Integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) entraram em confronto na última sexta-feira, 1º de setembro, dentro de um dos campus da instituição, em Curitiba, capital do Estado. Nesta quarta, 6, a UFPR usou as redes sociais para alegar, com base nas imagens de monitoramento e com as gravações feitas pelo próprio MBL, que o grupo foi o responsável por provocar os estudantes e iniciar a confusão.
O conflito teria começado porque o MBL queria pintar de branco as paredes do Centro Acadêmico do curso de História que, segundo o grupo, estava depredado e com mensagens políticas de inclinação de esquerda, “Encontramos pichações de comunismo, de anarquismo, de símbolos satânicos e do rosto do ditador norte-coreano Kim Jong-un”, disse o Movimento Brasil Livre, em resposta aos questionamentos feitos pela reportagem.
Já a UFPR afirma que o MBL filmou os estudantes e as instalações da universidade sem autorização e provocou os alunos durante toda a confusão. Diz ainda que o grupo, em depoimento à polícia, deu uma versão diferente do que mostram as câmeras de monitoramento da instituição.
Em trechos do boletim de ocorrência, apresentados no vídeo da universidade, os manifestantes afirmam que foram “perseguidos” pelos alunos dentro do campus. A UFPR diz, porém, que a informação é falsa e que os membros do MBL insistiam em provocar os estudantes, chamando-os de “vagabundos”.
O que aconteceu?
Sete integrantes do MBL, e um segurança contratado pelo grupo, entraram na universidade na manhã da última sexta, no prédio onde acontecem as aulas dos cursos de Humanas da UFPR. Em um vídeo publicado pelo grupo, o integrante Gabriel Costenaro afirma que eles estavam na unidade porque “queriam conversar com os alunos sobre as vagabundagens que estão defendendo.”
Além de Costenaro, os integrantes do MBL Matheus Faustino e João Victor Mattos Bettega também participaram da manifestação. Nenhum dos sete integrantes do MBL envolvidos na confusão é estudante da universidade.
A reportagem apurou que, por ser um espaço público, a entrada da UFPR é livre, sem a presença de catracas, e o local onde aconteceu a confusão foi no prédio D. Pedro I, onde acontecem as aulas dos cursos de Humanas.
No interior da universidade, os integrantes do MBL entraram no Centro Acadêmico do curso de História, no 6º andar, sob a justificativa de que havia denúncias de que o espaço estava sendo depredado, e com mensagens e figuras políticas em alusão à esquerda.
Por causa da presença dos manifestantes no Centro Acadêmico, os estudantes também entraram na sala. Como os membros do MBL estavam fazendo filmagens, os alunos disseram que se recusavam a ser gravados com base na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Vigilantes também tentaram barrar as gravações, segundo a UFPR, mas os manifestantes insistiam em registrar imagens.
O vídeo postado pela universidade mostra que o integrante Gabriel Costenaro chega a subir em uma mesa com uma lata de spray na mão e diz aos alunos, em tom de ameaça: “Vai tomar”. As cenas seguintes mostram uma série de empurrões entre os envolvidos.
Os membros do Movimento Brasil Livre chegaram a correr pelas rampas do prédio em direção a saída. Imagens de monitoramento divulgadas pela UFPR mostram um dos integrantes espirrando, com uma lata de spray, um líquido em direção ao rosto de um aluno.
Já fora da universidade, MBL e universitários continuaram o bate-boca na esquina das ruas XV de Novembro com Dr. Fraire. Eles chegaram a entrar em confronto e, de acordo com a universidade, uma aluna “foi jogada ao chão sofrendo ferimentos”.
Ainda de acordo com a UFPR, uma funcionária chegou a receber um soco no estômago quando, ainda dentro do prédio, se aproximou para entender a confusão. Mas, com medo, ela preferiu não fazer boletim de ocorrência e não soube dizer de qual pessoa teria partido a agressão, e nem saber se foi intencional. Tanto estudantes como manifestantes prestaram depoimento à polícia depois do episódio.
‘Situação tremendamente grave’, diz reitor da UFPR
“Essa é uma situação tremendamente grave porque passa não só a UFPR, mas por todas as universidades públicas”, disse o reitor da universidade, Ricardo Marcelo Fonseca, em referência a ações parecidas feitas pelo MBL recentemente em outras instituições públicas de ensino, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade de São Paulo (USP).
“O fato de sermos instituições públicas não significa que sejam espaços sem regras e sem lei, passíveis de qualquer forma de nevada e agressão”, disse Fonseca. “Estamos tomando várias providências na UFPR, mas creio que seja necessário que a gravidade desse tema deva transcender as reações individuais das instituições”, completou o reitor.
MBL alega perseguição
O MBL diz que as ameaças com o spray foram feitas em resposta à tentativa de pegarem o celular de um de seus integrantes. “Quando tentaram roubar o celular do Bettega e agredir nossos integrantes (imagens que a UFPR não mostrou), a reação foi apelar ao spray como uma defesa, pois não queríamos um confronto físico”, respondeu o grupo ao ser questionado pela reportagem.
O MBL disse ainda que o spray não era de pimenta, como chega afirmar a UFPR, mas de “tinta branca”. “O intuito era remover pichações de apologia à violência. Detalhe, não chegamos a usar o spray em nenhuma parede.”
Sobre a cena que mostra um membro do grupo jogando spray na rampa, o MBL diz que “antes da segunda imagem do Costenaro no corredor usando o spray, um aluno tentou atingir o Bettega com um outro spray de tinta nas escadas (temos imagens para provar essa alegação). Naquele momento, estávamos fugindo e com medo de sermos encurralados e espancados.”
Sobre a confusão na rua, o grupo afirma que “um grupo de aproximadamente 20 pessoas nos perseguiu fora do campus”, que uma “moça tentou roubar o celular do Matheus Faustino” e que, “após o acontecimento, os alunos correram atrás de integrantes do MBL para intimidar e agredir”.
Em nota de apoio à UFPR, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) diz que “espera providências das autoridades, no sentido de responsabilizar os invasores e evitar a repetição desse tipo de conduta, que ofende os valores pelos quais se pauta o mundo acadêmico no Brasil e no mundo.”
O Estadão entrou em contato com a Polícia Civil do Paraná, mas não teve retorno.
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