Mais da metade dos alunos desiste da faculdade no Brasil: por que TI tem um dos maiores abandonos?

Seis alunos em dez saem antes de se formar; mercado de trabalho aquecido e cursos desatualizados estão entre as razões

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Mais da metade (55,5%) dos alunos que entram na faculdade no Brasil desiste dos cursos antes de se formarem. Nas áreas de tecnologia, como Ciência da Computação, Design de Games ou Sistemas de Informação, o abandono é ainda maior do que a média: 6 em 10 saem antes de terminar. Segundo especialistas, o mercado de trabalho aquecido, que emprega sem necessidade de diploma, e a desatualização dos currículos fazem os jovens não verem sentido em terminar uma graduação em TI.

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Os números são do Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, divulgado nesta terca-feira, 20. Pela primeira vez, a pesquisa da entidade, que representa as faculdades privadas, mapeou os indicadores de trajetória dos alunos e não só evasão computada no primeiro ano.

Usando o ano de 2017 como base para ingressantes na faculdade, os dados mostram que 55,5% dos alunos tinham deixado os cursos em 2021 no Brasil. Após cinco anos, apenas 26,3% haviam se formado e outros 18,1% ainda estavam cursando.

Para o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, a desistência em cursos de graduação é uma preocupação no mundo todo, pela pouca aderência que o curso superior tem em relação à expectativa dos jovens. “Eles querem ter contato com o mundo do trabalho, gerar renda, ser mais independentes e acabam se frustrando com discussões teóricas”, afirma.

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Usando o ano de 2017 como base para ingressantes na faculdade, os dados mostram que 55,5% dos alunos tinham deixado os cursos em 2021 no Brasil Foto: Taba Benedicto/Estadão - 11/03/2020

Mas o Brasil tem números mais altos, segundo ele, principalmente por questões econômicas. “A pessoa ingressa e não consegue continuar pagando. Ou entra no curso mais barato porque é o que pode pagar, mas não estava vocacionado para aquela área. Muitas vezes ele quer fazer Arquitetura, mas faz Pedagogia a distância porque é o que cabe no bolso. A chance de se frustrar e desistir é enorme”, completa.

Os números mostram que a desistência é maior em instituições privadas (59%), mas o número é alto inclusive entre as públicas (40,3%), gratuitas e consideradas de excelência no País. Também há maior abandono em cursos feitos à distância (EAD) do que os presenciais.

Nos últimos anos, o Brasil tem registrado alta significativa de cursos EAD, com preços mais baixos e que atraem principalm ente estudantes de baixa renda e levam a questionamentos sobre a qualidade de formação. O aumento da oferta entre 2020 e 2021, segundo o Mapa do Ensino Superior, foi de 26,6% na rede privada, onde estão 92,6% dos cursos não presenciais.

Hoje, 62,8% dos estudantes que entram no ensino superior brasileiro vão para cursos a distância. A inversão com relação aos cursos presenciais vem desde 2019, e se acelerou com os efeitos da pandemia.

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A área com menor desistência é Medicina, que são cursos caros em universidades privadas e difíceis de entrar, o que faz com que seja uma opção mais refletida. Só 18% dos estudantes de Medicina desistem.

Já nos cursos nas áreas de TI o índice é de 65,5%. Entre os que mais há desistência estão: Design de Games (75,9% abandonam antes de acabar) e Banco de Dados EAD (72,7%). Segundo o consultor de educação em TI Carlixtrato Mendonça, que comenta o estudo, as instituições deveriam “assinar acordos e convênios com empresas de tecnologia”. Dessa forma, as demandas do mercado poderiam ser incluídas nos currículos, o que deixaria os cursos mais atrativos.

Capelato afirma que as universidades precisam repensar seus currículos de TI, inclusive com disciplinas cursadas dentro das empresas, com certificações. “Hoje se o aluno faz microcertificações independentes, ele tem mais chances de crescer no emprego do que fazer um bacharelado de 4 anos.”

No entanto, o Capelato acredita que esses jovens, que preferem formações estritamente técnicas, não adquirem competências e habilidades comportamentais que serão importantes no futuro no trabalho, presentes em um curso superior de qualidade. “Serão ótimos programadores, por exemplo, mas terão dificuldade de assumir cargos de liderança, trabalhar em equipe, lidar com problemas, ter pensamento critico, se comunicar bem”, avalia.

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Outro problema é uma educação básica sem qualidade, com formação insuficente nas áreas de exatas, o que faz com que os estudantes não consigam acompanhar os cursos superiores de tecnologia e desistam. No Brasil, só 5% dos alunos terminam o ensino médio com desempenho considerado adequado em Matemática, segundo avaliações do Ministério da Educação (MEC).

Principais números:

  • 55,5% dos alunos que começaram a faculdade em 2017 no Brasil já tinham desistido em 2021
  • A desistência é maior em instituições privadas (59%) do que nas públicas (40,3%)
  • Em cursos de TI, 66,5% desistem do curso antes de acabar
  • Medicina tem o índice mais baixo de desistência, 18%
  • Em Direito, são 52,1% e nas Engenharias, 56,5%
  • 468 mil estudantes cursam ensino superior em TI. Os cursos mais procurados são Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Gestão de Tecnologia da Informação
  • Cursos a distância cresceram 26,6% na rede privada, onde estão 92,6% da oferta não presencial

Segundo o Mapa do Ensino Superior, há 468 mil estudantes cursando o ensino superior em áreas de TI, 49,8% deles em cursos EAD. A maioria estão no Sudeste e em São Paulo. Os cursos mais procurados são Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Gestão de Tecnologia da Informação.

A modalidade a distância é a que mais cresce na área de TI, com 45% a mais de alunos entre 2020 e o ano seguinte. Mesmo com a demanda crescente no mercado de profissionais nessas áreas, os cursos presenciais tem perdido alunos de TI ano a ano.

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Depois da TI, as áreas que mais perdem alunos são as engenharias. Do total que ingressou em 2017, 56,3% não terminaram o curso em 2021. Nas universidades privadas, a desistência é ainda maior em todas as áreas. Nas engenharias, chega a 63%; Em Direito, o índice é de 54,2%, o mesmo de Pedagogia.

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