MBA em inglês no Brasil é diferencial para executivos

Opção, oferecida por instituições de ensino superior de ponta, é uma forma de encurtar caminho, baratear processo e também enriquecer a experiência

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Se no mundo globalizado o ritmo dos acontecimentos dita a velocidade do aprendizado, estudar no idioma oficial dos negócios sem ter de sair do País é uma forma de encurtar o caminho, baratear o processo e ainda enriquecer a experiência. Esse é o mote dos cursos de MBA em educação executiva oferecidos no Brasil, mas sem uma única linha escrita ou qualquer palavra falada na língua portuguesa.

“Uni todas as vantagens de um MBA no exterior, mas com um custo menor e sem ter de alterar toda a minha rotina”, afirma Vivian Mayumi Ueda, de 35 anos, estudante do Executive MBA da Business School São Paulo (BSP), a primeira instituição no Brasil a criar, em 1994, um MBA Executivo com todo o conteúdo ministrado em inglês. 

Vivian Ueda Foto: Amanda Perobelli

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A inspiração para o modelo veio das escolas europeias e norte-americanas, que já trabalhavam os desafios mundiais sob um olhar global, explica a coordenadora da pós-graduação da BSP, Monica Sabino Hasner. “O idioma ajuda muito porque podemos ter professores estrangeiros e usar casos e literatura recentes e internacionais.”

No início, as turmas eram uma mescla de estrangeiros e brasileiros. Com o tempo, os brasileiros se tornaram quase a totalidade dos matriculados. É gente que ocupa cargos que exigem interação global e que, muitas vezes, têm subordinados fora do País, como é o caso de CEOs e de diretores.

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Vivian, por exemplo, usa o idioma diariamente no trabalho. A fluência foi verificada no processo de seleção - com entrevista e prova em inglês - e é aperfeiçoada no desenrolar do curso. “No início, fiquei um pouco apreensiva. Foi difícil virar a chave porque a gente tende a pensar em português. Mas peguei o ritmo. Além de os próprios colegas ajudarem a completar uma frase, os professores também intervêm se percebem que a gente está com dificuldade de formular uma ideia”, conta Vivian. 

O curso é dado em um ano, com quatro semanas de imersão, sendo duas delas fora do País. A escolha pelo formato de imersão, e não por encontros semanais ou quinzenais, visa a propiciar um contato mais estreito entre alunos e a ter menos interferência do ambiente externo.

“A maioria dos alunos está de férias ou afastada do trabalho na semana da imersão. Isso faz com que a gente consiga se concentrar sem ter, por exemplo, de atender telefonemas ou responder e-mails urgentes. Além disso, passar uma semana inteira pensando em inglês faz a fluência melhorar muito”, afirma Vivian.

Sem perder o timing. E se você puder ter aulas no Brasil com aquele especialista que é referência mundial em determinado assunto? É isso o que o Insper propõe ao trazer os melhores do mundo para falar sobre temas emergentes.

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“A gente percebeu que muita gente sai do País e vai fazer um curso fora por conta da expertise dos professores e da experiência de determinado local em lidar com um assunto”, afirma Rodrigo Amantea, coordenador da Educação Executiva da instituição. “Ao trazermos esses especialistas para cá, o estudante tem esse acesso sem ter de ir para fora.”

No mês passado, dois cursos do Insper de curta duração - Innovation Strategy e Futuring: Designing Strategic Scenarios - foram ministrados, respectivamente, por Phil Swisher e Mia A.M. de Kuijper, ambos docentes da Universidade Harvard.

“Muitos se inscrevem porque conhecem os professores, já fizeram curso fora e estão acostumados com uma leitura mais complexa em inglês e com um modelo mais intensivo de educação executiva”, explica Amantea.

E, especificamente nesses cursos de curta duração do Insper, assistir a esses especialistas no Brasil tem uma vantagem: dá para usar o serviço de tradução simultânea. Do público total, Amantea estima que 25% usam o fone para conseguir entender alguns detalhes mais complexos.

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O acesso ao áudio traduzido, no entanto, é uma exceção. Na maioria dos cursos oferecidos no Brasil, o inglês é pré-requisito e o domínio do idioma é aferido, como na BSP e na Fundação Instituto de Administração (FIA). Essa última oferece três cursos na modalidade: o Americas MBA, o International MBA e o International MBA Full Time. O acesso a qualquer um deles é feito mediante uma prova e uma entrevista realizadas em inglês.

Público. Enquanto nos dois primeiros cursos o público é majoritariamente brasileiro, o International MBA Full Time é procurado principalmente por estrangeiros que veem para o Brasil para um período sabático, com ou sem intenção de se estabelecer por aqui.

Boa parte dos interessados busca fazer um curso de qualidade similar ao que encontraria no país de origem, mas em um ambiente menos óbvio. Na turma de 2015 havia profissionais de 12 países, da Europa, da Ásia e do Oriente Médio. 

O dinamarquês Jakob Ammerlaan Stenbaek veio com a família após a mulher ser transferida temporariamente para o Brasil. Após chegar, há dois anos, se matriculou no MBA da FIA e agora, com o diploma na mão, quer atuar no País por ao menos três anos, tempo estimado para a volta à Europa.

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“Mais valioso do que tudo que eu pudesse aprender foi a experiência de trabalhar e socializar com gente de tantos lugares diferentes”, afirma ele, que enxergou riqueza até na profusão de sotaques. “Como a maioria dos alunos não é falante nativo do inglês, estamos todos no mesmo barco. Isso torna tudo ainda melhor, e ajuda a criar uma experiência internacional.”

ENTREVISTA

‘Os estrangeiros são generosos’

Leandro Fraga, professor e pesquisador da FIA

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Leandro Fraga Foto: Divulgação/FIA

Os alunos brasileiros leem e escrevem bem, mas às vezes têm dificuldade nas aulas para se expressar. “Eles ficam um pouco mais inibidos no início porque veem colegas estrangeiros que são mais treinados, mas ao longo do processo vão se ambientando”, conta o professor e pesquisador Leandro Fraga, que dá aulas em português e em inglês na FIA. 

Confira a seguir trechos da entrevista que Fraga concedeu ao Estado:

Como é o inglês do aluno brasileiro que procura os MBAs da FIA?

Sempre noto que os brasileiros ficam um pouco mais inibidos no início porque veem colegas estrangeiros que são mais treinados, mas ao longo do processo vão se ambientando. Porque, na verdade, eles sempre conseguem ler e entender. A dificuldade, quando acontece, é para se expressar. Mas, daí, a gente tenta acolher. O estímulo é que usem a língua mesmo que erroneamente. Não há um rigor gramatical. O objetivo é que eles se desinibam para fazer isso de forma prática depois, ao longo da vida. Afinal, não se trata de uma aula de inglês, mas de um curso em inglês. 

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Quando é preciso corrigir ou intervir?

Quando o aluno diz alguma coisa que não é bem o que ele queria dizer, como nas vezes em que ele tropeça nos falsos cognatos. Quando isso acontece, eu pergunto se ele queria dizer isso ou aquilo. Ele faz a opção e a gente continua, sem problema nenhum. Eu não sou professor de inglês, sou da disciplina. No fim, a dinâmica das aulas vai crescendo em função disso. Eu brinco dizendo que inglês é o esperanto que deu certo.

Você também não é um nativo da língua inglesa e tem alunos que são. E quando é você quem erra?

Eu estudei inglês quando era jovem e depois tanto uma experiência executiva como a docência foram refinando esse processo de aprendizagem. Além disso, os alunos estrangeiros também são generosos a ponto de não ficar apontando as eventuais falhas que a gente comete. Aliás, a gente as comete até mesmo em português.

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Você dá aulas tanto em cursos em português como em inglês. Qual é a principal diferença?

As aulas são diferentes não no conteúdo estrutural em si, mas no contexto. Há coisas que fazem sentido para o aluno brasileiro - que conhece o contexto, a história ou o personagem ao qual você se refere - e são desconhecidas para o estrangeiro. Até as piadas muitas vezes fazem sentido em um idioma e não em outro. Por isso, quando há uma mescla de alunos, é importante tratar de temais mais internacionais, procurar dentro do contexto quais elementos terão mais representatividade. Se a gente fala da Apple, vale pra todo mundo. Por outro lado, há empresas brasileiras respeitabilíssimas, como a Natura, mas que os americanos do Norte ou os asiáticos não fazem ideia do que seja ou do que representa para a gente.

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