A rápida adoção do meio online para a disseminação de cursos por grandes universidades internacionais, como a recente iniciativa edX – uma parceria de Harvard e do MIT para oferecer aulas via internet – já atrai investidores de olho no futuro do negócio.
Em meados de abril, o jornal The New York Times anunciou que a Coursera, uma companhia que reúne cursos online de cinco universidades americanas – Princeton, Stanford, California-Berkeley Michigan-Ann Arbor e Pennsylvania – deveria receber uma injeção de US$ 16 milhões (R$ 32 milhões) de duas grandes firmas de capital de risco. Do mesmo modo que os cursos que passarão a ser oferecidos pela edX – controlada por uma parceria sem fins lucrativos – as aulas da Coursera também são gratuitas. Mesmo assim, os investidores veem potencial de lucro no negócio. “Numa comunidade de milhões de aprendizes, alguns deverão optar por serviços premium, pagos”, disse ao diário nova-iorquino John Doerr, um dos investidores da Coursera, explicando o modelo de negócio que vê para sustentar os Cursos Online Maciçamente Abertos, ou MOOCs, como são chamados, na sigla em inglês. O modelo do edX, mesmo sendo gratuito, prevê a cobrança de uma “tarifa modesta” pelos certificados de conclusão de seus cursos que, ainda assim, não serão equivalentes a um cédito acadêmico ou diploma emitido por uma das universidades participantes. Cada uma das duas instituições parceiras anunciou um aporte de US$ 30 milhões, para um capital total de US$ 60 milhões (cerca de R$ 120 milhões), no estágio inicial do programa. A Coursera, por sua vez, nasceu de uma parceria de dois acadêmicos de Stanford, Andrew Ng e Daphne Koller. Ng foi um dos idealizados do projeto Stanford Engineering Everywhere (SEE), que disponibilizou gratuitamente, online, mais de uma dezena de aulas do curso de Engenharia da universidade. A Coursera já mantém online uma série de cursos, que vão desde uma história do mundo desde a Idade Média, de Princeton, a Engenharia de Software, de Berkeley. Os cursos são divididos em módulos semanais, compostos por vídeos e exercícios online. Em vez de exposições estáticas em vídeo, como aulas gravadas, nas exibições da Coursera os vídeos são interrompidos por ilustrações criadas especialmente para a internet e por atividades interativas, como exercícios para avaliar a compreensão do tema até ali. O site mantém fóruns de discussão, onde os estudantes podem comentar suas dificuldades e tirar dúvidas, além de comentar os exercícios. Quando o estudante precisa submeter redações ou artigos, como parte de seus deveres, as notas são dadas pelos colegas. Trabalhos escolares de avaliação mais objetiva, como a resolução de equações, são corrigidos automaticamente. Inversão O conceito lembra a “sala de aula invertida” popularizada pela Khan Academy. Criada por Salman Khan, com apoio da Fundação Bill e Melinda Gates, a academia, sem fins lucrativos, concentra vídeos em animação explicativos, que buscam funcionar como aulas sobre temas do ensino fundamental e médio. Na “sala invertida”, os vídeos, assistidos em casa pelos estudantes, são usados para expor o conteúdo. Já o tempo na escola, para tirar dúvidas e fazer exercícios com o acompanhamento dos professores. Segundo Khan, isso inverte o paradigma clássico de aulas expositivas aplicadas coletivamente na escola e de exercícios feitos de modo solitário, como parte do dever de casa. No caso da Coursera,o aluno assiste à aula sozinho, em casa, e depois interage com os colegas, tirando dúvidas e comentando os trabalhos,no fórum online. 'Tsunami' Outra startup do setor dos MOOCs é a Udacity, também criada por gente de Stanford: no caso, Sebastain Thrun, que em 2011 ofereceu um curso online gratuito pela universidade, de introdução à inteligência artificial, que atraiu mais de 160 mil estudantes de todo o mundo, sendo que 22 mil concluíram a matéria, recebendo um certificado que, no entanto, não equivale a um crédito acadêmico de Stanford. No início do ano, Thrun anunciou que estava deixando Stanford para se dedicar à nova empresa de educação via internet. A Udacity oferece cursos voltados para a tecnologia da informação – por exemplo, Design de Programas de Computador; Construção de Motores de Busca; Criptografia Aplicada. O modelo é semelhante ao da Coursera, com trechos breves de vídeo seguidos de exercícios e tarefas online.
O avanço dos cursos de distribuição maciça pela internet já causa preocupação entre os responsáveis por instituições tradicionais de ensino – publicações como o jornal Chronicle of Higher Education vêm trazendo, há algum tempo, artigos que comparam o estado atual do Ensino Superior ao dos jornais e revistas de papel no início da era dos noticiários online. Em entrevista recente à revista New Yorker, o atual presidente de Stanford, John Hennessy, disse que a questão do ensino à distância é a principal de suas preocupações. “Há um tsunami a caminho”, declarou.
Fonte: http://migre.me/9dSgd
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