Esses jovens foram estudar no exterior... e os pais foram junto: ‘Seria impossível ficar longe dele’

Oportunidade de manter a família unida e de realizar sonho antigo de morar em outro país fazem mães e pais se mudarem com os filhos quando eles são aprovados numa faculdade fora

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Os filhos foram para o exterior estudar, mas tiveram uma ajudinha extra nos perrengues que todo jovem brasileiro passa quando vai morar fora: o pai e a mãe foram junto. A oportunidade de manter a família unida e ainda de realizar o sonho antigo de sair do País tem feito os pais se mudarem também quando o estudante é aprovado em uma instituição estrangeira. E eles garantem que não se trata de superproteção.

“Quando vimos que ele estava decidido a vir para a Europa, pensamos: ‘vamos para perto dele’”, conta o empresário Luciano Abad, de 52 anos. Ele e a mulher se mudaram do interior de São Paulo para a Suíça depois que o filho Lucas, de 21, começou a estudar Arquitetura em Darmstadt, na Alemanha.

Lucas Abad (à esquerda) e os pais se mudaram para a Europa: sem superproteção Foto: Lucas Abad

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Moram hoje a 400 quilômetros do jovem e conseguem encontrá-lo ao menos uma vez por mês. “Seria impossível ficar longe dele. Se fosse ver uma vez por ano somente, iríamos sentir muita falta.”

“A única coisa que pedi foi que não morassem na mesma cidade porque o legal de morar fora é ter independência”, conta Lucas. “Mas me sinto privilegiado e protegido de tê-los por perto. Muitos amigos brasileiros também usufruem dos meus pais estarem aqui.”

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Ele lembra que recentemente quando teve de se dedicar muito ao trabalho de final de curso, os pais foram visitá-lo. “Eu estava bem estressado e eles vieram pra cá. Aí tem regalias de ter os pais: não preciso cozinhar, alguém lava suas roupas, paga seu almoço, fica tudo mais fácil”, brinca.

Luciano Abad vendeu a empresa que tinha no Brasil, continua fazendo alguns trabalhos da Europa remotamente e diz que realizou o sonho de morar na Suíça. “Já escutei muito que sou pai superprotetor, mas meu filho não tem nenhuma dependência nossa, está sempre com os amigos. Somos uma família unida e a qualidade de vida aqui, para a gente e para ele, é incomparável.”

37 mil brasileiros fazem graduação no exterior

Segundo a Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), que reúne empresas de intercâmbio no Brasil, cerca de 37 mil brasileiros fazem graduação no exterior atualmente.

Mesmo com a desvalorização do real, tem aumentado o interesse das classes média e alta em fazer universidade fora do País. O movimento preocupa até dirigentes de faculdades privadas de excelência e universidades públicas, instituições que seriam o destino desses estudantes de escolas particulares.

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O custo de morar fora muitas vezes é compensado pelos valores mais baixos de mensalidades - no caso de muitas faculdades europeias. Pesquisas mostram que 80% dos jovens das classes A e B do País, por exemplo, gostaria de fazer graduação de Portugal.

“Por ter mais segurança e viver a experiência internacional, faculdades de Portugal e outros países têm se tornado as grandes concorrentes das universidades de elite no Brasil”, diz o diretor executivo do Semesp, que reúne instituições privadas, Rodrigo Capelato.

Como mostrou o Estadão, escolas particulares de São Paulo passaram cada vez mais a preparar estudantes que queiram fazer faculdade no exterior. Algo que era comum em colégios internacionais, agora os brasileiros também têm áreas específicas para lidar com a documentação, preparação em línguas e orientação geral para que seus alunos se tornem candidatos competitivos lá fora.

‘Nunca pensei que eles viriam também’, diz estudante

A primeira da família Lemmermann, que morava em Campinas (SP), a ir para a Alemanha foi a filha mais velha, Beatriz, hoje com 22 anos, em 2021. Depois que ela foi aprovada em Medicina Veterinária em uma universidade de Berlim, o pai Wagner, engenheiro mecânico que trabalhava há anos na indústria automobilística, começou a pensar na possibilidade de também se mudar.

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No ano passado, conseguiu uma oportunidade em uma empresa alemã e hoje, ele, a mulher e a filha mais nova já moram também no país europeu. “Juntamos o útil ao agradável. Consegui trabalhar aqui na minha área, em função muito similar ao Brasil, e estou próximo a elas”, conta.

A caçula, Elisa, de 19 anos, também começou a estudar numa faculdade alemã em outubro. “Sempre quis estudar fora, estudava numa escola alemã, mas nunca pensei que meus pais viriam também”, conta. “Apesar disso, ainda tenho muita independência, mas claro que estando a 4 horas de distância fica mais fácil quando tem algum problema.”

Beatriz (à esquerda) e Elisa (à direita) com os pais Leandra e Wagner: todos juntos na Alemanha Foto: Elisa Lemmermann

Wagner e a mulher Leandra moram na Saxônia - Beatriz está a 200 quilômetros e Elisa, a 400 km. “Não é fácil, deixamos muita coisa no Brasil. Tem o idioma, uma cultura nova, é um desafio diário. Mas escolhemos continuar aprendendo depois que nossas filhas cresceram”, diz Leandra. Ela se desligou da empresa que trabalhava no Brasil e agora pretende arrumar um emprego na Alemanha.

Há também a vantagem financeira, completa Wagner. “Trabalhar no Brasil e manter duas filhas na Europa não seria tão fácil. Estando aqui, também ganho em euro.”

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Entre crianças e adolescentes, também já é comum ter os pais acompanhando em intercâmbios. Enquanto os filhos aprendem a língua e têm contato com novas culturas, os pais passeiam ou até estudam também.

A influencer Camila Almeida e a filha em uma escola da Suíça Foto: Arquivo pessoal

A empresária e influenciadora Camila Almeida levou a filha de 8 anos para um programa de “summer camp” (acampamento de verão) numa escola da Suíça. Ela e o marido ficaram num hotel por perto. Deixavam a menina às 9 horas e a buscavam às 17 horas. As crianças tinham atividades esportivas e recreativas numa escola, que estava sem os alunos regulares por causa das férias na Europa.

“A ideia principal era ela ter a experiência de estar com crianças do mundo todo, ter de desbravar aquilo sozinha, mas estávamos por perto”, conta a mãe. Em breve, ela pensa também em passar uma temporada maior de estudos com a filha, na Inglaterra.

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