Inteligência artificial é bem-vinda na educação, mas precisa de regulação, defendem especialistas

Encontro promovido pelo ‘Estadão’ reuniu educadores para debater o uso adequado da IA entre alunos e docentes

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Durante muito tempo, um porcentual significativo de educadores argumentava que o processo educativo deveria ser feito sem o uso da inteligência artificial (IA). Hoje, ninguém mais se atreve a afirmar que isso seja possível. O desafio, portanto, é educar para o uso adequado da IA. Uma tarefa nada simples e que implica processo de regulação e de formação de alunos e docentes.

Até porque, se a questão geracional faz com que os alunos tenham mais familiaridade, não necessariamente garante uso adequado. “Temos de capacitar os professores para que (com domínio da ferramenta) estejam aptos depois a ensinar o estudante a usar a IA de forma crítica”, afirma Elzo Brito, formador de professores da área de tecnologia do Centro Paula Souza e que participou nesta terça-feira, dia 29, do Meet Point que o Estadão promoveu sobre o assunto.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita o editor Victor Vieira, Elzo Brito, Eduardo Zanini, Priscila Gonsales e Guilherme de Souza Dias. Foto: Felipe Rau/Estadão

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Quando o professor rompe preconceitos e se apropria do conhecimento, é capaz de orientar o aluno a usar a IA para além de gerar texto usando o chat GPT. E Brito dá dicas práticas: em vez de pedir uma resposta, o aluno pode orientar para que IA gere questionários, que simule problemas da vida real.

Para os docentes mais desconfiados, o educador lembra que esse receio é histórico. “Com a IA generativa, é exatamente a mesma lógica do Google e da Wikipedia. Existia um medo, mas, no fundo, o professor conhece o aluno, tem um panorama de como o estudante escreve e interage em sala de aula. Isso facilita a percepção, por exemplo, ao ler um trabalho. Ele não é enganado.”

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Nessa linha, a melhor estratégia é usar a IA como um assistente para um ensino mais personalizado e adaptado, diz Eduardo Zanini, diretor do Geekie. “Em um sistema tradicional, com muitas turmas e muitos alunos em todas as turmas, é praticamente impossível saber o que cada um precisa. Com a IA, é possível usar os dados para trazer caminhos e saídas de forma criativa. Para o que precisa mais, a ferramenta indica reforço. Para o que vai além, propõe atividades que o desafiam.”

Inclusive, um dos usos eficazes da IA, acrescenta Zanini, é no processo de inclusão escolar. No contexto das neurodivergências, por exemplo, a IA generativa possibilita que o aluno tenha o conteúdo que precisa para avançar dentro das suas possibilidades. “Quando você vai fazer uma atividade de inclusão, é para o Lucas que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista) e hiperfoco em animais. Daí, você gera uma questão com enunciado objetivo, imagem, poucas alternativas.”

IA na educação profissional

Na educação profissional, saber utilizar a IA de forma adequada é prerrogativa para estudantes não apenas terem mais ferramentas de aprendizado como também para conseguir e manter a empregabilidade.

“Temos de preparar o jovem e o adulto num cenário em que a IA vai ganhar muita força. É uma cultura que precisa estar enraizada em diversas questões dentro das instituições. Hoje, com o ciclo da tecnologia cada vez mais curto, as profissões se atualizam e a educação profissional precisa seguir esse mesmo ritmo”, diz Guilherme de Souza Dias, supervisor de Tecnologias Educacionais do Senai.

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O educador explica que no Senai os currículos estão em constante atualização a partir do que os dados de bancos nacionais e internacionais mostram sobre as vagas e as competências mais buscadas pelas empresas.

Nessa educação profissional, os professores do Senai trabalham a partir de três cenários trazidos pela propagação da IA:

  • o de neutralidade, que considera as poucas profissões que não serão impactadas pela IA;
  • o de complementaridade, com atualização de competências nas propostas curriculares e criação de cursos livres;
  • e no cenário de substituição.

“Um exemplo é o estatístico. Hoje, com base em IA, inclusive generativa, esse profissional tende a ser substituído. Mas, temos um outro perfil em ascensão, o cientista de dados. Transformar um estático em cientista de dados é um caminho mais curto e mais econômico do que começar do zero. Conseguimos aproveitar bons profissionais que em um curto espaço de tempo possam se recolocar no mercado.”

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Brasil tem ainda de resolver problemas estruturais

Usufruir dos benefícios da IA não pode prescindir de questões importantes ainda incipientes no Brasil, como a regulação, a infraestrutura das escolas brasileiras e a lógica metodológica que rege o nosso modelo educacional.

Na questão da regulação, é preciso garantir que o uso da IA respeite a privacidade e os dados dos estudantes, garantindo um equilíbrio que promova tanto a segurança quanto a inovação. A inspiração para o projeto de lei que cria o Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil é o modelo europeu, o continente mais avançado nessa discussão.

“Especialmente na Europa, existe um olhar muito nítido sobre como a tecnologia digital sozinha não melhora a educação”, afirma Priscila Gonsales, pesquisadora da Unicamp e diretora do Instituto Educadigital.

O Brasil, argumenta, tem ainda de resolver problemas estruturais – como professores mal remunerados, escola sem energia elétrica, sem computador e sem conexão.

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Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 31/10 - Pais “helicópteros” e a superproteção
  • Dia 6/11 - Como educar crianças antirracistas
  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga
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