Engenheiras à frente da inovação

Com protagonismo crescente, mulheres lideram projetos de impacto e constroem redes para transformar a engenharia

27/03/2025 | 11h27

Apesar dos desafios de uma profissão ainda predominantemente masculina, as mulheres vêm ganhando espaço e assumindo posições de liderança em projetos inovadores na engenharia. Segundo Poliana Krüger, engenheira civil e presidente da Federação das Associações das Mulheres na Engenharia, Agronomia e Geologia (Fameag),a presença feminina na área tem crescido de forma significativa nos últimos anos. “Em 2018, eram cerca de 11% de mulheres na engenharia. Hoje, esse número já ultrapassa os 20%. A participação está crescendo, e queremos continuar fomentando esse avanço”, afirma.

A Fameag foi criada em 2023, a partir de uma associação em São Paulo que, com o tempo, se expandiu para outros estados. Atualmente, a federação reúne mais de 20 associações cadastradas em todas as regiões do Brasil, o que reforça a necessidade de representação feminina no setor. “Muitas mulheres não percebiam a desigualdade, mas já passaram por situações como a falta de banheiros femininos nos locais de trabalho ou promoções concedidas a colegas homens, mesmo quando o mérito era delas”, diz Poliana.

Júlia desenvolveu algoritmos que preveem falhas em máquinas industriais Foto: Arquivo Pessoal

Redes de apoio

Para ampliar a presença feminina na engenharia e na tecnologia, diversas iniciativas vêm sendo criadas. Um exemplo é o projeto PrograMaria, que há uma década atua na inserção de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem) e no incentivo a projetos inovadores.

“Em 2015, percebemos um desafio persistente: a baixa presença feminina em Stem, que são cada vez mais importantes no contexto da revolução digital”, explica Iana Chan, criadora do projeto. “Nossas pesquisas iniciais mostraram que, nos cursos dessas áreas, as mulheres representavam menos de 15% dos alunos. No mercado de tecnologia, a participação feminina também é baixa, e esse número é ainda menor entre mulheres negras.”

Em startup, Ana Luisa promove o aprimoramento técnico e socioemocional para jovens Foto: Arquivo Pessoal

Curiosamente, diz Iana, nos anos 1980, quando a programação de software começou a ganhar espaço, as mulheres eram maioria na área, já que, na época, os homens se concentravam principalmente no desenvolvimento de hardware. Com o tempo, no entanto, esse campo também passou a ser dominado por homens. “Ainda existe uma estrutura social que faz com que, ao pensarmos em tecnologia, imaginemos um homem branco. Isso afasta as mulheres e cria barreiras para a entrada e a permanência no setor.”

Ela reconhece que os desafios são muitos, mas aponta avanços importantes. Nos últimos anos, redes de apoio voltadas às mulheres na tecnologia cresceram de forma significativa, oferecendo suporte e referências para quem quer ingressar e se desenvolver na área. “Hoje, uma mulher que quer seguir carreira em engenharia ou tecnologia encontra um ecossistema de suporte muito mais robusto do que existia há alguns anos. Isso faz toda a diferença na permanência e no crescimento profissional”, conclui Iana.

Mulheres à frente de projetos inovadores

Capacitação para o futuro

Ana Luisa Almeida, de 31 anos, descobriu ainda na graduação o potencial da engenharia para transformar vidas. No entanto, foi ao ingressar no mercado de trabalho que percebeu uma lacuna em sua formação. “A faculdade nos ensina a parte técnica, mas quem nos prepara para lidar com dificuldades, desenvolver confiança e se comunicar bem?”, questiona.

Decidida a mudar esse cenário, cofundou a Sarsa Edu, uma startup que capacita jovens de baixa renda em tecnologia e habilidades socioemocionais. No início, atrair investimentos e parceiros foi um desafio, mas, com resultados concretos, a iniciativa expandiu sua atuação para além da engenharia. Agora, Ana Luisa busca parcerias com o setor público para ampliar o alcance do projeto, apostando na educação como um fator decisivo para transformar realidades.

Prevenção defalhas na indústria

Hoje com 28 anos, Júlia Beltrame, desde muito cedo, era fascinada por tecnologia, mas foi na Semeq Systems Corporation que encontrou sua atual área de atuação: a inteligência artificial aplicada à manutenção preditiva. Formada em Engenharia de Computação e com mestrado em Engenharia de Software pela Universidade Harvard, ela liderou um setor dominado por homens. No início, precisou provar sua capacidade, mas sua determinação a levou a desenvolver algoritmos que preveem falhas em maquinários industriaisantes mesmo que ocorram.

Hoje, gerencia um hub de inovação nos Estados Unidos e coordena equipes no Brasil, impactando grandes indústrias multinacionais, como Ambev, Gerdau, JBS e Nestlé.

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