reciclou 7 toneladas e 430 quilos de papel, além de 960 quilos de papelão. Segundo a Ciclopel, empresa responsável pela coleta do lixo, esse número corresponde à preservação de 293 metros de árvores.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.