Escola trilíngue traz imersão do estudante em novas culturas

Mais do que idiomas, alunos aprendem a conviver com outras visões e se preparam melhor para o mundo globalizado

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Por Tatiana Cavalcanti

SÃO PAULO - Aprender uma língua estrangeira não é apenas saber um idioma novo, mas também mergulhar na cultura e nos costumes de uma nação. A definição é da aluna Laura Monteiro Bonansea, de 12 anos, que já fala inglês e está aprendendo espanhol.

“No fundamental 1, passei a ter matérias nas duas línguas (português e inglês): Mathematics (Matemática), Sciences (Ciências), Social Study (engloba História, Geografia e Biologia) e Performing Arts (Teatro). Adorei essa oportunidade e sei que vai me ajudar no meu futuro profissional”, diz a estudante do 7.º ano da Escola Pueri Domus, dentro do Global, curso com a proposta de ser trilíngue desde a educação infantil. Laura já sabe o que quer seguir: Propaganda e Marketing.

Karoline Sirgado, com Manuela e Eduardo Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO

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A professora americana Sarah O. Weiler, coordenadora da escola multilíngue Stance Dual School, acredita que estudar várias línguas é uma postura à frente, em um mundo que muda o tempo todo. “Isso amplia o aprendizado. Nossas aulas de Matemática, em português e em inglês, são diferentes. Não são conteúdos repetidos em línguas diferentes.”

Nas aulas de Social Study, conta Sarah, os alunos estudam a escravidão em vários países, em especial nos Estados Unidos. “Depois comparamos o período avaliado com o que se passava naquele momento no Brasil. Os alunos assimilam muito bem dessa forma.”

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Os pais que matriculam seus filhos nesse tipo de colégio valorizam, além do aprendizado de mais de uma língua, a convivência com o diferente. “Os alunos se tornam capazes não só de respeitar outras culturas, mas de relacionar-se com indivíduos em um mundo globalizado”, afirma uma das coordenadoras da Escola Internacional de Alphaville, Fabiana de Oliveira Rocha Litrenta.

A menina Laura concorda: “Tenho amigos do México, da Argentina, da Coréia, da China. Sempre aprendo um pouco sobre esses países com eles”.

Sem fronteiras. Ernani Soares de Paula, um dos coordenadores pedagógicos da Escola Villare, de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, defende que matricular uma criança em uma escola trilíngue é essencial para uma educação mais elaborada. “O ensino de idiomas estimula o desenvolvimento da inteligência e da capacidade de aprender, afasta as fronteiras da aprendizagem.”

O método de ensino varia de acordo com a escola. Em algumas, os alunos já são alfabetizados em inglês e português, enquanto outras optam por usar idiomas estrangeiros a partir do fundamental 1. O espanhol, em geral, é introduzido depois, sendo opcional no ensino médio em diversas escolas.

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Para esses jovens, é normal ter aulas de literatura na língua de escritores clássicos, como o inglês de William Shakespeare ou o espanhol de Miguel de Cervantes. Pedro Verderamis Sellani, de 12 anos, está no 7.º ano da Escola Villare e já lê livros nessas línguas, como parte da grade curricular.

“Sabemos que a aprendizagem das línguas, quando iniciada desde cedo e praticada regularmente, pode consolidar-se de modo muito mais fácil e efetivo”, afirma a mãe do estudante, a pedagoga Helena Verderamis Sellani, de 41 anos. Para ela, dominar outras línguas significa ter mais possibilidades de acesso à cultura, de comunicação e de inserção no mundo.

Para que o aluno tenha um aprendizado mais natural, as escolas oferecem atividades variadas, que podem ir de esportes a aulas com música e artes.

Em alemão. Apesar da ascendência italiana, a psicóloga Karoline Sirgado, de 34 anos, botou os filhos em uma escola com aulas de alemão. “Manuela já fala, e Eduardo obtém ótimas notas em alemão.” Com 6 e 8 anos, respectivamente, os dois estão matriculados no Colégio Humboldt, que ensina a língua desde a educação infantil. “Além do alemão, oferecemos a conclusão do ensino básico Abitur, um certificado para o ingresso no nível superior na Alemanha e em outros países da União Europeia”, afirma o vice-diretor do Colégio Humboldt, Hans Wagner.

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Aula em outro idioma ajuda a memória

O impacto das aulas em línguas estrangeiras é positivo e ajuda no desenvolvimento do aluno, apontam especialistas ouvidos pelo Estado. O estudante trilíngue desenvolve mais a memória e tem mais atenção, de acordo com Maria Cecília Lopes da Conceição, neuropediatra do Hospital Leforte. “Quanto mais cedo houver estímulos ambientais, mais o cérebro vai se desenvolver. Quanto mais línguas uma criança aprender, mais variada vai ser sua forma de ver o mundo.”

Uma criança de até 5 anos pode aprender qualquer língua, segundo Maria Cecília, por causa da associação de sons e símbolos. Essa facilidade se mantém até a puberdade.

Ela explica que as crianças têm mais elasticidade cerebral e não se importam com a reflexão cognitiva (formar palavras de forma adequada), preocupação comum aos adultos.

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A psicóloga clínica e escolar do Colégio Humboldt, Karin Kenzler, afirma que o ensino de outras línguas na infância e na adolescência não tem impacto negativo no desenvolvimento da criança. Uma única desvantagem apontada pela psicóloga, que se constata com frequência, de acordo com ela, é o atraso no desenvolvimento da proficiência oral no novo idioma em comparação com crianças monolíngues. “Mas essa diferença é superada no decorrer do aprendizado.”

Em compensação crianças bi ou trilíngues apresentam uma série de vantagens sociocognitivas, aponta Karin, como a compreensão de crenças dos outros, a seleção de variáveis importantes para resolução de problemas e a consideração de duas interpretações possíveis de um mesmo estímulo.

Para a especialista, não é exagero estudar várias línguas desde a infância, desde que não haja cobrança de desempenho. “O aprendizado deve acontecer de forma natural e lúdica.” Ela enfatiza que aprender línguas exige interação. “A criança só aprende se o idioma tiver um significado emocional para ela.”

Quando uma escola é trilíngue?

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Os colégios trilíngues devem ter na grade curricular as bases para que o aluno seja fluente em três línguas - sempre com o português como a principal -, explica a diretora da Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo (Oebi), Ana Célia Mustafá Campos. “O que define uma escola trilíngue é o projeto pedagógico planejado para que a criança se comunique em três línguas. O aluno deve ter condições de fazer uma imersão na cultura desses idiomas.” Ana Célia diz que a maioria dos colégios opta por dar o conteúdo básico também em língua estrangeira. “Mas isso não é obrigatório, desde que as escolas obedeçam às diretrizes do Ministério da Educação”. 

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