Escola Eleva, que teve Lemann como principal investidor, chega a SP com mensalidade de R$ 8 mil

No Rio, pais reclamam de descontinuidade de projeto de bolsas para alunos de baixa renda

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

A Escola Eleva, que tinha Jorge Paulo Lemann como principal investidor e foi vendida em 2022 para um grupo de educação inglês, abre sua primeira unidade em São Paulo no ano que vem. De origem carioca, o colégio entra em um mercado competitivo de escolas bilíngues e internacionais que cresceu nos últimos anos na capital.

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A escola vai funcionar no antigo prédio da faculdade Belas Artes, na Vila Mariana, zona sul. Em 2024, as mensalidades vão variar de R$ 7 mil a R$ 8 mil, dependendo da série - as vagas iniciais serão para alunos de 3 anos de idade e até 13/14 anos (8º ano). O valor da mensalidade está acima de escolas como Santa Cruz ou Bandeirantes, mas abaixo de colégios internacionais, como Avenues ou Graded School.

“Somos uma escola brasileira”, disse Marcio Cohen ao Estadão, CEO no Brasil do Inspired Education Group, o grupo inglês que comprou a Eleva por R$ 2 bilhões no ano passado. O Inspired se autointitula como uma empresa que reúne “escolas premium” que formam indivíduos para “prosperar com segurança em um mundo em evolução”. Tem 80 colégios bilíngues em 24 países da Europa, África, Ásia e América Latina.

Cohen, que foi um dos fundadores da Eleva junto com Lemann em 2017, diz que a intenção da escola não é a de buscar apenas “a elite da elite”. “A gente não quer as pessoas que só estão interessadas em estar junto da elite financeira”, afirma.

Nesta terça-feira, 27, o colégio foi lançado em São Paulo em um evento em uma área do shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia. O ex-técnico da seleção feminina de vôlei e pai da Eleva no Rio, Bernardinho, foi um dos palestrantes. Entre os pilares apresentados a famílias interessadas estão “cidadania global, excelência acadêmica, criatividade e esportes”.

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Com investimento de R$ 100 milhões na unidade da capital paulista, a escola tem usado headhunters para contratar os cerca de 30 professores para montar a equipe, com salários “competitivos”, de acordo com Cohen. Ele não revelou o valor que pagará aos professores. Entre as escolas de ponta, os salários chegam a R$ 20 mil. Mas a média na cidade é de R$ 4,5 mil (do infantil ao ensino médio), de acordo com dados do Ministério do Trabalho.

Unidade da Eleva em Botafogo, no Rio de Janeiro Foto: PEDRO KIRILOS/ESTADÃO

Segundo especialistas, a grande dificuldade de escolas bilíngues é encontrar bons professores em suas áreas e ainda fluentes em inglês. Escolas internacionais costumam trazer professores estrangeiros, o que não é a intenção da Eleva, segundo a direção.

“O bilinguismo pode ser muito difícil para as crianças se for feito de forma errada”, diz a nova Headmaster da Eleva em São Paulo, Lucy Nunes, que foi diretora da Chapel School, tradicional escola americana na cidade. Segundo ela, o aluno vai ser fluente nas duas línguas, português e inglês, mas a alfabetização começa na língua materna.

Decontinuidade do projeto de bolsas

A chegada do grupo Inspired em 2022 causou descontamento a famílias da escola no Rio por causa da descontinuidade de um projeto de bolsas para alunos de baixa renda, o Janelas Abertas. O programa era visto como um diferencial e que posicionava a Eleva como uma escola inclusiva e diversa, apesar das mensalidades altas. Um instituto operacionalizava as doações feitas por pais de alunos que mantinham parte da mensalidade e das despesas, como material e passeios, dos bolsistas. A Eleva também ajudava no financiamento das bolsas.

Segundo Cohen, no entanto, as doações não foram suficientes para manter os estudantes em todos os anos escolares e ainda incluir novos beneficiários. Agora, de acordo com ele, a escola agora vai dar prioridade para bolsas pontuais para crianças de baixa renda que tenham alto desempenho em alguma área específica, como Matemática ou Artes, sem foco em raça.

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No ano passado, um grupo de pais e mães organizou um abaixo assinado quando Inspired anunciou que não abriria novas inscrições para 2023. Segundo a escola, ainda está sendo avaliada a possibilidade ou não de expansão de acordo com a quantidade de doações e não haverá mudança para quem já recebeu a bolsa.

De acordo com o último relatório de atividades disponível do Instituto Janelas Abertas, de 2021, o custo do aluno bolsista era de R$ 65 mil por ano e cerca de 700 doadores haviam contribuído com R$ 3,2 milhões. Até aquele ano 110 estudantes de renda familiar média de um salário mínimo tinham sido contemplados com bolsas.

A Eleva tem cerca de 3.500 alunos em três cidades: Rio, Brasília e Recife. Questionado se o Janelas Abertas existiria em São Paulo, o CEO disse que isso ocorreria somente se houver pais dispostos a fazer doações suficientes para manter os bolsistas durante todos os anos da vida escolar.

Imagem em 3D do projeto da Eleva em São Paulo; escola vai funcionar no antigo prédio da faculdade Belas Artes, na Vila Mariana Foto: Projeto

Daniela Costa, que tem um filho no colégio, no Rio, diz que o projeto de inclusão foi uma das razões que a atraiu para Eleva e ajudou a tirar o estigma de “escola elitista”. “É responsabilidade da escola continuar com o projeto, tem histórias de sucesso maravilhosas, com uma oportunidade muito importante para essas crianças”, diz.

Segundo ela, o projeto também incentiva a discussão antirracista na escola. Apesar da crítica, ela elogia o projeto pedagógico e diz que o filho é “muito estimulado intelectualmente”, com uma formação que visa um cidadão do futuro. “Nunca vi meu filho gostar tanto de uma escola.”

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Unidade da Eleva em São Paulo receberá investimento de R$ 80 milhões Foto: Projeto

A Eleva chega a São Paulo depois de quatro anos de buscas por terrenos na cidade, conta Cohen. Em 2018, surgiram na capital diversas escolas internacionais ou bilíngues - como Avenues, Concept e Red House, que aqueceram o mercado e tiraram profissionais de escolas tradicionais prometendo altos salários. Além da língua Inglesa, elas ofereciam como diferencial um projeto “inovador” de educação, com ênfase em questões como autonomia, fluência digital e empatia.

Na Eleva, 50% das aulas são em português e 50% em inglês. A escola também segue a chamada metodologia ativa, em que há poucas aulas expositivas, sempre intercaladas por momentos de discussões, de avaliações feitas pelos pares, estudos individuais, explica Cohen. Com horário que vai das 8h às 15h, há ainda disciplinas de programação, habilidades socioemocionais, música, sobre como falar em público (todas elas nomeadas em inglês) e foco para o esporte competitivo.

O projeto pedagógico considera a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que são as diretrizes para escolas no Brasil, mas também currículos internacionais, como o International Baccalaureate (IB), usado em escolas do mundo todo. Outras séries serão incorporadas à Eleva em São Paulo até chegar ao 3º ano do ensino médio; a previsão é de um total de cerca de mil alunos.

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