Programas de pós-graduação do País todo terão incentivo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para encurtar o tempo de titulação, permitindo que estudantes mudem para o doutorado depois de um ano de mestrado.
“O Brasil é um dos países que formam doutores com a maior idade cronológica. Formamos doutores com quase 40 anos, quando nos Estados Unidos eles se formam antes do 30″, disse ao Estadão Denise Carvalho, presidente da Capes, órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC).
Segundo ela, a Capes vai premiar com uma bolsa de pós-doutorado os programas de qualquer universidade cujos alunos tiverem condições de ingressar no doutorado mais rapidamente. “A gente vai contar esse tipo de atitude para avaliação porque isso mostra que o programa tem maturidade, quando tem um número de pós-graduandos que pode passar do mestrado para doutorado antes. Isso mostra que a pesquisas ali estão dando muito certo.”
No mês passado, como mostrou o Estadão, a Universidade de São Paulo (USP) e mais cinco instituições públicas de ensino superior paulistas - estaduais e federais - anunciaram que seus programas de pós ficariam mais rápidos e menos voltados para a academia, justamente por meio do mesmo mecanismo.
Disciplinas da pós na graduação
A Capes também passou a permitir que estudantes da graduação já façam disciplinas da pós, o que também encurtaria o tempo para a titulação. As exigências - segundo portaria de setembro - são:
- ter cumprido ao menos 50% dos créditos obrigatórios da graduação,
- ter participado de projeto de iniciação científica/tecnológica,
- e apresentar carta de recomendação do docente que o orientou.
Outra portaria também autoriza que estudantes da área da Saúde que estejam fazendo residência - como médicos, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas - também já façam disciplinas de mestrado e doutorado.
Para Denise, muitos não ingressam na pós depois de acabar a residência porque vão para o mercado de trabalho. “Perde o Brasil; perde o profissional”, afirma. “Eles não têm título, mas na verdade são profissionais altamente qualificados.”
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O Brasil tem 319 mil estudantes de pós-graduação, número que vem se mantendo estável desde 2019. Em comparação com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de doutores ainda é baixa no País.
São 11,3 doutores para cada 100 mil habitantes, quando na OCDE o índice é de 21,9. No total, foram titulados 91 mil profissionais, entre mestrados e doutorados, em 2023.
“Precisamos dar um salto para formar doutores mais jovens, porque é isso que os profissionais querem. Ninguém mais quer ficar na pós-graduação seis anos, após cinco de bacharelado, com 11 anos de educação superior”, afirma ela, que foi reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Com relação à permissão da mudança de mestrado para doutorado, Denise esclareceu que isso é possível também em qualquer outro curso do Brasil, mas agora terá mais incentivos da Capes.
A bolsa que o estudante recebe de mestrado, segundo ela, pode ser transformada em doutorado nesses casos. Mas haverá um limite de 30% de benefícios nesse formato, por programa. Ou seja: apenas 30% de bolsas da Capes para esses pesquisadores que vão “pular” para o doutorado.
A Capes também está mudando uma das formas de avaliar os programas de pós-graduação no País. Em vez de considerar o periódico em que a produção científica dos pesquisadores foi publicada, o órgão federa vai agora focar nos artigos.
A mudança foi aprovada em outubro, mas os detalhes só serão publicados em março de 2025. A indefinição tem causado insegurança em parte da comunidade acadêmica, que teme que a análise dos artigos passe a ter caráter subjetivo.
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