Mercado maduro: 41,4% dos trabalhadores já passaram dos 40 anos

Segundo projeções do IBGE, até 2060 essa participação chegará a 57%. Conceito de lifelong learning, ou aprendizado contínuo, ganha força

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Por Maurício Oliveira
Atualização:
Luciana Brasil: mudança de carreira depois dos 40 Foto: Estadão Publishing House

Se você associa ambiente universitário exclusivamente a jovens recém-saídos do ensino médio, está na hora de rever seus conceitos. O Brasil tem mais de 1,2 milhão de universitários acima dos 40 anos, faixa etária que corresponde a 13,4% do total de estudantes nas instituições brasileiras de ensino superior. Esse índice varia de 6,7% nas universidades públicas (federais, estaduais e municipais) a 16,2% nas instituições privadas.

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Essa participação mais que dobrou nos últimos 20 anos – em 2002, era de 6,4%. E tende a continuar aumentando, como reflexo da mudança estrutural da pirâmide etária brasileira. Em 2000, apenas 27,1% da população tinha 40 anos ou mais. Hoje, essa participação é de 41,5%, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2060, chegará a 57%.

“Com o aumento da expectativa de vida, as pessoas estão percebendo que terão que trabalhar por mais tempo e isso inclui a necessidade de aprendizado contínuo”, diz Rafael Ricarte, líder de produto de carreira da Mercer Brasil. É o chamado lifelong learning, o aprendizado ao longo da vida. “Seja qual for a área de atuação, há novos temas que entraram para a ordem do dia de todos os profissionais, como inovação e transformação digital.”

Selo Age Friendly

Ricarte, da Mercer, ressalta que as empresas precisam se preparar para a nova realidade, em que os profissionais mais velhos serão uma parcela cada vez mais representativa da força de trabalho no País. “É preciso construir uma oferta de valor que faça sentido para esse público. Não se trata apenas de salário e benefícios, mas também de um ambiente acolhedor e uma cultura corporativa aberta e desafiadora”, descreve o especialista em carreira.

Com o objetivo de certificar empresas “amigáveis” para profissionais mais velhos, a consultoria Maturi – referência no tema no Brasil – trouxe este ano para o País o selo Age Friendly, que existe há 17 anos nos Estados Unidos. O objetivo é identificar empregadores comprometidos em oferecer um ambiente livre de ageísmo (preconceito e discriminação por conta da idade).

A Sanofi Brasil, multinacional do setor farmacêutico, foi a primeira a conquistar o selo, pela soma de ações focadas em empregabilidade e práticas de inclusão.

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A empresa faz uma busca ativa de profissionais para cumprir a meta de ter, até 2025, 20% dos funcionários com idade acima de 50 anos – o índice está em 16% dos 3,2 mil colaboradores no País. “Quando trabalhamos com profissionais mais maduros, contamos com colaboradores com visão sistêmica, habilidade relacional, propensão ao risco, resiliência e maior flexibilidade”, avalia Pedro Pittella, diretor de Pessoas da Sanofi Brasil.

Foco no estudo

A nutricionista Luciana Brasil, hoje com 49 anos, moradora de Belém (PA), é um exemplo de quem revolucionou a própria carreira depois dos 40, graças ao estudo. Foi contadora por dez anos e em 2009 fez uma pausa na carreira para cuidar dos três filhos.

O caçula, Angelo, hoje com 13 anos, enfrentava sérias restrições alimentares por conta de alergias. Essa circunstância fez Luciana mergulhar no mundo da nutrição.

Aos 43 entrou para a faculdade de Nutrição, se formou em 2020 e fez residência. Na sequência, montou consultório com atendimento online. Hoje está feliz e com agenda cheia.

“Ser mais madura na faculdade me deu um foco muito grande”, lembra Luciana. “Muita gente acompanhou o meu esforço, o que me deu credibilidade mesmo com pouco tempo de formada.”


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