Estudo que analisou as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre 2013 e 2021 revela uma melhora no desempenho e na competitividade dos estudantes do Nordeste em relação ao restante do País. Em nove anos, as médias dos alunos da região tornaram-se as segundas melhores do Brasil, ficando atrás apenas das do Sudeste.
Em 2013, a média dos estudantes nordestinos era de 493 pontos, acima somente da dos alunos da região Norte. Mas, ela passou a subir e ultrapassou o desempenho registrado para estudantes do Sul e do Centro-Oeste e se consolidou apenas atrás do Sudeste em 2021, com 528 pontos.
Os resultados são de um estudo inédito feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Instituto Unibanco.
O trabalho também tabulou ao longo dos anos as notas com as quais os estudantes conseguiram ser aprovados em cursos mais e menos competitivos no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC), que é hoje o maior vestibular do País.
Os nordestinos se destacam ainda mais na competitividade para ingressar no ensino superior. Em 2021, eles aparecem com 18% de chances de estarem entre as notas que permitem conseguir uma vaga nos cursos mais concorridos, como Medicina e Engenharias. É o maior percentual; Sudeste tem 17%. Segundo o estudo, esse grupo tinha um resultado acima de 619 pontos no Enem, numa escala de 0 a 1000.
Para o coordenador de inovação em políticas do Instituto Unibanco, Caio Callegari, os resultados refletem políticas continuadas de investimento em educação, com formação de professores, infraestrutura e ações pedagógicas.
Estados como Ceará e Pernambuco, por exemplo, têm se destacado ao longo dos últimos anos em avaliações da educação básica, e serviram de exemplo para outros na região. Além da cearense Sobral, que se tornou conhecida até internacionalmente, diversas cidades nordestinas têm tido resultados expressivos em políticas efetivas de alfabetização das crianças.
E ainda colégio particulares de ponta no Ceará já têm preparação específica para determinados vestibulares como o do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), por exemplo. O Estado do ministro da Educação, Camilo Santana, é a origem de mais de 40% dos alunos aprovados no concorrido vestibular do ITA. Por causa disso, o ministro tem trabalhado para a abertura de uma unidade da instituição universitária em Fortaleza.
Já a região Norte registra os mais baixos resultados, tanto em notas quanto de competitividade dos estudantes para uma vaga no ensino superior. Os Estados da região tradicionalmente têm pior desempenho em avaliações educacionais, além de ter menos crianças em creche e na pré-escola, baixa escolaridade média da população adulta e mais analfabetos.
A pesquisa que analisou as notas do Enem também mostrou que alunos pretos, pardos e indígenas se saem pior que brancos e amarelos mesmo estudando em escolas particulares e com nível socioeconômico parecido. A desvantagem racial aparece no desempenho na prova e também nas chances para conseguir uma vaga no ensino superior.
Enquanto a probabilidade de um aluno branco da rede particular estar entre as notas mais competitivas do Enem é de 33%, a de um estudante preto, pardo ou indígena da rede pública é de 7%.
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