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O que virou indispensável aprender para ter sucesso nas carreiras do futuro?

Economia criativa transforma tanto o ensino quanto o mercado de trabalho, exigindo currículos inovadores que preparem profissionais para os desafios emergentes

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Na era da economia criativa, a demanda por inovação cresce continuamente, impulsionando uma revolução nos currículos tradicionais em todos os níveis de ensino e redefinindo o que significa ser bem-sucedido no mundo do trabalho. O mercado busca cada vez mais um pensamento inovador, mas a partir de uma abordagem que integre criatividade e funcionalidade, preparando os profissionais para um mundo onde pensar de forma diferente não é apenas valorizado, mas um pré-requisito.

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Pesquisador do MIT e fundador da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, Leo Burd argumenta que a capacidade de resolver problemas de maneira inovadora e criar soluções originais é indispensável para o sucesso nas carreiras do futuro. “As coisas estão se transformando em um ritmo cada vez mais acelerado. Os problemas pelos quais fomos treinados anteriormente podem não se aplicar necessariamente no futuro”, diz. “A criatividade se desenvolve socialmente. A resolução de problemas não é um ato solitário, como a imagem do pensador sugere. Envolve entender o contexto, discutir com os outros e experimentar soluções.”

Mais do que habilidade, a criatividade tem impulsionado um dos setores da economia mundial com maior crescimento. A economia criativa, ou economia laranja, vem apresentando um crescimento global contínuo desde a década de 1990 e atualmente representa 7% do PIB mundial e responde por aproximadamente 30 milhões de empregos globalmente. Já o “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil” da Firjan, apontou que o PIB criativo no País totalizou R$ 217,4 bilhões em 2020.

Aula no Instituto Federal de São Paulo: estudante precisa aprender a lidar com problematizações e erros. Foto: FIC PIRITUBA

O desafio é incluir o desenvolvimento da criatividade no currículo, desde a educação básica até a universidade, como mostram os resultados recentes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o mais importante exame do mundo, que pela primeira vez analisou a criatividade dos estudantes. O Brasil ficou na 49.ª posição entre 64 nações, com desempenho de inovação semelhante ao de países como Peru, Panamá, Arábia Saudita e Casaquistão. Mais de 54% dos adolescentes de 15 anos do Brasil não demonstram pensamento criativo, ideias e soluções originais.

Para Juarez Xavier, coordenador do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos e Observação em Economia Criativa - NeoCriativa e professor da Unesp, é essencial que o Brasil supere desafios sociais enraizados. “Quanto mais plural e múltipla for a possibilidade de cenários culturais, mais criativos serão esses cenários. Eu acredito nessa potencialidade e em apostar nos futuros planos nacionais de educação que, a curto prazo, criarão condições para a explosão da criatividade brasileira no campo educacional”, afirma.

A conexão do educacional com o mercado de trabalho, segundo Xavier, requer uma abordagem que valorize a experimentação e o aprendizado com os erros, uma prática menos comum em ambientes corporativos tradicionais. “A economia criativa precisa de um grau de liberdade de experimentação e do erro que é muito didático e proveitoso no processo de inovação, que muitas vezes o mercado não tem tempo para lidar”, diz.

Para efetivar essa integração, é fundamental que as políticas públicas e estratégias educacionais se alinhem para suportar um ambiente onde a criatividade possa florescer sem restrições. “Temos currículos fantásticos voltados a questões técnicas e outros voltados a questões estéticas. Hoje, entendemos que essas fronteiras são muito permeáveis”, diz a especialista em economia criativa Ana Carla Fonseca.

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Ela dá o exemplo da indústria de games: não adianta ter alguém que desenvolve a infraestrutura tecnológica sem contato com o estético, pois o resultado é funcional, mas pouco atraente. Da mesma forma, jogos com um viés exclusivamente estético, sem diálogo com o técnico, podem ser bonitos, mas pouco funcionais.

Para transformar o sistema

As escolas brasileiras enfrentam desafios significativos para integrar práticas que estimulem a criatividade no ambiente educacional. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) busca promover um currículo mais humanista, mas muitas instituições ainda lutam para se adaptar a essas mudanças. De acordo com Luis Marcio Barbosa, diretor geral do Colégio Equipe, o currículo predominante ainda é muito focado em conteúdo, e muitos educadores não receberam formação em um contexto que valoriza a criatividade.

Ao discutir essas dificuldades, ele aponta que uma das principais barreiras é a formação e manutenção de uma equipe escolar coesa que possa trabalhar de forma colaborativa na implementação do currículo. “Uma das condições para essas aprendizagens é uma cultura escolar que favoreça a problematização, a reflexão, o enfrentamento e a resolução de problemas.”

Leo Burd vê a necessidade de nutrir a criatividade desde cedo. “Ela é como um músculo; todos têm, mas, se não exercitarmos, atrofia. Precisamos proporcionar oportunidades para que as pessoas exercitem esse músculo desde a infância”, diz. O objetivo não é necessariamente desenvolver ganhadores do Prêmio Nobel, mas sim pessoas capazes de observar o mundo ao seu redor e solucionar problemas de maneira que tornem esse mundo cada vez mais significativo para elas e suas comunidades.

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Ana Carla Fonseca também reforça a importância de fomentar a criatividade desde cedo, como uma maneira de incentivar as pessoas a encontrar soluções inovadoras para os desafios diários. “O raciocínio crítico, a expansão de repertório e a criatividade são componentes vitais para transformar o sistema educacional e preparar melhor os jovens para o futuro”, afirma.

Segundo ela, esses elementos são fundamentais para reinventar a educação e o mercado brasileiro, proporcionando preparação mais adequada para os desafios que virão.

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