Da dislexia à discalculia, as várias formas do Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp) mobilizam pessoas de todo País a buscar não só um diagnóstico específico para essas condições, mas também formas adequadas de tratamento. Não à toa, uma a cada três famílias que têm membros com TEAp viajam, até para outros Estados, em busca de avaliações médicas precisas, segundo estudo do Instituto ABCD, em parceria com o Cisco do Brasil e o Instituto IT Mídia.
O instituto estima que até dez milhões de brasileiros convivem com algum transtorno de aprendizagem, embora a maioria não saiba, o que pode atrapalhar a vida escolar e social. Para tirar dúvidas sobre os sinais de que a criança têm alguma dessas condições e como buscar o diagnóstico, o Estadão preparou uma série de perguntas e respostas sobre o assunto:
1. Quais são os tipos de transtorno de aprendizagem?
Os transtornos de aprendizagem são divididos em três tipos principais, conforme as dificuldades dominantes. São eles a dislexia, em que há maior prejuízo relacionado à leitura – em precisão, velocidade, fluência e compreensão leitora; a discalculia, quando há maior comprometimento em matemática, com prejuízos no senso numérico, na memorização de fatos aritméticos, na precisão em cálculos e no raciocínio lógico; e a disortografia, em que há prejuízo acentuado na expressão escrita: ortografia, gramática, pontuação e organização textual.
2. Como identificar os sinais de transtorno de aprendizagem na criança?
Presidente do Instituto ABCD e fonoaudióloga, Juliana Amorina ressalta que o Transtorno Específico de Aprendizagem está relacionado a alterações nos componentes linguísticos.
Isso pode se refletir com trocas na fala, dificuldades com rimas, parlendas ou tarefas desenvolvidas na educação infantil. Também é preciso atenção se a pessoa não consegue identificar palavras parecidas ou letras, principalmente as presentes no seu nome.
“É algo persistente. A criança com o transtorno, mesmo com recursos e estímulos, é mais difícil de aprender”, completa. Nesta segunda-feira, 4, no lançamento da pesquisa da instituição, um recurso para triagem dos sinais dos transtornos será adicionado ao aplicativo EduEdu, diz Juliana, para ajudar pais e professores.
3. Qual profissional é o mais indicado para fazer o diagnóstico?
Não é apenas o médico quem pode fazer o encaminhamento da criança, mas um profissional é o único que pode dar o diagnóstico. O psicólogo ou professor em sala de aula pode solicitar avaliação neuropsicológica que mostrará os sinais do TEAp. O pai pode levar o filho ainda a um pediatra.
A partir da análise dessas avaliações, o médico poderá dar ou não o CID da criança para, enfim, ter acesso ao tratamento e a alguns direitos que lhes são garantidos, como currículo adaptado e prova diferenciada em concursos públicos, por exemplo.
Conforme Ana Márcia Guimarães Alves, pediatra especialista em desenvolvimento infantil, a Sociedade Brasileira de Pediatria pleiteia a oficialização da área de pediatria do desenvolvimento e comportamento para treinar mais pediatras para a detecção precoce de transtorno de aprendizagem, entre outros transtornos do neurodesenvolvimento e a subsequente reabilitação no tempo adequado.
4. Qual impacto positivo pode o tratamento precoce proporcionar à criança?
A pediatra Ana Márcia Guimarães afirma que pode variar, a depender do grau do TEAp, que pode ser leve, moderado ou grave. Com isso, o impacto também será diferente.
A especialista pontua que, a depender do grau, se o tratamento for iniciado precocemente, a criança consegue passar pelo processo de alfabetização acompanhando seus pares. “Assim, evitando que a dificuldade cause outros problemas, como depressão e abandono escolar”, alerta.
5. Há caminho para conseguir atendimento gratuito no Sistema Único de Saúde?
O atendimento no SUS para os transtornos ainda é muito insuficiente do ponto de vista dos pais e especialistas. Porém, vale a pena tentar, uma vez que a estrutura pode ser diferente dependendo da cidade onde se esteja. O ABCD dá dicas para que se separe a identidade da criança e do responsável, comprovante de residência e o cartão do SUS.
Além disso, é importante conseguir um encaminhamento feito pela escola ou relatório escolar recente para apresentar na Unidade Básica de Saúde (UBS), também conhecido como posto de saúde ou postinho mais próximo.
6. E quem deve ser acionado?
Se você não souber a qual o posto de saúde ir, ligue para 156 e pergunte. Se possível, quando for ao local, agende consulta com pediatra ou médico da família. Na conversa, diga todas as dificuldades que o filho tem para aprender, falar, ler, identificar os números. Conte sobre exames de visão ou audição já feitos. Se alguém na família apresentar dificuldades semelhantes, também informe. A partir disso, o médico deve encaminhar a criança para exames específicos.
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