Ex-faxineira de 56 anos é a aluna de Biologia na Unesp

Maria Helena vai passar ao seleto grupo de 16% dos trabalhadores com ensino superior, que consegue emprego com maior facilidade, ganha o dobro da média e alavanca o PIB

PUBLICIDADE

Por Maurício Oliveira
Atualização:
Maria Helena formou os filhos: agora é a sua vez de estudar. Imagem ACI/TV Unesp Foto: ACI/Unesp


Ter ensino superior é um privilégio que, hoje, está limitado a 16% da força de trabalho no Brasil. O tamanho do diferencial que o diploma proporciona fica claro pelos números: enquanto apenas 57% da força de trabalho total disponível no Brasil estava ocupada no último trimestre do ano passado, esse índice era de 79% entre as pessoas com ensino superior completo, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD). O salário médio, para essas, chegou a R$ 5.465 – o dobro da média geral, R$ 2.727.

PUBLICIDADE

Mais do que benefícios individuais, no entanto, os ganhos proporcionados pelo ensino superior são coletivos. Um estudo do Centro de Políticas Públicas do Insper identificou os efeitos da ampliação da oferta de ensino superior na economia. Em média, cada ponto porcentual a mais no índice de pessoas com ensino superior está associado a 0,4 ponto porcentual a mais na taxa de ocupação, 0,9% a mais nos salários e 1,3% a mais na renda domiciliar, fatores que influenciam diretamente o Produto Interno Bruto (PIB) do País.

Dias melhores

Um bom exemplo dessa mobilidade é a família de Maria Helena Rosa, 56 anos. Ela está no terceiro ano do curso de Biologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru (SP) – a mesma cidade em que Patrícia Linares, 44 anos, foi vítima de etarismo, em março (leia mais na página 2). Numa experiência bem diferente, Maria Helena (que, além de mais velha, é a única negra da turma) sente-se acolhida e respeitada.

Mãe solo, com um casal de filhos, Maria Helena começou a trabalhar em 2011 numa prestadora de serviços terceirizados. Convocada para a equipe de limpeza do câmpus da Unesp, passou a conviver com o ambiente acadêmico e se sentiu motivada a continuar os estudos – interrompidos na infância, época em que os pais trabalhavam em fazendas. Fez supletivo e qualificou-se para participar dos cursinhos pré-vestibular oferecidos na universidade. “Eu trabalhava das 6h30 às 15h30, seguia para dois cursinhos aqui na universidade e continuava estudando em casa nos finais de semana”, ela descreve.

Em 2019, depois de duas tentativas, Maria Helena conseguiu a aprovação no vestibular. Seu esforço a transformou no único dos oito irmãos a ir além dos primeiros anos de estudo. Seus filhos também vão ter mais oportunidades do que seus irmãos. Maria Helena se orgulha de Wesley, hoje com 37 anos, que se formou em Engenharia Mecatrônica, e de Edilaine, 35 anos, que é pedagoga e professora.

Ouça entrevista com Maria Helena no programa Fim de Tarde da Rádio Eldorado: Universidade Não Tem Idade: um debate sobre um ensino plural e sem preconceitos - Fim de Tarde Eldorado | Podcast on Spotify

Publicidade

Leia mais reportagens do caderno Universidade não tem idade:

Sonho leva 1,2 milhão de pessoas com mais de 40 anos ao ensino superior

Em cinco histórias, conheça os desafios, superações e conquistas dos estudantes 40+

Mercado Maduro: 41,4% dos trabalhadores já passaram dos 40 anos

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.