O aprendizado de dois idiomas na primeira infância (de 0 a 6 anos) já foi visto com reservas. Havia quem falasse que o bilinguismo poderia sobrecarregar o cérebro ainda em formação. Hoje, especialistas afirmam que a habilidade de falar duas línguas prematuramente exerce uma influência positiva. Eles ressaltam, porém, que nenhuma criança fica mais inteligente porque aprende a falar mais de um idioma.
“O bilinguismo não aumenta a inteligência, mas exerce uma influência sobre a habilidade cognitiva”, diz a psicóloga Elizabete Flory, doutora no tema pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Elizabete afirma que, para ter a vantagem cognitiva, os bilíngues devem usar os dois idiomas a vida inteira.
Isso porque no cérebro bilíngue ambas as línguas estão ativas, mesmo quando apenas uma é usada. Assim, é necessário exercer um certo tipo de controle sobre o idioma que não está sendo utilizado. O mecanismo é similar ao que usamos no dia a dia para focar a atenção em uma coisa, suprimindo interferências irrelevantes. “Embora todos nós usemos esse mecanismo, os bilíngues treinam mais intensamente o controle”, diz a pesquisadora Julia Montales, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Granada, na Espanha.
Estudos indicam que o bilinguismo pode ser também um fator de proteção para o cérebro. “Bilíngues, trilíngues ou poliglotas têm maior resistência ao aparecimento da demência. Quanto mais atividade intelectual realizamos, desenvolvemos mais sinapses e, com isso, lidamos melhor com situações adversas”, diz Sonia Maria Dozzi Brucki, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.
A boa notícia para quem não aprendeu um segundo idioma na infância é que na fase adulta também há benefícios. "O que parece crucial é o uso de ambas as línguas, já que é a necessidade de resolver a interferência entre os idiomas que modula as habilidades cognitivas”, diz Julia.
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