Pais e alunos do Colégio Bandeirantes, na zona sul paulistana, pressionam a escola para tomar providências depois de uma postagem com a suástica nazista ter sido feita em um perfil nas redes sociais administrado por uma turma do ensino médio. Nesta quarta-feira, 6, o colégio mandou comunicado aos pais afirmando que o estudante foi identificado e suspenso.
Os estudantes do 3º ano se depararam na terça-feira, 5, com uma foto de um tênis com o símbolo nazista e a mensagem: “importei um nike da alemanha, gostaram?”. O perfil do Instagram da sala foi criado pelos alunos e a senha foi compartilhada entre os colegas. Inicialmente, o Bandeirantes havia afirmado que desconhecia o autor da postagem e estava trabalhando o assunto na sala. Segundo famílias ouvidas pelo Estadão, os adolescentes estão com medo porque dizem que o aluno, que é menor de idade, já teria defendido o youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, que foi desligado do Flow Podcast depois de defender a formalização de um partido nazista no País, o que é proibido. Além disso, esse mesmo estudante também teria desenhado a suástica na lousa quando estava no 9º do ensino fundamental na mesma escola, conforme os relatos.
A veiculação de símbolos, ornamentos, emblemas, distintivos ou propaganda relacionados ao nazismo é crime previsto em lei federal. “Os pais e os alunos esperam mais do que uma nota de repúdio da escola”, afirmou um pai da turma, que é judeu e pediu para não ter seu nome publicado. Ele conta que sua filha se assustou ao ver a postagem pela manhã e lhe mandou um print da tela, perguntando o que deveria fazer.
Outra mãe, que também pediu para não ser identificada, defende uma “medida disciplinar contra o aluno”, como suspensão ou expulsão. Muitas famílias escreveram para a direção pedindo providências. “Os alunos estão indignados porque acreditam que sabem quem fez postagem”, completa.
Segundo a legislação, uma escola não pode sozinha expulsar um aluno. O estudante tem direito à ampla defesa com garantia da participação dos responsáveis legais ou de advogados no processo e com a possibilidade de recurso.
Na terça-feira, a diretora de convivência do Bandeirantes, Maria Estela Benedetti Zanini, disse que soube do episódio da suástica desenhada na lousa, mas que ainda investigava quem seria o autor da postagem no Instagram. Como todos tinham a senha do perfil da sala na rede social, a investigação era complicada, afirmou. A conta não é oficial da escola e foi criada pelos próprios alunos. “Somos contra qualquer discurso de ódio e preconceito, trabalhamos isso no Bandeirantes, pavimentando a diferença entre liberdade de expressão e discurso de ódio. Mas não posso acusar sem provas”, afirma a diretora. Estela e a orientadora da turma tiveram diversas conversas com os alunos. Estamos trabalhando também na relação entre os alunos da sala.”
A nota enviada nesta quarta-feira aos pais diz que foi "postada uma imagem com alusão à suástica nazista, o que acabou repercutindo na Comunidade Bandeirantes e, também, na imprensa". "O aluno responsável pela postagem foi identificado e, como ação educativa inicial, foi chamado à Orientação, junto com seus responsáveis, para uma reflexão sobre a gravidade e repercussão de sua atitude", informou o comunicado da escola. O texto termina com votos "de profundo respeito à Comunidade Judaica, com quem nos relacionamos nestes 79 anos de história e pela qual temos grande admiração".
Famílias da comunidade judaica que têm filhos no Bandeirantes comunicaram o caso à Federação Israelita do Estado de São Paulo. A entidade afirmou que mandaria mensagem à escola para pedir atenção especial ao problema. Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da Federação Insraelita, disse que a ideia da entidade é colaborar para uma solução educativa para que isso não volte a acontecer. Depois do comunicado do Bandeirantes, ele afirmou que estava satisfeito com a forma com que a escola estava lidando com a questão. "É uma deteminação do colégio tomar as atitudes que eles julgam pertinentes para esse caso, estamos em contato com a direção e acompanhando de perto", disse. A postagem da imagem do tênis com a suástica foi apagada do perfil da classe algumas horas depois por um dos alunos. Os estudantes, então, avisaram à direção da escola. “Nós, pais, manifestamos nosso repúdio, mas a medida que será tomada cabe à coordenação pedagógica e demais setores do Bandeirantes”, disse outra mãe da turma. A escola afirmou que não pretende, por enquanto, denunciar o caso à polícia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.