Qual é a nota do Brasil nas questões de criatividade do Pisa? Quais países vão melhor?

Mais importante avaliação do mundo mede competência pela 1ª vez; Brasil ficou em 49º no ranking de 64 países

PUBLICIDADE

Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Mais de 54% dos adolescentes de 15 anos do Brasil não têm um pensamento criativo, com ideias e soluções originais. Esse resultado faz parte do Pisa, a mais importante avaliação do mundo que, pela primeira vez, analisou a criatividade dos estudantes. O País ficou na 49ª posição do ranking com 64 nações, com desempenho de inovação semelhante a nações como Peru, Panamá, Arábia Saudita e Cazaquistão.

Pensamento criativo é importante não só para o mercado de trabalho, mas também para a formação cidadã e o bem estar, segundo a OCDE Foto: mediaphotos - stock.adobe.com

PUBLICIDADE

Os resultados mundiais foram divulgados nesta terça-feira, 18, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pelo exame. Os países cujos alunos aparecem como mais criativos são Cingapura, Coréia do Sul, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Estônia e Finlândia, respectivamente.

O Pisa é conhecido por ter questões de Leitura, Matemática e Ciências e os resultados do exame feito em 2022 foram divulgados em dezembro. Em todas as edições da prova que participou, o Brasil tem registrado baixo desempenho, dificuldade que também tem sido exposta nas provas nacionais que avaliam a aprendizagem no ensino básico.

Cingapura ficou em primeiro lugar também no ranking de Matemática, mas os resultados mostram que a maior criatividade não está necessariamente ligada ao melhor desempenho nas disciplinas tradicionais. Hong Kong e China, por exemplo, se destacaram nas provas do Pisa convencional, mas não no novo ranking. Já Portugal chamou a atenção por ter ótimo resultado em criatividade e não estar acima da média em Matemática, Leitura e Ciências.

Publicidade

Em nenhum país, os meninos superaram as meninas em pensamento criativo. Elas são melhores em todos os tipos de tarefas exigidas pela prova, como se expressar de forma escrita ou visual e resolver problemas. No Brasil, a diferença foi de 3 pontos, considerada significativa na escala e que representaria um ano escolar.

As questões que avaliaram o pensamento criativa foram feitas na mesma prova, também em 2022. Entre os exemplos, estavam:

  • escrever um texto sobre a importância das abelhas
  • dar sugestões de ideias para tornar uma biblioteca mais acessível para pessoas com deficiência
  • desenhar um pôster sobre o espaço
  • escrever um diálogo entre o planeta Terra e o Sol, em uma tirinha
Exemplo de pergunta do Pisa, que pede que o aluno escreva os diálogos da tirinha Foto: Divulgação
Exemplo de pergunta do Pisa, em prova sobre criatividade, que pede para o aluno desenhar com as ferramentas do computador um pôster sobre espaço Foto: Divulgação

“À medida que a digitalização e a inteligência artificial avançam, a importância da inovação, criatividade e pensamento crítico aumenta em comparação com habilidades rotineiras, que são mais suscetíveis à automação”, afirmou o diretor de Educação e Habilidades do Pisa, Andreas Schleicher, no relatório.

Publicidade

Segundo ele, o pensamento criativo não é só relevante para o mercado de trabalho e, sim, “um poderoso estímulo para a própria aprendizagem, ativando habilidades cognitivas de ordem superior e estimulando o desenvolvimento emocional, resiliência e bem estar.”

Só 10% dos brasileiros tiveram alto desempenho

No Brasil, 54,3% dos alunos ficaram nos níveis 1 e 2, abaixo do considerado básico, em que teriam capacidade de expressar ideias consideradas inovadoras e resolver problemas simples a moderados. Outros 34,9% estão nos níveis 3 e 4. Só 10,8% aparecem nos níveis 5 e 6, o que quer dizer que conseguem ter ideias criativas em contextos complexos, abstratos e não cotidianos.

A média dos alunos brasileiros ficou em 23, enquanto a nota dos países da OCDE foi de 33. A escala do Pisa que avalia a criatividade vai de 0 a 60 pontos.

O exame também dividiu o desempenho dos alunos do País em sub regiões; o Sul e o Sudeste do Brasil tiveram melhor resultado que a média geral.

Publicidade

Entre os países membros da OCDE, um em cada dois estudantes consegue pensar em ideias originais e diferentes em tarefas simples de imaginação ou em situações cotidianas de resolução de problemas, ou seja, chegam ao nível 4. Em países como Cingapura, Coreia do Norte e Canadá, mais de 70% dos adolescentes tiveram desempenho igual ou superior a essa etapa.

Segundo o Pisa, as questões mediam três processos que englobam as habilidades cognitivas relevantes para o pensamento criativo na sala de aula:

  • Gerar ideias diferentes: capacidade do estudante de pensar de forma flexível, tendo ideias que são diferentes umas das outras
  • Gerar ideias criativas: capacidade de pensar de forma inovadora, desviando de padrões observados dentro de uma população. No Pisa, a originalidade é medida em relação às respostas de outros estudantes que completam a mesma tarefa. Ou seja, se poucos tiveram a mesma ideia, então a resposta é considerada original.
  • Avaliar e melhorar ideias: capacidade do estudante de avaliar as limitações das ideias e melhorar sua originalidade.

Além das questões que avaliam a criatividade por meio das tarefas, o Pisa também fez perguntas aos estudantes para traçar seus perfis. Os resultados mostram que os alunos que se saíram melhor nas provas são mais curiosos, persistentes e com mais senso de perspectiva. São também mais abertos às artes e à experimentação, além de ter mais imaginação.

Publicidade

Entre os brasileiros, 87% responderam que gostam de aprender coisas novas, índice acima da média da OCDE. Esse interesse é identificado como importante para desenvolver o pensamento criativo.

“É importante destacar que a criatividade não é um dom, mas sim uma competência que precisa ser desenvolvida na escola”, diz Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social. Ela afirma que o pensamento criativo é algo transversal e precisa ser trabalhado em todas as áreas de conhecimento, incluindo projetos interdisciplinares. Além disso, o professor precisa ser formado para oferecer atividades e desafios mais profundos e complexos aos alunos. “Envolve também estimular os estudantes a testarem e expressarem suas ideias, não só repetir mecanicamente pensamentos já existentes”, completa.

Para ela, a entrada da criatividade no Pisa, “marca o reconhecimento do papel da escola na formação de habilidades essenciais para a humanidade frente aos desafios e incertezas cada vez mais reais e atuais, como as mudanças climáticas, avanço da tecnologia e as diferentes desigualdades presentes na sociedade”.

Em dezembro, a OCDE divulgou que o desempenho dos estudantes em Matemática e Leitura nos países ricos durante a pandemia teve a maior queda da história no Pisa. Já com notas muito baixas nas edições anteriores, a média do Brasil se manteve praticamente estável, mas subiu algumas posições no ranking. O País ficou em 65ª lugar entre as 81 nações analisadas.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.