Pisa: alunos brasileiros estão entre os mais ansiosos com a Matemática

Sentimentos negativos em relação à matéria estão associados a piores resultados; seis em cada dez alunos relatam ficar muito nervosos para resolver questões da disciplina

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Seis em cada dez (57,2%) estudantes brasileiros de 15 a 16 anos relatam ficar ‘muito nervosos’ ao resolver problemas matemáticos. Essa é a 6ª maior taxa em relação aos demais países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 5. Mais da metade (54,4%) também se sente assim quando faz o dever de casa da matéria.

De maneira geral, o País aparece entre os que mais pontuaram no índice de “ansiedade matemática”, que afere os sentimentos e sensações dos estudantes em relação à matéria. Para se ter ideia, a média da porcentagem de estudantes de países da OCDE que ficam muito nervosos ao resolver problemas matemáticos é de 39,4%.

Na faixa etária de 15 a 16 anos, mais da metade dos estudantes brasileiros relatam ficar ‘muito nervosos’ ao resolver problemas matemáticos Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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A ansiedade matemática está associada negativamente aos resultados dos estudantes na matéria, como o Pisa já havia demonstrado em 2012. Os estudantes que relataram ter baixa ansiedade matemática, em geral, superaram em 37 pontos a nota média do país na matéria, de acordo com os dados de 2022.

Por outro lado, os mais ansiosos perderam 24 pontos. Esse cálculo o valor médio dos países da OCDE. No Brasil, especificamente, os menos ansiosos tiveram uma vantagem de 34 pontos. Os mais apreensivos, desvantagem de 10.

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O Pisa não tem uma escala máxima ou mínima de pontos. As nações OCDE são divididas em uma média de aproximadamente 500 pontos, com desvio-padrão de 100 pontos no exame.

Para medir a ansiedade dos alunos em relação à matemática, o Pisa faz as seguintes questões, às quais os alunos precisam dizer se concordam ou não: “muitas vezes me preocupo que será difícil para mim nas aulas de matemática”; “eu me preocupo em tirar notas baixas em matemática”; “fico muito tenso quando tenho de fazer lição de Matemática”; “fico muito nervoso ao resolver problemas de Matemática”; “eu me sinto impotente ao resolver um problema de Matemática”; e “sinto ansiedade sobre falhar em Matemática”.

Segundo o relatório, para encarar a ansiedade matemática, é preciso melhorar o ensino da disciplina, com foco em resolução de problemas do “mundo real”, mas também “compreender e abordar as atitudes e emoções” dos alunos em relação à matéria.

O documento frisa a necessidade de desenvolver mentalidade positiva relativa ao próprio desempenho, ou seja, os alunos precisam acreditar que podem melhorar.

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Asiáticos: ansiosos, mas com bons resultados

Os níveis mais baixos de ansiedade tendem a ocorrer em países cuja pontuação média em matemática está acima da média da OCDE, mais notavelmente na Dinamarca, Finlândia, Suíça e nos Países Baixos, conforme diz o relatório. No entanto, quatro dos seis países do Leste Asiático, que superaram todos os outros em matemática no Pisa, apresentam altos níveis de ansiedade (Hong Kong, Japão, China e Taiwan - as exceções são a Coréia do Sul e Singapura, a grande líder de desempenho.

“São necessárias mais pesquisas sobre como fatores individuais e outras dimensões culturais interagem e podem afetar diferentemente o desempenho dos alunos em matemática no Pisa”, escreveram os pesquisadores.

Mentalidade

O relatório destaca que algo que pode ajudar os estudantes a superar a ansiedade relacionada ao desempenho é algo que o Pisa chama de “mindset” (mentalidade, em português). Ele basicamente diz respeito à crença do estudante sobre a possibilidade de transformação (maleabilidade, nas palavras do documento) de suas habilidades e inteligência.

Para conseguir calcular isso, a pesquisa perguntou se os estudantes concordavam com a frase: “Sua inteligência é algo sobre você que você não pode mudar muito”. Aqueles que concordaram tem um ‘mindset’ fixo (fixed mindset, em inglês), já os que discordam, uma mentalidade de crescimento (growth mindset), segundo o estudo.

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O mindset de crescimento, ao contrário da ansiedade matemática, está positivamente associado a resultados na matéria. O documento chega a dizer que um ele “é uma possível explicação para o motivo pelo qual algumas pessoas atingem seu potencial, enquanto outras não”. No Brasil, 61,1% dos estudantes têm essa mentalidade - a taxa está levemente acima da média dos países da OCDE, que é de 57,8%.

Os dados mostram que mesmo os estudantes mais ansiosos se beneficiam de ter mentalidade de crescimento. Entre os alunos dos níveis mais elevados de ansiedade matemática, ter um mindset de crescimento representou uma vantagem de até 18 pontos na nota final.