Mais de 45% dos estudantes brasileiros relatam se distraírem por causa de dispositivos digitais em todas ou quase todas as aulas de Matemática. A taxa é a sexta maior entre todos os países que participaram do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quatro em cada dez (40,3%) também dizem se dispersar quando veem outros colegas usando os aparelhos.
As duas taxas estão acima da média dos países da OCDE. Nas nações mais ricas, 30,5% se distraem por causa dos dispositivos digitais, e 25,2% se dispersam ao observar os colegas fazerem o uso. Os países em que os alunos mais relatam distração são Argentina, Uruguai, Chile, Bulgária e Nova Zelândia - apenas os hermanos tem um despenho pior do que o Brasil em matemática.
“Estudantes podem facilmente se sentirem tentados a realizar múltiplas tarefas, desviar a atenção para outra informação ou recurso disponível disponíveis nos dispositivos, ou usar a internet para atividades não acadêmicas”, diz o relatório.
Em média, os alunos que relataram que se distraem em todas ou na maioria das aulas de Matemática obtiveram 15 pontos a menos do que os alunos que relataram que isso nunca ou quase nunca acontece, informam os pesquisadores. “Políticas que visam as competências e os comportamentos dos alunos quando utilizam dispositivos digitais são fundamentais para limitar as distrações”, concluem.
Proibir o uso de dispositivos digitais resolve o problema?
Ainda segundo a OCDE, em escolas onde os aparelhos são proibidos, os alunos são, de fato, menos propensos a relatar distração por causa desses dispositivos durante as aulas de matemática. “À primeira vista, a proibição dos telemóveis parece ser uma política útil. No entanto, são necessárias mais pesquisas para compreender plenamente a eficácia e o impacto de tais proibições”, escrevem.
Isso porque a pesquisa também detectou que 30% dos estudantes em escolas onde a utilização é proibida relataram utilizar um smartphone várias vezes ao dia. Além disso, o estudo mostrou que o uso moderado dos aparelhos, seja para estudo ou lazer, dentro da escola, apresentam notas maiores.
Uso de dispositivos para lazer e estudo
Estudantes que usam dispositivos na escola, tanto para estudar como para lazer, por poucas horas, têm resultados melhores em matemática, de acordo com o Pisa. Segundo o relatório, os resultados estão alinhados com estudos que apontam que o uso moderado desses aparelhos não é “intrinsicamente danoso”, e, por isso, é preciso de melhores diretrizes sobre o uso deles nas instituições de ensino.
A quantidade de tempo que os alunos passaram em dispositivos digitais na escola em 2022 variou amplamente entre os países. “É importante ter em mente que os alunos podem usar dispositivos digitais na escola, mas fora das aulas regulares”, destaca o relatório.
Em média, nos países da OCDE, os estudantes relataram passar 2h horas por dia em dispositivos digitais para atividades de aprendizagem e 1,1h hora para lazer na escola. No Brasil, os períodos de tempo foram de, respectivamente, 1,6h e 1,1h.
Alunos que usaram dispositivos digitais por até uma hora para estudar na escola tiveram uma vantagem de 24 pontos em relação aos que não utilizaram. Com diferença menor, até os estudantes que ultrapassaram sete horas de uso para estudo, tiveram nota melhor do que aqueles que não tocaram nesses aparelhos sequer por um minuto.
No Brasil, os alunos que utilizaram os dispositivos por 2h até 3h para estudar foram os que obtiveram a melhor nota em Matemática, chegando aos 400 pontos - são 27,8 pontos a mais do que aqueles que não fizeram o uso.
O uso de celular para lazer na escola também esteve associado com resultados melhores em matemática. Na média dos países da OCDE, os alunos que usaram os aparelhos para descontrair por até 1h tiveram uma vantagem de 19,8 pontos. As notas começaram a cair em relação aos que não fizeram o uso a partir de 2h.
No Brasil, novamente, os alunos com a melhor nota em matemática (399) foram aqueles que usaram aparelhos digitais na escola para lazer na faixa de 2h até 3h, uma vantagem de 22 pontos em relação aos estudantes que não fizeram esse uso. A partir das 3h, as notas já são inferiores aos que não utilizam os aparelhos para lazer dentro da instituição de ensino.
Ansiedade para estar online
Em média, 44,5% dos estudantes relataram se sentir nervosos e/ou ansiosos quando não têm seus dispositivos digitais por perto. “A relação entre o sentimento de nervosismo/ansiedade dos alunos quando não têm o seu dispositivo digital perto deles foi negativamente correlacionada com o desempenho em Matemática”, diz o relatório.
No Brasil, praticamente metade dos estudantes (49%) relata se sentir ansioso ou nervoso sem os dispositivos por perto. Chama a atenção, no entanto, a frequência com que isso acontece. Enquanto na média dos países da OCDE, 9% dos alunos relatam essa sensação quase o tempo todo; por aqui, essa taxa é o dobro (17,8%).
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