Enem ganha maior relevância entre alunos de colégios particulares de SP; prova mudará em 2024

Se adaptando ainda ao novo ensino médio, escolas já preparam alunos para a edição do próximo ano, que seguirá o novo currículo de base nacional, porém falta de informações sobre a nova prova é empecilho

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Por Giovanna Castro

Em São Paulo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem ganhado relevância entre os alunos de escolas particulares das classes A e B, que antes focavam principalmente na Fuvest, o vestibular da Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e nas faculdades particulares de primeira linha - todas conhecidas por seus vestibulares próprios, bastante exigentes.

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Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a porcentagem de alunos de escolas particulares de São Paulo que concluíram o exame cresceu cerca de 1,5% de 2019 para 2021. O aumento é incomum, já que desde a criação do Enem cerca de 25% de todos os candidatos de escolas particulares são do Estado - em 2021, foram mais de 27%. Os dados de 2022 ainda não foram divulgados.

Isso aconteceu, segundo especialistas em educação escutados pelo Estadão, ao passo em que o Enem se tornou mais exigente em relação ao conteúdo cobrado nas provas e passou a ser o principal método de entrada para universidades importantes do país - inclusive em São Paulo. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, é uma das mais desejadas por estudantes que querem cursar Medicina ou Economia e tem atualmente métodos de ingresso exclusivamente via Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e misto (parte pelo vestibular próprio e parte pela nota do Enem).

Outro ponto de virada de chave foi em 2016, quando a USP passou a disponibilizar gradualmente parte de suas vagas pelo Sisu - parte delas para ampla concorrência, que é a categoria mais utilizada por alunos de escolas particulares. Hoje, apesar de ter saído do sistema unificado, a instituição continua trabalhando com o exame nacional e oferecendo duas opções de porta de entrada para os candidatos: via Fuvest e via Enem-USP (plataforma criada pela universidade para ingressantes via nota do Enem). Das 11.147 abertas para 2023, 2.936 foram para quem utilizou a nota do Enem.

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Em 2023, a Universidade de São Paulo (USP) oferece 11.147 vagas em seus cursos de graduação. Dessas, 8.211 são destinadas para seleção pelo vestibular da Fuvest e 2.936 vagas para o Enem-USP. Foto: Marcos Bezerra/ Estadão

Com isso, a exigência pela preparação dos alunos para o Enem - apesar de não ser o foco principal dos colégios, que em geral buscam uma formação completa e não voltada somente para bons resultados nos vestibulares - tem crescido entre esse grupo, que agora se preocupa com as mudanças na prova para 2024.

O novo ensino médio e o novo Enem

Desde 2020 o novo ensino médio começou a ser implementado nas escolas brasileiras - tanto públicas, quanto privadas - e, a partir de 2024, essa nova diretriz educacional também servirá de base para o Enem. Em março de 2022, o Ministério da Educação (MEC) divulgou as principais mudanças que deverão ocorrer no novo Enem:

  • A primeira prova será voltada para conhecimentos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - Português, Matemática e demais disciplinas tradicionais de forma interdisciplinar -, mais uma Redação;
  • A segunda prova será voltada para a formação específica que os estudantes receberam no ensino médio (mais focada em Ciências Humanas, Ciências da Natureza ou Exatas) e terá quatro eixos estruturantes: investigação científica, processos criativos, mediação e intervenção sociocultural e empreendedorismo.

O Enem 2024 também deve ter questões dissertativas, o que tornará seu nível de exigência maior e o aproximará de vestibulares tradicionais como o da Fuvest, que tem questões escritas na segunda fase.

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Como as escolas particulares de SP têm se preparado para o novo Enem?

Para Caio Mendes, coordenador de projetos do Colégio Rio Branco e responsável pela implementação do novo ensino médio na instituição, a proposta inicial apresentada pelo MEC para o Enem a partir de 2024 parece seguir a risca as diretrizes do novo ensino médio, o que traz certa tranquilidade aos pedagogos, mas ainda falta informação para elaborar uma preparação mais precisa. “Nós não teremos provas anteriores para utilizar como base para mostrar aos alunos, como era feito até então. Mas estamos buscando passar tranquilidade e trabalhar com as informações que temos até agora”, diz Mendes. “Esperamos que o MEC divulgue o quanto antes novas informações.”

Vinícius de Paula, coordenador do Anglo São Paulo, concorda. “Não temos clareza ainda sobre como as provas do Enem vão ser. Temos algumas informações, mas ainda não temos o formato da prova, com detalhes”, diz. “O que fizemos, e acreditamos que será o suficiente para que os nossos alunos tenham um bom desempenho, foi construir uma formação geral básica bastante sólida, trabalhando bem os principais conteúdos e desenvolvimento as habilidades exigidas em vestibulares”, completa o coordenador.

“Vamos ver o que vai ser cobrado. Acho que é um ano para entender o que vai acontecer de verdade. Há muita coisa ainda a ser definida”, diz André Meller, coordenador pedagógico do ensino médio da Carandá Educação. Os itinerários (previstos no Novo Ensino Médio) permitem criar um aluno que desde o início desse ciclo já faz suas escolhas. É um processo de autoria, que caminho você quer seguir. Existe uma missão da escola de mostrar para o aluno quais são os mecanismos e como eles devem agir.”

No Colégio Bandeirantes, além do trabalho voltado para garantir que o aluno tenha as competências necessárias para realizar uma boa prova, a diretora pedagógica Mayra Ivanoff Lora diz que tem investido em orientar os alunos sobre como funciona o exame e como a sua nota pode ser utilizada. “Nós temos um currículo que dá maior autonomia ao estudante, que é uma das propostas do novo ensino médio há alguns anos; e por isso os nossos alunos já estão acostumados com isso”, diz. “Em relação ao Enem, especificamente, o que a gente tem feito, e que parece básico, mas é extremamente importante, é mostrar as opções que o exame oferece. Muitos não sabem como funciona o Sisu e que a nota do exame pode ser utilizada até mesmo em universidades de Portugal”, completa.

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Colégio Bandeirantes aposta em aulas dinâmicas partindo dos itinerários construídos em cima da proposta do novo ensino médio. Foto: Divulgação/ Colégio Bandeirantes

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O Colégio Pentágono destaca que, junto às aulas mais dinâmicas, os métodos de avaliação, que passaram a ser mais focados em testar as habilidades dos alunos e suas aptidões por áreas do que necessariamente o domínio do conteúdo programático, são uma aposta para que os alunos da escola tenham um bom desempenho no Enem. “Está na raiz do Enem ser uma avaliação mais focada na habilidade e nas competências. E para fazer esse tipo de avaliação, você precisa ter uma formação diferente”, diz Bruno Alvarez, vice-diretor de inovações pedagógicas e um dos responsáveis pelo Enem na instituição.

Já no Colégio Porto Seguro, o diretor institucional pedagógico Carlson Luís Pires de Toledo e o diretor do ensino médio do câmpus Morumbi João Roberto de Souza Silva afirmam que a exigência da prova tende a se aproximar, de fato, de vestibulares como o da Fuvest, que exigem uma capacidade descritiva maior. Por isso, as competências necessárias para a realização do novo modelo de prova já tem sido amplamente levadas em consideração pela escola.

Ansiedade e expectativa dos alunos

Além do preparo pedagógico, a preparação psicológica dos estudantes é fundamental para um bom desempenho no vestibular, apontam os especialistas das escolas. E isso significa passar segurança e apoio aos alunos mesmo em meio às incertezas quanto ao novo Enem. “A maneira como a gente aborda a educação com os professores, pais e alunos estimula a compreensão não só sobre os conteúdos cobrados nas provas, mas sobre competências e habilidades. Isso faz com que os próprios alunos já enxerguem as possibilidades de uma prova como a do Enem com muito mais clareza e tranquilidade”, diz o especialista do Pentágono.

Manuela Baldocchi Andolfatto, que está ingressando na segunda série do ensino médio em 2023 no colégio, fez o Enem em 2022 como treineira, o que deve ajudá-la a diminuir a insegurança em relação ao Enem 2024, quando ela de fato concorrerá a uma vaga em Medicina. “Eu gostaria muito de ir para o Einstein, Santa Casa, USP ou Unicamp. Entre as federais, a de São Paulo e do Paraná são as que eu mais quero, mas estou aberta a outras também”, diz. Ela conta que achou a prova do Enem cansativa e espera que, com as adaptações ao novo ensino médio, no qual ela já está inserida, o exame se torne mais fácil, já que questões do segundo dia serão voltadas para a área que ela já tem aptidão, que é a de Ciências da Natureza.

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