SP suspende cultos, futebol e amplia restrições a comércio, escolas e escritórios

'Fase emergencial' é válida de 15 a 30 de março e também veta lojas de construção, serviços de retirada ('take away') e parques; escolas estaduais terão recesso adiantado

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Foto do author Renata Cafardo
Foto do author Priscila Mengue

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), determinou que todo o Estado estará em "fase emergencial" entre a próxima segunda-feira, 15, e 30 de março. A nova classificação prevê restrições a 14 atividades, impactando cerca de 4 milhões de trabalhadores formais diariamente, de acordo com o governo. Entre elas, está a suspensão do funcionamento presencial de lojas de construção e de eletrônicos, a realização de celebrações religiosas coletivas e de atividades esportivas — o que inclui partidas de futebol — e o oferecimento de serviços de retirada de compras (os chamados “take away”).

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“Os templos e as igrejas continuam recebendo os seus fiéis, mas de forma individual”, destacou Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência. O decreto vai determinar, ainda, que escritórios, órgãos públicos, empresas de tecnologia da informação e similares transfiram para o home office todas as atividades que podem ser feitas à distância. Praias estarão fechadas, assim como os parques, enquanto os serviços de drive-thru deverão funcionar exclusivamente entre as 5 e as 20 horas.  "As pessoas devem ficar em casa. E as empresas, as instituições e os órgãos públicos precisam se organizar para que isso seja possível”, reiterou.

Além disso, o governo instituiu um toque de recolher entre as 20 e as 5 horas, com a promoção de blitze de orientação a motoristas. Não há previsão de multas para pedestres que circularem na rua, com exceção daqueles que não utilizarem máscaras ou promoverem aglomerações, o que já estava em vigor em São Paulo. "Não devemos circular nesse horário, a não ser que haja uma necessidade absoluta", afirmou Menezes. Sobre a medida, Doria destacou que não se trata de um lockdown.

Para outros setores, foi recomendado o escalonamentos do horário das atividades, com o objetivo de reduzir as aglomerações no transporte coletivo. A indicação é que os trabalhadores da indústria entrem entre as 5 e as 7 horas, enquanto os serviços das 7 às 9 horas e, por fim, os do comércio das 9 às 11 horas. 

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Na educação, a rede estadual antecipou os recessos de abril e outubro para este mês, entre 15 e 28 de março, período em que as escolas estarão abertas exclusivamente para oferecer alimentação e distribuir materiais e chips (mediante agendamento prévio). As escolas municipais e privadas terão autonomia para definir o funcionamento, desde que respeitem as regras do Plano São Paulo (como a ocupação de 35%, por exemplo).

“Nós recomendamos para todos os municípios e redes privadas, atividades sejam realizadas aquilo que seja realmente necessário. Se puder fazer à distância, faça à distância", destacou o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, em coletiva de imprensa. 

Coordenador do Centro de Contingência do Covid-19, Paulo Menezes calcula que cerca de 40 vidas por dia serão salvas com a medida. O objetivo é atingir um índice de isolamento superior a 50%. Na quarta-feira, estava em 42%.

As partidas marcadas para este fim de semana do Campeonato Paulista de Futebol, o Paulistão, estão mantidas, pois a "fase emergencial" é válida a partir da segunda-feira. “Em relação ao futebol, estamos atendendo a uma recomendação do Ministério Público estadual, isso fugiu à nossa alçada”, apontou José Medina, também do Centro de Contingência. 

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Ele destacou que as restrições são importantes para permitir um retorno das demais atividades com o andamento da vacinação. "Para daqui a 2 ou 3 meses, retomar da mesma as medidas que podem liberar um pouco a economia", afirmou. Ele destacou, contudo, que a queda nas taxas da doença levará tempo. “É possível que, até o Natal, nós tenhamos que tomar bastante cuidado.”

Também na coletiva, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, destacou que as redes pública e privada enfrenta uma piora acelerada. "Os nossos hospitais, vários deles, já estão comprometidos, chegando a 100% da sua ocupação. Estamos, portanto, no limite", alertou.

“Hoje, 53 municípios estão com 100% na taxas de ocupação lembrando que segunda eram 32 municípios com esse percentual”, disse. “A velocidade da pandemia no nosso Estado que compromete a assistência à vida.”

Gorinchteyn destacou que o número de internados em UTI hoje no Estado é 47% maior do que na primeira onda, em 2020. Hoje, 1.065 pessoas estão na fila de espera por um leito na central de regulação gerida pelo governo, das quais 35% precisam de leitos de terapia intensiva. Nos últimos 20 dias, o Estado tem batido recordes diariamente de pacientes internados em UTI Covid.

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“Esse é o momento mais difícil da pandemia que enfrentamos no nosso Estado. Na verdade, é o próprio País que vive. Mas, especialmente, o nosso Estado vive uma das maior, senão, a maior crise sanitária de todos os tempos. Mesmo a gripe espanhola não assolou tantas vidas, não teve a repercussão tão dramática e por períodos tão prolongados como a (pandemia) do covid", comparou.

O Estado tem 9.184 internados em UTI e outros 11.692 em leitos de enfermaria. Gorinchteyn reiterou que a pandemia tem um comportamento diferente do primeiro semestre de 2020, quando era predominante a internação de idosos e pessoas com doenças que “agravavam a condição clínica”. 

“Hoje, em muitas UTIs, 50% da ocupação já é composta por pessoas com idade menor que 50 anos, ou seja, mais jovens estão sendo comprometidos. Quando digo isso, são jovens de 26, 29, 30 anos que ali estão em estado muitas vezes grave", destacou.

Ele voltou a dizer que a ampliação de vagas de internação não é suficiente neste momento. "Nós não podemos só ampliar leitos. Nós estamos fazendo, vamos fazer mais. Nós vamos dar assistência ao máximo que pudermos, mas todos fazem parte dessa história, mas todos são responsáveis para nós diminuirmos o número de mortes."

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"Esse é o momento fundamental da importância de nós termos paciência. É muito difícil, depois de um ano, nós pedirmos paciência. Muitos deixaram de realizar os seus sonhos, tiveram o seu comércio absolutamente destruído, faliram, e nós estamos dizendo ainda 'paciência'. Mas nós temos que garantir o nosso maior patrimônio, que é a nossa vida”, lamentou o secretário. “Nunca pedimos com tanto clamor: precisamos estar juntos.”

Doria destacou que o funcionamento do Metrô e da CPTM não terá alterações. “Recomendamos que os municípios não reduzam a oferta de ônibus. O que precisamos é reduzir o número de pessoas utilizando.”

Segundo a secretária estadual de Desenvolvimento Regional, Patricia Ellen, as novas restrições a atividades econômicas foram feitas a partir de um mapeamento de setores que atraem grande público. A recomendação é que as empresas migrem “o que for possível” para o teletrabalho. 

Ela explicou, ainda, que a suspensão dos serviços de venda de produtos “para levar” se deve ao fluxo de retirada dos produtos e possíveis irregularidades. “Muitos, infelizmente, ficam com a porta baixa e as pessoas vão entrando e se aglomerando lá dentro.”

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João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência, reforçou o cenário preocupante que São Paulo vive. "Se isso não for cumprido nos próximos 15 dias, nós não vamos conseguir acompanhar a velocidade da pandemia colocando mais leitos. Se não conseguirmos implementar essas medidas e não conseguirmos aumentar o isolamento social, muita gente vai morrer”, comentou.

“Muita gente com plano de saúde, com o melhor plano de saúde. Não vai ter leito nos hospitais privados. Empreendedores de sucesso morrerão. Com muito dinheiro na conta, mas morrerão. Assim como também morrerão trabalhadores informais, pessoas da classe média, todas. Não vai ter leito para todo mundo. E os médicos vão ter que optar por quem vai ocupar esses leitos”, completou. “Então, é fundamental que a gente receba todas as recomendações que temos agora. Essa é a única maneira que temos de nos proteger: isolamento social. Só sair de casa quem realmente tiver um motivo muito especial para sair. E, se sair, se proteja ao máximo e pelo mínimo de tempo possível. Não teremos milagres, não teremos soluções que possam ser implementadas nem por governo, nem ninguém. Nós não temos vacina para todo mundo, infelizmente."

Na coletiva de imprensa, o governo exibiu um vídeo de UTIs lotadas em municípios paulistas, como Botucatu, Bauru, Itapecerica da Serra, Ferraz de Vasconcelos, Osasco, Piracicaba e Presidente Prudente, além da capital paulista (em distritos como Guaianazes, Vila Alpina e Ipiranga). “Faça sua parte”, diz o encerramento da exibição.

Novamente, foram divulgados canais para denúncias de aglomeração, que podem ser feitas pelos telefones 0800 771 3541 e 3065 4666, pelo site do Procon (procon.sp.gov.br) e pelo e-mail secretarias@cvs.saude.sp.gov.br.​

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Governador João Doria (PSDB) e secretário da saúde, Jean Gorinchteyn Foto: Governo do Estado de São Paulo

Os demais serviços e comércios permanecem com as regras da fase vermelha. Não há, portanto, restrição para o funcionamento de farmácias, supermercados e postos de gasolinas, dentre outros, enquanto espaços culturais, salões de beleza e bares seguem fechados.

São Paulo bateu recorde de internações

São Paulo está com fila de espera para leitos de internação pela central que regula transferências, vinculada ao Governo do Estado. Neste mês, ao menos 27 pessoas morreram à espera de um leito (Taboão da Serra confirmou o 12º óbito na quarta-feira). 

A taxa de ocupação é de 87,6% em UTI no Estado, média que é de 86,7% na Grande São Paulo. Em enfermaria, a ocupação é de 66,1% no Estado, enquanto é de 74,2% na região metropolitana da capital.

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O Estado bateu o recorde de internações de toda a pandemia na quarta-feira, com 2.690 novas hospitalizações relacionadas à doença em um único dia. O maior registro anterior era de sexta-feira, 5, com 2.484, que já superava o recorde de 2020, de 2.201 internações, em 15 de julho. A média móvel também é a maior de toda a pandemia, com 2.378 novas internações por dia, um aumento de 19% em relação à média da semana anterior.

Na terça-feira, 9, e na quarta-feira, 10, o Estado teve os dois maiores registros de óbitos pela doença em 24 horas, com respectivamente 517 e 469 mortes confirmadas. Em 2020, o pico foi de 455 registros em um dia, no mês de agosto. A média móvel também é a maior de toda a pandemia, com 319 registros diárias. Isso significa um aumento de 32,3% em menos de duas semanas.

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