A primeira fase da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) 2023 teve um tom crítico, temas contemporâneos e uma aproximação ao estilo característico ao do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Professores ouvidos pelo Estadão consideraram o conjunto de questões com uma dificuldade entre mediana e alta. A aplicação da prova, principal porta de entrada da Universidade de São Paulo (USP), ocorreu na tarde deste domingo, 4.
Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo, avalia que foi uma prova que explorou muitos gêneros textuais, com mapa, poema, música, gráfico, texto filosófico, quadro etc. “Até meme. Ou seja, é uma característica que vai aproximando a prova da Fuvest com a do Enem e da Unicamp”, comenta.
Ele também destaca que as questões não estavam selecionadas de forma tradicional, por grupo de disciplina. “Cria uma leitura de mundo que vai passando por diferentes disciplinas, não consideradas estantes, o que pode também pode acrescentar um grau de dificuldade para os alunos”, avalia.
Além disso, Paganim destaca que a prova mesclou temas clássicos e contemporâneos. “Apareceram questões ligadas ao racismo, ao voto feminino, ao papel das mulheres no mundo do trabalho, à nomenclatura utilizada no mundo do trabalho. Outros temas de fundo ligados ao Estado, à ditadura, à dilapidação do patrimônio público”, cita. “Além de questões clássicas sobre o mundo agrário, como o uso de fertilizantes, a dinâmica do espaço agrário no Brasil, as mudanças climáticas e a energia limpa.”
Ao todo, a prova contou com 90 questões, relacionadas às áreas de biologia, física, geografia, história, inglês, matemática, português e química. Todas tinham cinco alternativas e apenas uma opção correta. O gabarito foi divulgado por volta das 19 horas e está disponível neste link.
“A prova veio com temas sociais bem intensos e foi muito atual, apesar de não ter caído covid”, comenta Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais do SAS Plataforma de Educação. Como exemplo, cita um quadrinho do personagem Armandinho, de Alexandre Beck, em que o menino pergunta ao pai se é possível “detonar o patrimônio público”, como hospitais, universidades, florestais e estatais.
“Foi toda interdisciplinar”, emenda o professor. “Nós tivemos questões de inglês com química, de matemática com aplicação à música, outra de matemática com inferências a um gráfico sobre emissões de CO2, de pesticidas em química, sobre contaminação nos Rios Tocantins e São Francisco”, exemplifica.
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, avalia que a prova cobrou “conhecimentos dentro da realidade do aluno”. “Questões bem elaboradas que exigiam raciocínio e preparo, bem feitas, atuais.”
Já Rodrigo Fulgêncio, diretor executivo de unidades escolares do Poliedro Educação, comenta que “ficaram mais explícitas” questões de filosofia e sociologia neste ano, como a que trouxe dois textos do historiador Sérgio Buarque de Holanda sobre a cultura brasileira.
“Embora seja uma prova menos ‘conteudista’ clássica de Fuvest, não significa que está mais fácil. Está mais complexa, porque dialoga com várias disciplinas, têm uma carga interpretativa e interdisciplinar muito grande e as respostas são bem diretas e curtas”, aponta.
Para Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, o vestibular da USP buscou selecionar um “estudante leitor e estudioso, que se interesse pelo mundo em que vive e tem formação crítica, que sabe fazer leitura de gráficos e que tem a língua estrangeira como algo obrigatório para ele”. Ele destaca que parte das questões de inglês envolviam também outras disciplinas, como química e física.
A primeira fase teve 13,8% de abstenção, semelhante à média do ano passado, de 13,7%. Dos 114,4 mil inscritos, 15,8 mil não compareceram aos locais de aplicação. Para 2023, das 11,1 mil vagas da USP, 8,2 mil têm ingresso via Fuvest.
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