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O exemplo e o orgulho do Nordeste

Citada por Bolsonaro, a região cobra cada vez mais educação de qualidade para seus filhos

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colunista convidado
Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Na primeira semana da campanha do segundo turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, deu um tiro no pé ao falar mal do Nordeste. Ele disse que os 67% dos votos de Lula (PT) na região seriam explicados pelas “altas taxas de analfabetismo, falta de cultura e falta de esperança” do povo nordestino.

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Por óbvia, não convém explicar quão furada é a estratégia quando um candidato precisa ganhar votos especialmente com essa população. Mas a declaração ainda é preconceituosa ao extremo. E carrega ignorância sobre Estados e cidades que se tornaram exemplo de educação para todo o País já há alguns anos.

As taxas de analfabetismo da população adulta, sim, ainda são mais altas no Nordeste por causa da pobreza e de séculos de exploração e pouco investimento. Entre adultos com mais de 40 anos, o Brasil tem 10% da população analfabeta; no Nordeste, são 23,9%. Com mais de 60 anos, são 18,1%, ante 37,4%. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, mostram que os analfabetos idosos são os que mais deixam de votar.

Escola em Sobral: O Ceará tem há anos um programa elogiado internacionalmente de alfabetização para crianças na idade certa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Investimentos em infraestrutura, transferência de renda e educação mudaram o Nordeste. O Ceará tem há anos um programa elogiado internacionalmente de alfabetização para crianças na idade certa. Começou com governos do PDT e continuou no PT (aliança que ruiu em 2022). Além de investimento em materiais, professores, didática, incentivos fiscais, escolas com melhor desempenho ajudam as piores. Os cearenses passaram a aparecer no topo dos rankings de avaliações e não mais saíram.

Na última edição da prova nacional de Português e Matemática, em 2021, os adolescentes do Ceará tiveram nota superior aos do Rio de Janeiro. Pernambuco também supera São Paulo. Veio de lá um programa de educação em tempo integral que inspirou paulistas e outros Estados. Transforma a escola em algo que faz sentido aos jovens, com projeto de vida, preparação para o mercado. E ainda há outros exemplos em Teresina (PI), Coruripe (AL) ou o recorde de patentes de uma federal da Paraíba.

Como dizer que não há transformação em um povo nordestino que passou a ter orgulho de ser exemplo de educação no País depois de décadas de preconceito? Só diz isso quem nunca conversou com um professor de Sobral, um aluno de Recife. O Nordeste cobra cada vez mais educação de qualidade para seus filhos. Se a cidade vizinha consegue, por que não a minha? Se para Bolsonaro isso não é esperança, não é valorização da cultura, não é cidadania, não sei o que é.

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