O Ministério da Educação (MEC) vai premiar escolas e estudantes que se saírem bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. “É uma espécie de Oscar da Educação. Pode ser prêmio em dinheiro, em equipamentos para a escola”, disse o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), ao Estadão. “A gente precisa dar visibilidade aos números; isso incomoda os Estados que não estão bem. E a população cobra: por que meu Estado não avança?”
O Ceará, governado por Camilo durante oito anos, foi pioneiro em premiações para escolas que se destacassem em avaliações educacionais, especialmente na alfabetização, com valores em dinheiro para professores, gestores, escolas e municípios.
Alguns países desenvolvidos, muitos deles asiáticos, também usam políticas similares na educação. A estratégia, no entanto, recebe críticas de setores da esquerda, que entendem haver supervalorização de metas e resultados.
- O modelo e os valores desses prêmios ainda estão sendo desenhados pela pasta. Segundo Camilo, a ideia é ainda dar bonificações para outras áreas, além do Enem e da alfabetização, para “quem mais avança no ensino integral, quem mais avança no ensino técnico, para professor, aluno, município, Estado”.
O ministro diz que pretende fazer “uma grande solenidade com o presidente” Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para essas premiações.
“Por que a gente não premia esses meninos que tiram mil na redação do Enem? É um estímulo, reconhecer o talento”, completa. No caso do exame, o MEC também deve dar bonificações para escolas ou Estados com mais adesão à prova.
Segundo ele, a ideia não é criar um ranking dos melhores, o que poderia ressaltar desigualdades, mas reconhecer aquelas redes e escolas que obtiveram a maior evolução de desempenho.
Por que a gente não premia esses meninos que tiram mil na redação do Enem? É um estímulo, reconhecer o talento
Camilo Santana
Nos últimos anos, o número de alunos que participam do Enem tem diminuído no País. No ano passado, menos da metade dos jovens matriculados no último ano do ensino médio fizeram o exame.
Segundo ele, o governo está fazendo uma pesquisa para entender os motivos. “Falta uma liderança local para fazer a motivação, falta o estímulo das redes com os alunos”, aponta.
Sobre mudanças no Enem por causa da reformulação do novo ensino médio, aprovada mês passado na Câmara dos Deputados, Camilo afirmou que a prova não deve avaliar a parte flexível do currículo. “O Enem precisa ser todo só sobre a formação geral básica.”
A reforma do ensino médio prevê a oferta das disciplinas obrigatórias comuns - como Matemática, Geografia e Química - e conteúdos escolhidos pelo aluno. Essa carga horária optativa pode ser o aprofundamento de estudos em uma área ou um curso técnico/profissional.
O PL em tramitação no Congresso prevê que a prova deva ser mudada em 2027 para se adequar ao novo ensino médio e há discussões sobre como o testes vai cobrar o que é ensinado nos chamados itinerários formativos, que fazem parte da carga optativa.
Camilo esteve nesta quarta-feira, 3, em São Paulo para lançar o programa Pé de Meia no Estado. Apesar de o evento ter ocorrido na Secretaria Estadual de Educação, nem o secretário Renato Feder nem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estavam presentes. O programa dá bolsas para estudantes de ensino médio que permaneçam na escola e participem do Enem. Em São Paulo, serão R$ 1 bilhão em recursos do governo federal.
Nesta quinta-feira, 4, o ministro lançou o programa no Rio de Janeiro ao lado do governador Claudio Castro (PL). “A gente perde 480 mil jovens no ensino médio por ano. Esses jovens estão indo para onde? Para a droga, para o tráfico, muitas vezes por necessidade financeira, para ajudar pai e mãe.”
Camilo está rodando o País para divulgar o Pé de Meia, já esteve em 15 Estados, e se orgulha de ter “criado e colocado para rodar em 45 dias” a nova bolsa. Mesmo assim, ele afirma que um dos desafios do MEC ainda é ter mais dinheiro para educação.
‘Pegamos um ministério que era terra arrasada’
O ministro também respondeu às críticas de que o governo esteja sendo lento na execução de políticas para a educação. “Pegamos um ministério que era terra arrasada, sem dinheiro, sem orçamento, sem pessoal, sem formação. Conseguimos aumentar o orçamento em R$ 52 bilhões”, disse. Segundo Camilo, os “principais programas” também já foram lançados, como a política de alfabetização, da escola em tempo integral, o projeto do novo ensino médio e o Pé de Meia.
Estimular que o ensino médio seja técnico profissionalizante, para mim esse ainda é o grande passo maior que a gente precisa dar
Camilo Santana
“Estimular que o ensino médio seja técnico profissionalizante, para mim esse ainda é o grande passo maior que a gente precisa dar”, afirmou. Segundo ele, a nova política do Ministério da Fazenda, que vai dar descontos nos juros das dívidas dos Estados em troca de investimentos em ensino técnico, deve propiciar um grande salto na quantidade de alunos nessa modalidade, que hoje está em 10%.
Segundo o ministro, a meta do governo é que o Brasil chegue a índices de matrículas no ensino técnico semelhantes a de países ricos, acima de 50%. “O ideal seria 100%”, afirmou Camilo.
Pesquisas mostram que países que têm os melhores resultados nas avaliações internacionais investem fortemente para que os alunos cursem o ensino profissional e tecnológico junto com o médio. No Brasil, segundo o ministro, o estímulo maior deveria ocorrer em áreas de tecnologia e ambiente.
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