Alunos do ensino médio no Brasil sabem o que é inflação? Veja as perguntas que Stanford fez a eles

Pesquisa mede a educação financeira de estudantes em escolas públicas e privadas do País; maioria não soube responder questões sobre juros

PUBLICIDADE

Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Quase 43% dos alunos de mais de 15 anos no Brasil não entendem o que é inflação, mostra estudo realizado por dois professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Os adolescentes não souberam responder se poderiam “comprar mais, menos ou o mesmo”, caso sua renda dobrasse em dez anos e, ao mesmo tempo, os preços dobrassem também.

PUBLICIDADE

O estudo foi aplicado para uma amostra de estudantes de escolas públicas e particulares do País, usando metodologia do Banco Mundial que avalia o letramento financeiro das populações.

O conceito de juros também não é conhecido por 53% dos jovens brasileiros. Eles não souberam calcular juros de 3% sobre R$ 100. E só 24,53% dos alunos entendem perfeitamente a lógica de juros compostos – de que juros subsequentes incidem sobre um valor acumulado.

Apesar de ruins, os resultados são um pouco melhores dos que apareceram no Pisa, a prova feita pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). São perguntas diferentes, mas os resultados da avaliação internacional, divulgados este ano, mostraram que 71,7% dos brasileiros de 15 anos não conseguem fazer os cálculos de um orçamento.

Publicidade

A maioria dos jovens também não entende como funcionam os empréstimos nem sabe analisar extratos bancários.

Veja as perguntas do estudo

  • Tema: Inflação

Suponha que nos próximos 10 anos os preços das coisas que você compra dobrem. Se sua renda também dobrar você poderá comprar menos do que pode comprar hoje, o mesmo que pode comprar hoje ou mais do que pode comprar hoje?

Menos

Publicidade

O mesmo

Mais

Não sei

Recusou-se a responder

Publicidade

Meninas têm desempenho pior em educação financeira Foto: Divulgação/Governo SP
  • Tema: Numeracia (juros)

Suponha que você precise pedir emprestado 100 reais. Qual é o menor valor a pagar: 105 reais ou 100 reais mais três por cento?

105 reais

100 reais mais três por cento

Publicidade

Não sei

Recusou-se a responder

  • Tema: Juros compostos

Suponha que você coloque dinheiro no banco por dois anos e o banco concorde em adicionar quinze por cento ao ano à sua conta. O banco adicionará mais dinheiro na sua conta no segundo ano do que no primeiro ou adicionará a mesma quantia de dinheiro nos dois anos?

Publicidade

Mais

O mesmo

Entrevistado tentou responder, mas não conseguiu

Recusou-se a responder

Publicidade

  • Tema: Juros compostos

Suponha que você tenha 100 reais em uma conta poupança e o banco adicione 10% ao ano à conta. Quanto dinheiro você teria na conta depois de cinco anos se não retirasse nenhum dinheiro da conta?

Mais de 150 reais

Exatamente 150 reais

Publicidade

Menos de 150 reais

Entrevistado tentou responder, mas não conseguiu

Recusou-se a responder

Segundo o professor da Faculdade de Educação de Stanford e um dos responsáveis pela pesquisa, Guilherme Lichand, a diferença para os resultados da prova internacional pode estar na dificuldade de leitura dos brasileiros. “No Pisa, eles precisam ler e escrever, o que infelizmente é uma dificuldade e eles acabam errando mais as respostas por causa disso”, explica.

Publicidade

As entrevistas da pesquisa de Stanford foram feitas entre agosto e setembro, por meio de um tablet, com mediação de entrevistadores de campo, responsáveis pela leitura e preenchimento do questionário. Elas não exigiam cálculos complexos nem uso de calculadora.

Para Lichand, o resultado é preocupante principalmente em um cenário de apostas online, que invadiram o universo dos adolescentes, e também por causa do Programa Pé de Meia. O programa federal, de incentivo para estudantes do ensino médio, paga R$ 200 mensais, que podem ser sacados ou mantidos na poupança. “O letramento financeiro é importante para essa decisão.”

O estudo faz parte do Equidade.info, plataforma financiada por Stanford que tem coletado dados nas escolas brasileiras a cada 45 dias sobre assuntos diversos, como violência, estrutura, inclusão, entre outros. O trabalho sobre educação financeira teve o apoio também da Fundação Itaú.

A professora do Stanford Institute for Economic Policy Research Annamaria Lusardi, também coordenadora da pesquisa, afirma que o déficit em educação financeira ainda é um problema mundial.

Ela é responsável pelo estudo do Banco Mundial, feito em 2015, cuja metodologia foi replicada na pesquisa agora com os alunos brasileiros.

A pesquisa ouviu na época 150 mil adultos em mais de 140 países e os resultados mostraram que só 33% deles podiam ser considerados alfabetizados financeiramente. São pessoas que conseguem responder corretamente a perguntas básicas sobre taxas de juros, inflação, juros compostos e diversificação de risco.

“A alfabetização financeira está ligada a uma variedade de comportamentos, desde a gestão financeira de curto prazo até a capacidade de tomar decisões inteligentes no longo prazo, tornando as pessoas mais resilientes e seguras financeiramente”, afirma Annamaria.

Segundo o estudo do Equidade.info, 40,36% dos alunos brasileiros do ensino médio são financeiramente letrados. Para ter esse resultado, eles precisavam acertar a pergunta sobre inflação, outra sobre juros e uma das duas que falavam sobre juros compostos.

As diferenças de gênero, que aparecem também em avaliações de Matemática, se repetem na educação financeira. Entre as meninas, 31,88% são financeiramente letradas ante 49,37% dos meninos. Pesquisadores têm chamado à atenção para falta de incentivos culturais, familiares e escolares para que meninas se interessem pela Matemática.

A diferença também aparece entre alunos de escolas públicas e privadas. A maior disparidade entre as redes ocorre no tema inflação: 73,92% dos alunos da rede particular acertam a questão, enquanto são 53,89% nas públicas.

A educação financeira faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que dá as diretrizes para os currículos das escolas do País. Mesmo assim, apenas 59% dos professores afirmaram incluir o tema em suas aulas.