Enem, Fuvest e Provão Paulista: como se preparar e como escolher os vestibulares

Egressos do ensino médio tiveram trajetória escolar afetada pela pandemia e o grande desafio é administrar a emoção neste momento

PUBLICIDADE

Por Hellen Cerqueira

Faltam pouco mais de dois meses para a aplicação dos principais vestibulares do País, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a Fuvest, vestibular da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com o Ministério da Educação, há 3,9 milhões de estudantes inscritos no Enem 2023 – deste total, mais de 40% têm entre 17 e 18 anos, ou seja, são oriundos do ensino médio. O número total de inscritos para a Fuvest 2024 ainda não está definido, já que as inscrições vão até o dia 6 de outubro. Mas, em 2023, 104 mil pessoas concorreram às cerca de 11 mil vagas.

PUBLICIDADE

Apesar de possuírem dinâmicas diferentes, Fuvest e Enem são exames que cobram conteúdo, exigem que o estudante tenha certo domínio do assunto abordado.

Mas, para ter um bom resultado nesses vestibulares, não basta “apenas” dominar o conhecimento teórico, é preciso entender a dinâmica das provas de forma estratégica – como o peso de cada área do conhecimento na pontuação final, a nota de corte para o curso de interesse, o tempo total de prova, etc. Nesse caso, é importante pesquisar os detalhes de cada exame e, para quem ainda está no primeiro ou no segundo ano do ensino médio, até mesmo participar do vestibular desejado como treineiro.

A poucas semanas dos dois principais vestibulares do País, é a hora de reunir dicas e concentrar estudos e esforços  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Para Guilherme Lloret, estudante de Engenharia de Produção na Escola Politécnica (Poli-USP) e ex-aluno do Colégio Bandeirantes, a confiança foi o grande diferencial para conseguir uma boa pontuação na Fuvest.

Publicidade

“Se estou confiante, naturalmente meu desempenho é melhor. Às vezes, eu até sabia o conteúdo, mas se tinha alguma insegurança acerca dele, a chance de errar era muito maior. Só que, óbvio, eu não vou ficar confiante à toa. Então, eu ganhava essa confiança estudando”, afirma.

O que mais ajudou Guilherme em termos de confiança foi fazer as provas anteriores em casa, como se fosse um simulado. “Não tem nada mais fiel ao vestibular do que o próprio vestibular”.

Como queria Poli, o estudo do jovem foi focado na Fuvest. Nas férias de julho, fez seis provas anteriores. Mas também fez o Enem e prestou os vestibulares da Unicamp e da Unesp, todos com treino à exaustão de provas anteriores.

“Acho que refazer os vestibulares anteriores tem um peso muito maior do que quantificar o estudo por horas. Já rendi muito estudando poucas horas e já rendi pouco estudando muitas horas. Outra coisa muito importante é separar um tempo para estudar e outro para descansar, sem culpa. Se não for assim, você fica estudando cansado e depois não consegue descansar porque está pensando no conteúdo que deveria ter estudado”.

Publicidade

No Colégio Bandeirantes, os alunos do terceiro ano realizam diversos simulados e listas de revisão de conteúdo e podem participar de maratonas de estudo – um tipo de aula especial na qual os professores de determinada matéria se reúnem para tirar as principais dúvidas dos estudantes e fomentar a troca de conhecimento. Além desse suporte teórico, o colégio ajuda os alunos a olharem para o Enem e para a Fuvest de forma mais estratégica, a partir dos objetivos acadêmicos de cada um.

“Dependendo do curso e da instituição [de ensino superior], haverá um peso diferente para cada área do conhecimento do Enem. Então, buscamos oferecer um preparo estratégico em relação a conhecer a composição dos processos seletivos, o peso de cada componente”, explica Vanessa Passarelli, coordenadora de Futuro e Carreira do Colégio Bandeirantes.

Saúde mental deve ser uma prioridade neste período

Os egressos do ensino médio que vão enfrentar a temporada de vestibulares neste ano tiveram a trajetória escolar afetada pela pandemia. Para esse grupo, organizar o tempo com calma e administrar o mix de emoções causadas pelo vestibular pode ser um grande desafio.

“Eles foram afastados da escola, privados de muitas competências socioemocionais. Então, o colégio e a família precisam andar juntos para oferecer o apoio necessário a esses alunos”, afirma Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Franciscano Pio XII.

Publicidade

Ter hobbies, praticar atividade física, definir um tempo para descansar e receber apoio de familiares, amigos e profissionais são algumas atitudes que ajudam a manter a saúde mental estável em um momento tão atribulado.

Mas, não dá para fugir: algum esforço extra é necessário para conquistar uma vaga na universidade. A rotina de balada, por exemplo, pode ter de ser um pouquinho afetada. Maratonar séries também pode sair da lista de prioridades.

No início do ano, Gabriel Foja Roncati, aluno do terceiro ano do ensino médio do Colégio Miguel de Cervantes, decidiu redirecionar o tempo livre aos estudos, para conseguir alcançar o seu grande objetivo acadêmico: estudar economia na USP.

Gabriel Foja, do Colégio Miguel de Cervantes: ‘É algo que exige determinação’ Foto: Arquivo Colégio Miguel de Cervantes

“A sexta-feira e o sábado de manhã eram dias que eu usava para socializar, ir para festas e sair com meus amigos. Então, decidi sair menos nesse período e me dedicar mais aos estudos. Lógico que não cortei totalmente para não prejudicar a minha saúde mental, mas percebi uma evolução significativa no meu desempenho durante os simulados oferecidos pelo colégio”, conta. “Acredito que com essa progressão constante, no final do ano vou conseguir estar na lista de aprovados da Fuvest. É algo que exige determinação, mas eu tenho o suporte necessário para chegar até lá”.

Publicidade

Cursando o último semestre de Direito na USP, a ex-aluna do Colégio Rio Branco Giovana Cruz sente que ter feito Fuvest e, consequentemente, entrado na instituição teve um peso importante para a sua inserção no mercado de trabalho.

No ano que finalizou o ensino médio, prestou o vestibular da PUC, o Enem e a Fuvest. Entrou na PUC e, com a nota do Enem, conseguiria cursar Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também foi aprovada em Administração Pública na Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Na Fuvest, no entanto, ficou um ponto abaixo da nota de corte da primeira fase.

Decidiu fazer um ano de cursinho e, dessa vez, conseguiu uma boa colocação na Fuvest para o curso de Direito, além de ser aprovada na PUC para o mesmo curso e em economia na Unicamp.

“Priorizei o reconhecimento no mercado e a história da instituição. Os professores são referência em cada área de atuação do direito, e isso faz muita diferença na educação. Nosso ex-diretor, por exemplo, é ministro do TSE [Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto] e ainda leciona na USP. Temos aula com o Ricardo Lewandowski, com o Alexandre de Moraes [ministros do Superior Tribunal Federal, STF] e outros professores advogados que realmente são referência em cada área”, afirma.

Publicidade

Hoje, perto de finalizar a graduação, Giovana está bastante satisfeita com a vida profissional. Já estagiou em escritórios de advocacia e no Tribunal de Justiça de São Paulo e, atualmente, é estagiária na ARTESP (Agência de Transporte do Estado de São Paulo),

“Acredito que a faculdade teve, sim, um peso importante nisso. Afinal, o primeiro critério que as empresas, escritórios e até mesmo órgãos públicos avaliam é a nossa formação”.

Novos horizontes

Na Escola Móbile, por exemplo, a busca por esses dois vestibulares é alta: 80% dos alunos do ensino médio prestam Fuvest e 75% fazem o Enem. “A maioria dos alunos estão muito focados em São Paulo. Então, a Fuvest acaba sendo a maior preocupação deles”, avalia Rodrigo Mendes, diretor do ensino médio da instituição.

Por lá, o Enem costuma ser a escolha principal dos alunos que desejam entrar em instituições fora do País. De 2020 a 2022, seis alunos saíram do ensino médio direto para o exterior utilizando a pontuação do Enem – dois alunos foram para Portugal, na Universidade de Lisboa e na Universidade de Algarve, e quatro alunos para o Canadá, na University of Toronto, na Toronto Metropolitan University e na University of British Columbia.

Publicidade

Esse é o caso do Julio Escolastico Siniscalchi, formado na Móbile em 2020 e estudante de Estudos Asiáticos na Universidade de Lisboa.

“Meu interesse maior durante o ensino médio foi pela História, mas sentia que todos os cursos de ensino superior focavam muito na história Ocidental, especialmente americana e Europa Ocidental, e negligenciavam algumas regiões que me interessavam muito mais, como o Médio Oriente”, lembra.

Vasculhando o site da Universidade de Lisboa, Julio encontrou o curso Estudos Asiáticos, algo que não conhecia e correspondia muito aos seus interesses. Além da história asiática, o curso foca em temas como política, cultura e língua. O fato de não ter nenhuma oferta semelhante em São Paulo aumentou o interesse do jovem por estudar em Portugal.

“Fiz a candidatura para a Universidade de Lisboa no início de 2021, já tendo concluído o ensino médio e com a minha nota do Enem. Entrei logo na primeira fase, sem nenhuma dificuldade”, lembra.

Publicidade

Atualmente no último ano da licenciatura, Julio teve oportunidade de participar de eventos como a Semana Cultural Asiática e o Thai Fest, da Embaixada da Tailândia. “Foram experiências muito úteis na minha formação. Também estou na expectativa de, após concluir o bacharelado, conseguir uma bolsa de estudos de um ano na China, para continuar desenvolvendo meus estudos antes de começar um mestrado”.

Poder de escolha

Atingir uma boa pontuação no Enem e na Fuvest dá ao aluno a possibilidade de escolher a instituição de ensino superior que melhor atende seus objetivos acadêmicos e profissionais – e não ficar restrito apenas ao “que deu para passar”.

Com a nota que conseguiu na prova, Nathan Pravatti Barcellos de Oliveira, egresso do Colégio Rio Branco, pôde escolher entre cursar Engenharia de Biossistemas ou Engenharia Ambiental na USP, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na Unesp, ou Biotecnologia na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

“Demorei a definir exatamente o curso que gostaria de fazer, mas sabia que seria algo voltado para a área biológica, da saúde. No fim, percebi que o curso que mais me atraía era o de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, pois tinha uma grade voltada para biologia e para exatas, duas características irão abrir muitas possibilidades profissionais no futuro”, afirma.

Publicidade

Estudioso, o ex-aluno do Colégio Franciscano Pio XII Eduardo Pinheiro também começou 2023 com a chance de escolher entre boas opções. A nota da Fuvest lhe garantiu uma vaga no curso de Marketing. Pelo Enem, conseguiu pontuação para cursar Administração no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e na Universidade de Lisboa. A decisão recaiu sobre o que parece mais alinhado à vocação.

“Até setembro do ano passado, tinha dúvidas sobre qual carreira seguir. Fiz um teste vocacional com psicólogo e fiquei entre Administração e Marketing. Mas já estava mais para o lado do Marketing mesmo, porque tenho tios que trabalham na área e desde pequeno acompanhava a rotina deles”, conta.

Notas permitiram a Eduardo ficar entre Lisboa e São Paulo; e a escolha foi pela USP Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

O dia a dia das aulas, tem confirmado sua escolha pelo curso e pela universidade. “Vejo o reconhecimento que a USP tem, a qualificação dos professores. Além do fato de meu pai também ter feito USP. Fiquei muito tenso e ansioso enquanto esperava os resultados dos vestibulares, até perdi peso. Mas quando veio a aprovação foi um grande alívio.”

Provão Paulista

O vestibular da Fuvest 2024, principal porta de entrada à Universidade de São Paulo (USP), traz duas novidades importantes: o Provão Paulista e uma mudança no número de cursos agrupados em uma mesma carreira.

O Provão Paulista é uma forma de avaliação seriada, que será aplicada pela Secretaria Estadual de Educação, aos estudantes do 1º, 2º e 3º anos das escolas públicas estaduais de ensino médio. Nesse programa, a USP oferecerá 1.500 vagas. Além da USP, a avaliação dará acesso, já para o ano letivo de 2024, a cursos superiores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza.

Um dos principais objetivos é facilitar o entendimento e o acesso do estudante da escola pública às universidades públicas. “A gente detecta que, muitas vezes, o estudante da escola pública nem sabe que a USP é gratuita”, afirma Gustavo Monaco, diretor executivo da Fuvest. “Quando participamos de feiras de vestibulares, o pessoal vai no estande da Fuvest e pergunta quanto custa para estudar.”

Além disso, acrescenta, a prova seriada tem o papel importante de indutor de qualidade para o futuro. “Na medida em que as provas forem sendo aplicadas por vários anos, os próprios professores vão percebendo o modo como devem conduzir o ensino. A aproximação entre as universidades e a secretaria também previu um programa de estágio para os alunos das licenciaturas. Eles terão estágios remunerados supervisionados com a intenção de auxiliar os alunos a se prepararem para a prova do Provão Paulista. É um ciclo virtuoso.”

Cursos e carreiras

Outra mudança importante do vestibular da Fuvest é o agrupamento de cursos. Ao longo dos anos, cursos oferecidos pela USP em mais de um campus foram sendo separados, o que obrigava o candidato a fazer a escolha por campi logo na entrada. Quem pretendia estudar Farmácia, por exemplo, precisava optar na inscrição pelo campus de São Paulo ou Ribeirão Preto. O mesmo processo de quem decidia concorrer a uma vaga em Direito.

A partir de 2024, isso vai mudar. Além desses cursos, outras unidades também agrupam seus cursos, principalmente na área de Exatas e Biológicas.

“É uma alteração positiva porque o candidato pode ter vários cursos que ele pode indicar como suas opções dentro da mesma carreira”, explica o diretor executivo da Fuvest. “E a nossa dica é que ele realmente indique. Muitas vezes, o vestibulando faz a inscrição é só indica um curso, achando que vai ter mais chance. Não, se fizer isso vai ter menos chance.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.