O uso de tecnologias digitais tem crescido nas escolas, mas o acesso mais fácil a esses recursos traz também consequências negativas para crianças e adolescentes. No último ano, quase metade (46%) dos professores de escolas públicas e privadas do Brasil relataram que precisaram dar auxílio aos seus alunos para lidar com o uso excessivo de jogos e tecnologias digitais. Um terço ou mais dos educadores dizem que os jovens pediram ajuda após terem sofrido assédio por meio virtual, fotos vazadas ou publicadas sem consentimento, ou ainda que foram alvo de bullying.
Os dados fazem parte da nova pesquisa TIC Educação, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), divulgada nesta segunda-feira, 25. O levantamento contou com quase 10,5 mil entrevistas com alunos, professores, gestores e coordenadores de escolas. Os dados foram coletados entre outubro de 2022 e maio deste ano, e em relação a 2021 mostrou alta em todos os indicadores citados acima.
Segundo o levantamento, o vazamento de fotos ou a publicação sem consentimento mais do que dobrou em um ano. Em 2021, 12% dos alunos relataram ter enfrentado esse problema, ante 26% no estudo mais recente. O bullying virtual, por sua vez, saltou de 22% para 34%.
“Esses dados traduzem uma agenda para a educação. Quando nós observamos esses dados, no fundo estamos falando do uso qualificado dessas tecnologias”, diz Daniela Costa, coordenadora da Pesquisa TIC Educação. “Esses recursos (tecnológicos) têm de estar no currículo não só como ferramenta ou apoio às disciplinas, mas também como tema de debate. A sociedade tem feito cada vez mais uso dessas tecnologias, e debatido o impacto delas. As escolas também precisam fazer isso em sala de aula.”
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O uso excessivo das redes e de jogos também apresentou forte crescimento. O levantamento mostra que 46% dos alunos enfrentam esse tipo de problema, ante 32% na edição anterior.
Escolas enfrentam dificuldade na orientação da segurança virtual
Segundo a pesquisa TIC Educação, o apoio de professores a alunos que enfrentam situações sensíveis na internet cresceu no último ano, mas ainda assim fica clara a dificuldade encontrada pelas escolas.
No último ano, 61% dos professores relataram ter apoiado alunos que acusaram problemas com as redes, ante 49% em 2021. Os colégios de ensino fundamental e médio, porém, ainda não conseguem ser eficientes na orientação sobre segurança e privacidade na internet.
Na média, só um terço das escolas explica aos alunos como criar e usar senhas seguras, e menos da metade delas oferecem orientação sobre informações que devem ou não ser fornecidas na hora de usar aplicativos, jogos ou redes sociais.
O cenário melhora um pouco no combate à informação falsa. De acordo com o levantamento, 64% das escolas ensinam alunos do ensino médio sobre como verificar se uma informação ou notícia da internet é verdadeira, enquanto 65% pedem para eles compararem a mesma informação em sites diferentes. Esses índices, contudo, ainda são menores nos ensino fundamental.
Um em cada quatro países já baniu smartphones
Um em cada quatro países do mundo proíbe ou tem políticas sobre o uso do celular em sala de aula, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira, 26, pela Unesco, braço das Nações Unidas para a educação. Entre os que recentemente anunciaram o veto estão Finlândia e Holanda. Pesquisas mostram impactos do smartphone na aprendizagem e na concentração dos estudantes.
“As notificações recebidas ou a mera proximidade do celular podem ser distração, fazendo com que o aluno perca a atenção da tarefa. O uso de smartphones nas salas de aula leva os alunos a se envolverem em atividades não relacionadas à escola, o que afeta a memória e a compreensão”, diz o Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco.
A convivência com os celulares, porém, tem sido crescente na rotina dos jovens, que adquirem seu equipamento próprio cada vez mais cedo.
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