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O espaço a ser dado pelos pais

Precisamos lembrar que filhos precisam iniciar o processo de construção da própria intimidade

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colunista convidado
Foto do author Rosely Sayão

A mãe de uma garota de nove anos tem estranhado a filha. É que seu comportamento tem mudado e ela está um pouco confusa com tal fato. A garota sempre foi educada e carinhosa com a família, principalmente com os pais. E continua assim, mas apenas dentro de casa. Quando ela está com os colegas, trata a mãe de maneira ríspida e nada gentil. Por outro lado, uma garota de 12 anos reclama da mãe: “Ela é muito grudenta, não me dá espaço”.

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Essas duas reclamações são reais e bem comuns nessa etapa da vida das crianças; muitos pais que já passaram com os filhos por essa fase tiveram também a mesma experiência. E vale dizer que a primeira situação pode ser entendida como o mesmo pedido da garota que quer mais espaço.

Na segunda parte da infância, após os 7 anos, mais ou menos, a criança dá grande valor ao seu crescimento e se orgulha de já não ser mais a criança pequena que precisava dos pais para tudo. E é na escola que se experimenta dar os primeiros passos com as próprias pernas.

Será na instituição escolar que a criança terá de se esforçar para se relacionar com os colegas e para ter companhia na hora do recreio, por exemplo, diferentemente do que ocorria na educação infantil, quando toda criança conta com a tutela permanente dos professores.

Crescida, a criança não quer mais ser vista pelos colegas como alguém que permanece grudada à mãe e ao pai, escreve Rosely Sayão Foto: Scott Webb/Unsplash

Crescida, a criança não quer mais ser vista pelos colegas como alguém que permanece grudada à mãe e ao pai. É por isso que, nessa fase, muitos filhos pedem aos pais que não os beijem quando chegam ou saem da escola, ou que os deixem a uma quadra da escola, para os colegas não testemunharem que ele ainda precisa da mãe ou do pai.

Ao mesmo tempo, eles sabem que ainda precisam, e muito, deles. Por isso, é importante que os pais saibam diferenciar tal limite: nos espaços privados da família, eles podem acolher carinhosamente os filhos; já nos espaços públicos, é bom respeitar o espaço que é do filho.

A garota de 12 anos já está com um pé na adolescência. Quem tem filhos nessa fase sabe: é possível encontrar objetos, roupas etc deles espalhados pela casa toda, não é? Pois isso significa a tentativa de alargar o seu espaço e restringir o dos pais. Só que não se trata de espaço físico: é simbólico, mas colocado em ato.

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Precisamos lembrar que eles precisam iniciar o processo de construção e conquista da própria intimidade, o que é fundamental para a saúde mental. Os pais precisam tutelar os filhos, mas exagerar pode resultar em prejuízos para o relacionamento entre eles e para o desenvolvimento dos filhos.

ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO ‘EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ'

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