Há sete anos, a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda mundial composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. A meta de número 4 é justamente assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Uma das formas para garantir isso no Brasil é a adoção nessa área de práticas ambientais, sociais e de governança – a famosa sigla ESG, para muitos mais ligada ao trabalho do que às salas de aula.
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Mas isso aos poucos vem mudando. No Colégio Equipe, em São Paulo, por exemplo, os alunos do ensino médio podem participar de projetos sociais como o “Ver o Mundo”. Todas as terças-feiras, os adolescentes vão até a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Professor Alceu Maynard de Araújo, no Bom Retiro, na região central paulistana. Trata-se literalmente de um estudo de campo em que constroem um repertório comum de brincadeiras com crianças que são filhos e filhas de migrantes e refugiados.
“Metade das nossas crianças é de filhas de imigrantes. A maioria é boliviana, mas temos também filhos de peruanos, paraguaios e argentinos”, afirma a diretora da unidade, Simone de Castro Paier.
Ela explica que, por causa da pandemia do coronavírus, a maioria dessas crianças de 4 e 5 anos não frequentou a escola antes e, por isso, muitos chegaram neste ano à Emei sem falar nada em português. Enquanto ficaram em casa, se comunicavam nas línguas nativas, como o espanhol e o guarani.
Língua e fluência
Por isso, o resultado principal da troca entre os adolescentes e as crianças tem sido o desenvolvimento da fluência no português. “A professora é um adulto, tem a formalidade das regras, dos combinados da escola. O adolescente é uma visita, é muito mais lúdico”, diz Simone.
As diferenças de realidade entre os adolescentes do colégio paulistano e as crianças matriculadas na escola municipal também rendem reflexões e ensinamentos. “Falamos muito sobre as diferenças entre uma infância em Higienópolis (bairro em que o colégio fica localizado) e uma infância de uma criança que, ainda pequena, saiu do seu local de origem, percorreu longas distâncias em situações às vezes não muito favoráveis ao brincar e chegou ao Brasil, em São Paulo. Isso nos leva a outros temas, como a xenofobia, o racismo, como São Paulo recepciona de maneira mais ou menos hostil ou acolhedora, a depender de quem é que está chegando”, afirma a professora Inessa Silva de Oliveira.
Lara D’albuquerque Saponi, de 16 anos, participa da atividade e, para ela, um dos momentos mais especiais é quando fica possível incluir todas as crianças nas brincadeiras. “Um menino tinha dificuldade de brincar e conversar porque só falava espanhol. Mas aos poucos, com paciência, começou a ter vontade de participar mais e até sugeriu brincadeiras que ele tinha com sua família e amigos antes de vir para o Brasil.”
Luciana Fevorini, diretora do Colégio Equipe, reforça que o trabalho não tem viés assistencialista, e que a proposta é de que o projeto funcione como aprendizado mútuo. “O contato com a diversidade cultural, étnica e social só amplia a perspectiva de uma educação crítica. A escola precisa ter um olhar para uma educação mais ampla e contraditória”, afirma.
Ecologia política
Na Escola Móbile, por sua vez, uma das disciplinas eletivas para os alunos do ensino médio é Ecologia Política. O objetivo da aula é ir além das convenções internacionais do meio ambiente e trazer a discussão para uma escala local.
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“O tema traz a carga de justiça ambiental, porque o meio ambiente é um direito, dialoga com violação dos direitos humanos. Estamos vivendo num colapso climático, um problema histórico, que recai sobre qualquer ser humano. É importante entender esses problemas, engajar os jovens e construir ações de enfrentamento”, explica a professora Maisa Sobelman, que leciona a disciplina.
Nas aulas, os estudantes trabalham muito com leitura e discutem temas de interesse que vão aparecendo, como a relação entre desmatamento e veganismo; impacto da extinção das abelhas na agricultura; alternativas para a crise energética; efeitos sociais e ecológicos na produção agrícola. Para encerrar a disciplina, que dura um ano, os alunos precisam definir um tema de pesquisa e produzir uma reportagem, trazendo dados sobre o cenário atual, problematizações e soluções.
Laura Revoredo, de 15 anos, aluna do 1.º ano do ensino médio do Móbile, produziu uma reportagem sobre as formas de produção de alimentos que podem prejudicar o meio ambiente, abordando as questões relacionadas a agronegócio, recursos hídricos e redução de lençóis freáticos. “Gosto de fazer perguntas sobre os conflitos socioambientais, tenho uma preocupação com a fome, gosto de pensar em alternativas sustentáveis para o futuro.”
A professora Maisa Sobelman reforça que uma formação alinhada a esses temas é imprescindível, pois é cada vez mais latente a necessidade de haver relações mais equilibradas com o meio ambiente. “Lidamos com um público que, no futuro, vai atuar em grandes empresas, no poder público. É essencial abordarmos esses tópicos.”
A gestão da escola também reforça a preocupação em formar um aluno que tenha “repertório teórico para discutir o mundo”. “Cada vez mais, temos essa preocupação, de partir de problemas da contemporaneidade, de discutir como chegamos neles e quais ferramentas temos para mudar, quais as implicações se não mudarmos. É pensar o presente de maneira crítica”, afirma Teresa Chaves, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Móbile.