Quando a ex-professora Priscila Araújo decidiu abandonar sua carreira para se dedicar integralmente à maternidade, descobriu na confeitaria saudável e inclusiva uma nova forma de conquistar sua independência financeira. “Minha motivação era ter uma renda própria, algo que fosse fruto do meu trabalho”, compartilha a empreendedora.
O caminho não foi fácil, especialmente quando se tratava do investimento inicial necessário para dar vida ao seu negócio. No entanto, com cursos de capacitação e o suporte de seu marido, Priscila conseguiu transformar sua paixão em uma fonte de renda próspera.
“Ainda não posso dizer que vivo do meu trabalho, mas posso afirmar que tenho autonomia para cumprir com muitos compromissos sem total dependência dos outros”, afirma.
Em um contexto em que a flexibilidade e a autonomia financeira são cada vez mais buscadas, inúmeras donas de casa no Brasil veem uma alternativa promissora no empreendedorismo para aumentar a renda familiar.
Esse movimento é corroborado por dados recentes da Rede Mulher Empreendedora, que revelam uma tendência interessante: 55% das mulheres indicaram a necessidade como principal motivador para iniciar seus negócios, muitas delas impulsionadas pelas circunstâncias que sucederam à maternidade.
Essa realidade ressalta não apenas a relevância do empreendedorismo feminino doméstico como estratégia de empoderamento e geração de renda, mas também a importância de criar condições favoráveis que permitam às mulheres explorar suas capacidades empreendedoras, equilibrando suas responsabilidades familiares com a realização profissional.
“Se você olhar do ponto de vista de impacto econômico, isso é fundamental também para autonomia e poder de decisão dessas mulheres, porque uma mulher só consegue ter uma independência real se ela também tem independência econômica”, explica Maria Rita Spina, fundadora do movimento Mulheres Investidoras Anjo (MIA) e professora de Investimento e Inovação na Fundação Getúlio Vargas.
Segundo a especialista, o empreendedorismo é uma ótima alternativa porque oferece flexibilidade e a oportunidade de explorar competências, permitindo às mulheres mostrar suas habilidades ao mundo, alcançar reconhecimento e melhorar a situação financeira familiar.
“Isso traz uma autoestima e uma valorização enorme dessas mulheres, além dela conseguir potencializar esse ganho financeiro com as necessidades específicas da casa e da família e da estrutura que ela tá construindo ali.”
Além disso, ela ressalta a possibilidade de crescimento, porque mesmo negócios que começam pequenos podem se expandir significativamente, oferecendo um potencial de crescimento que nem sempre é encontrado em carreiras tradicionais.
Importância da capacitação
Bárbara Gonçalves mantém um equilíbrio entre seu emprego formal e o artesanato, uma paixão que começou como um hobby para criar presentes personalizados de crochê para amigos e familiares.
Sua jornada para a profissionalização no artesanato foi impulsionada por uma capacitação que abordou o uso de mídias sociais, precificação e técnicas de venda. O amor pelo artesanato e o desejo de trabalhar com algo que lhe trouxesse não apenas renda, mas também satisfação pessoal, foram suas principais motivações.
O interesse de uma colega em comprar uma de suas peças foi o ponto de virada para Bárbara, que viu aí um potencial para transformar sua paixão em um negócio viável. Esse incentivo a levou a investir ainda mais no desenvolvimento profissional.
“Eu achei incrível quando comecei a receber encomendas de pessoas que eu não conhecia, que vieram por indicação ou que viram algum anúncio meu patrocinado nas redes sociais”, conta, ao mencionar a importância da profissionalização do seu negócio.”
Maria Rita Spina, especialista em empreendedorismo feminino, destaca a importância da existência de comunidades e redes de apoio em todo o Brasil, incluindo a Rede Mulher Empreendedora e hubs de inovação, cruciais para o desenvolvimento empresarial das mulheres.
“Eu acho que existe muito desse tipo de acesso que a mulher precisa fazer, que é sair do espaço reservado da casa, procurar isso, perguntar, ir atrás e começar a participar, seja através de grupos de WhatsApp ou programas mais estruturados”, diz. “Ela tem que olhar para fora e encontrar parceiros de qualidade que tragam tanto essas qualificações técnicas quanto suporte emocional e conscientização do seu papel como empreendedora”, conclui Spina.
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