Marcela Rabelo tem 19 anos, cursa o último ano do ensino técnico e faz cursinho para prestar vestibular no fim do ano. A história da jovem é similar à da maioria dos estudantes dessa idade, não fosse um detalhe: ela já atua como estagiária no setor de Relações Públicas da Audi. O emprego na multinacional alemã, sonho de muitos egressos de cursos superiores, veio antes de ela sequer se matricular em uma universidade. Não foi sorte. Foi resultado de uma escolha: ela é aluna do Técnico em Administração da Formação Profissional Dual do Colégio Humboldt.
Os cursos profissionalizantes são uma opção para estudantes que buscam uma habilitação técnica em nível médio para a inserção no mercado de trabalho ou para quem pretende dar prosseguimento ao ensino superior, mas com uma profissão como segunda opção. E tem aqueles que, como Marcela, aproveitaram a experiência para também estar mais seguros do que estudar na universidade.
“Sempre soube que gostaria de trabalhar em empresa e agora, com o curso técnico e a chance do job rotation, vi que gosto muito da área de relações públicas. É o que vou seguir no ensino superior, enquanto torço para me efetivarem. Aqui na Audi, a maioria dos estagiários tem chance de ser efetivada”, diz.
O Dual é a modalidade de ensino técnico que o Humboldt oferece desde 1982, em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Além do técnico em Administração, há também os cursos técnicos em Logística e em Informática. Em cada um, os alunos têm blocos de aula na escola e na empresa, de forma alternada.
“Na escola, aprendem a teoria. Na empresa, botam tudo em prática, e com a chance de atuar em muitas áreas. Com o job rotation, no fim do curso eles conhecem a empresa toda”, explica Corina Grüner Taiana, professora de Economia & Mercado e de Contabilidade dos três cursos.
O processo seletivo para os cursos técnicos do Humboldt envolve prova e entrevista na escola, sendo requisito ter o alemão intermediário. Os aprovados são também entrevistados pelo setor de Recursos Humanos das empresas parceiras – entre elas Bayer, Basf, Deutsche Bank, Hamburg Süd, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Lufthansa e Mercedes-Benz do Brasil.
Já o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo oferece dois cursos técnicos integrados ao médio: Multimídia e Automação Industrial com ênfase em Tecnologias de Construção. O primeiro tem objetivo de formar um profissional criativo e hábil em design gráfico, criação visual e produção audiovisual, que compreende processos de informação e novas tecnologias de comunicação.
O outro capacita o estudante no desenvolvimento de projetos, manutenção, instalação e integração de sistemas de Automação e Inteligência Artificial, com espaço para atuar em distintos setores, como construção civil, hospitais, aeroportos e outros segmentos da economia. São 35 vagas por curso, 100% gratuitas. Para concorrer, os candidatos precisam participar da seleção, conforme critérios estabelecidos no edital, como renda familiar máxima.
A tendência é de que os cursos, que já são bem concorridos, fiquem ainda mais. “Acreditamos que essa procura aumentará gradativamente, ou seja, na medida em que a oferta dos itinerários formativos técnico e profissional aumentar e possibilitar uma especialização e acesso às novas tecnologias, o que cria oportunidade de emprego”, afirma Patrícia Loureiro Marques Macedo, diretora institucional do colégio.
No novo ensino médio, a formação técnica e profissional passa a fazer parte do ensino médio regular como um dos cinco itinerários de formação. De acordo com os dados do Censo da Educação Básica, dos alunos que terminam o ensino médio no Brasil, apenas 20% seguem para o curso superior, o restante vai direto para o mercado de trabalho e, atualmente, a maioria deles faz essa transição sem ter recebido formação profissionalizante: apenas 9% das matrículas são em cursos técnicos.
Capacitar o aluno do ensino médio para o mercado de trabalho é a política educacional de países desenvolvidos e de alguns com situação econômica similar à do Brasil, caso do México. Lá, 40% dos estudantes fazem ensino técnico. Na Europa, o índice passa dos 50% e chega a mais de 70% em países como Áustria e Finlândia.
NÚMEROS
- 20% somente do total de estudantes que se formam no médio no Brasil vão para o ensino superior
- 9% apenas dos alunos no Brasil estão em cursos técnicos. No México, são 40%; na Áustria, 70%
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