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O que a educação tem a ver com o resultado das urnas

Não é sobre ter escolaridade e, sim, sobre aprender a pensar

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colunista convidado
Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

O que a educação tem a ver com isso tudo? Com esse sentimento de perplexidade que muitos sentem desde ontem? Com a incompreensão pela eleição de ex-ministros que não compraram a vacina contra a covid-19 ou que incentivaram o desmatamento da Amazônia justamente quando todos sofriam pela pandemia? Não só ela, mas a educação tem muito a ver com isso.

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E não estou falando de escolaridade, de estar lá presente, passar de ano, ter vaga. Estou falando de qualidade. Uma educação que ensine a refletir e não só despeje Português e Matemática. Uma educação que ensine a ser cidadão e entender o que fazer para que seu país cresça, se desenvolva, dê oportunidade a todos, livre-se de preconceitos.

Isso só se faz com professores que ensinem a pensar. Não é conteúdo que falta, é reflexão. Pegar duas informações, juntar com outras tantas que já leu ou ouviu de fontes muito diversas, e tirar conclusões sensatas e éticas.

Crianças precisam aprender educação midiática para saber refletir sobre o que está na internet Foto: Clayton de Souza/Estadão

Países como Finlândia, França e Bélgica ensinam nas escolas processos políticos, conceitos de democracia, participação da sociedade civil. Pesquisas mostram que os alunos saem com valores mais fortes sobre equidade, tolerância e autonomia das escolas quando isso está presente. Mas aqui muita gente diz “não vamos falar de política porque dá briga”, esconde o assunto das crianças, afasta o adolescente do que importa para o futuro dele. Crescem adultos que não refletem.

Nossas crianças também precisam de educação midiática, presente em currículos de vários países, para entender que a imprensa profissional é séria. E que não há por que duvidar quando se diz que algo é fake news. Estive em igrejas evangélicas pentecostais na semana passada e, não importa o quanto se repete que tal notícia não é verdade, muitos ainda duvidam. Muitos também sequer leem ou consomem programações de veículos reconhecidos. E não só entre evangélicos, claro.

Poucos tiveram professores que ensinassem a buscar as fontes confiáveis, a conversar com o diferente, a ler sobre tudo, a formular hipóteses, a experimentar, a comprovar. E a fazer tudo de novo com uma nova ideia.

Nosso país dividido e polarizado, com ódio do outro, é fruto de uma educação ruim há séculos. Não, não era melhor no século passado. Nos anos 50, 60, 70 só as elites estavam na escola. Uma escola também conteudista e focada na competição e na reprovação.

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Agora, temos escola para quase todos, conseguimos alguns avanços, mas os desafios cresceram muito também. Pessoas são valorizadas pela quantidade de likes, adolescentes se matam porque não saíram bem no vídeo, enxurrada de informações chegam de todos os lados.

Escolas públicas e particulares precisam entender o seu papel crucial para o Brasil que queremos ser. Todo governante eleito ou que virá a ser eleito também.

Temos ainda milhares de docentes em instituições de Pedagogia de péssimo nível, com aulas só a distância, que se formam sem nem saber como é o dia a dia na sala de aula. Que vão depois para a escola repetir chavões, preconceitos. E fechar cada vez a cabeça das nossas crianças quando a internet faz o contrário.

Precisamos urgentemente ensinar as próximas gerações a compreender o que é dito nas redes e não apenas repetir o que já está por lá. Para que haja algum futuro, nossas crianças e jovens precisam saber a pensar mais e melhor que os adultos de hoje.

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