Com apenas 23 anos, Narayane Ribeiro Medeiros é um talento brasileiro que atrai o interesse de universidades e empresas internacionais. Estudando Engenharia Aeroespacial no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a jovem está inserida em um movimento que ganhou força nos últimos anos: a conquista de oportunidades no exterior por engenheiras brasileiras.
Em 2023, passou por um período de intercâmbio no Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), onde atuou como assistente de pesquisa de uma pós-doutoranda em um projeto sobre o comportamento irregular da combustão.
“Eu ajudava a analisar a confiabilidade dos resultados que ela obtinha e, no final, minha análise mostrou que, na verdade, a pesquisa dela não era muito confiável, que precisava fazer algumas alterações no equipamento. Ela gostou bastante do jeito como eu ajudei, tanto que fui convidada para fazer um mestrado lá”, conta a jovem.
Em 2025, participou do Programa de Estudos Espaciais do Hemisfério Sul, uma parceria da Universidade Internacional do Espaço com a Universidade do Sul da Austrália, onde colaborou em uma pesquisa para o desenvolvimento de um código de cores para transmissão de emergência na lua. Seu ótimo desempenho rendeu um convite para participar de uma edição do programa na Coreia do Sul. Quando olha para o futuro, Narayane pretende fazer doutorado e trabalhar com pesquisa no mercado privado fora do Brasil.
Membro da ITAndroids, equipe de robótica do ITA, Narayane aguarda agora a resposta a uma candidatura que aplicou para um programa de estágio de férias na Edge Group, conglomerado de empresas de tecnologia e defesa com sede nos Emirados Árabes.
Com uma política de aumento na presença de mulheres entre seus profissionais e de recrutamento de talentos globais, a Edge tem apoiado instituições em diversos países para a formação e o desenvolvimento de profissionais de excelência no setor. Esse cenário colocou as engenheiras brasileiras no radar da empresa.
“Neste ano, a empresa pretende estabelecer acordos com algumas universidades brasileiras, colaborando em projetos de intercâmbio e investindo em espaços de pesquisa inovadores, incluindo laboratórios. Além disso, forneceremos patrocínio anual para a ITAndroids”, explica Sana Al Daoumi, vice-presidente sênior de Recursos Humanos do Edge.
Diante desse cenário, universidades brasileiras têm desenvolvido iniciativas para preparar essas profissionais para desafios internacionais. O Instituto Mauá de Tecnologia, por exemplo, promove a internacionalização de seus alunos por meio de intercâmbios e bootcamps, e conta com um programa internacional de desenvolvimento de competências.
“Temos aqui o Grand Challenges Scholars Program, que foi criado na Academia de Engenharia dos EUA para ajudar os alunos a desenvolverem competências para enfrentar os grandes desafios da humanidade. Somos a única escola brasileira que segue esse programa. Ele é incluído no próprio currículo do curso, e no final os alunos recebem um certificado dado pela Academia”, explica Marcello Nitz, reitor do Instituto Mauá.
Marina Celant De Prá, de 35 anos, engenheira ambiental, com mestrado e doutorado em Engenharia Química e atual diretora-geral do Campus Dois Vizinhos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), também obteve sucesso fora do Brasil. Em 2016, ela recebeu um convite para participar de um projeto da Nasa junto ao Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) por sua destacada atuação nos estudos para a concepção de reatores para a remoção de poluentes presentes nos efluentes (resíduos) agropecuários, agroindustriais e domésticos.
“O governo americano tinha um projeto em que uma tripulação ia em uma missão espacial para a estação em Marte. Então, montaram equipes de pesquisadores do mundo todo para trabalharem em diferentes propósitos. Eu fiquei na equipe responsável pelo tratamento do efluente e pela transformação dele em água potável. Conseguimos reciclar 95% dos efluentes que eram produzidos”, conta Marina.
Uma das 37 mentoras já confirmadas do projeto – todas voluntárias – é Ana Paula Serra, pró-reitora de graduação do Instituto Mauá de Tecnologia (primeira mulher a ocupar o cargo, a propósito). Ela está celebrando um aumento de 23% para 29% na presença feminina no primeiro ano dos cursos da instituição em 2025, resultado que credencia as iniciativas como um trabalho ativo de divulgação no ensino médio. “Sabemos que é preciso começar ainda mais cedo, no ensino fundamental, para mostrar às meninas que o mundo das exatas é fascinante e que há lugar para elas nesse mundo.”