A queda expressiva no número de inscritos do Enem – que afeta sobremaneira os milhões de alunos das escolas públicas, em especial os mais pobres – tem relação direta com, pelo menos, três fatores. A fragilíssima estrutura do ensino remoto e a quebra do vínculo de muitos alunos com os estudos inviabilizou a preparação de muitos estudantes que, em condições normais, provavelmente participariam.
Outro fator importante está relacionado ao brutal empobrecimento das famílias, decorrente da crise econômica e potencializado por um auxílio emergencial errático e intermitente (por decisão do governo). Essa situação afeta inúmeros jovens em idade escolar para que complementem a renda familiar e também outras pessoas que enxergam no Enem a porta para um futuro melhor.
Por fim, a decisão do governo Bolsonaro de não rever a regra que nega o direito à taxa de isenção àqueles que não compareceram ao exame no ano anterior dificultou deliberadamente a participação de várias pessoas que em 2020, em um dos períodos mais críticos da pandemia, faltaram no dia da aplicação, e não podem arcar com a taxa de R$ 85. Está aí a verdadeira marca desse governo no Enem, ou seja, tem sido um destruidor da Educação.
Quando se trata de Educação, é preciso combinar respostas emergenciais com políticas de longo prazo. Privar os mais pobres do acesso ao ensino superior é um enorme passo para trás na diminuição das desigualdades socioeconômicas. Bloquear as melhores oportunidades para quem mais precisa, e para aqueles que foram mais prejudicados pela pandemia e abandonados pelo governo federal, custará caro ao desenvolvimento do País.
*MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PELA HARVARD KENNEDY SCHOOL OF GOVERNMENT, É PRESIDENTE E CO-FUNDADORA DA ORGANIZAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS TODOS PELA EDUCAÇÃO.
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