Só um em cada quatro jovens que concluem o ensino médio vai para a faculdade no ano seguinte. O dado inédito consta do Censo da Educação Superior, divulgado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC), que mostrou que o País chegou a 9,9 milhões de universitários, maior número em nove anos. E a educação a distância se aproxima de superar a presencial, com 4,9 milhões de alunos.
Dos concluintes em 2022, 27% ingressaram na educação superior em 2023. O resultado é melhor nas escolas federais, em que essa proporção sobe para 58% (só 1% abaixo da privada), mas é ainda pior nas redes estaduais, onde fica em 21%. Quando se considera o ensino médio técnico, uma das necessidades para o País conforme especialistas, o valor melhora – 44%.
Só que as desigualdades sociais também surgem. Entre os jovens pretos, são 17% os ingressantes no ano seguinte. Meninas e meninos brancos são 37%, independentemente da rede de ensino. Há ainda disparidade por local de estudo: 27% dos estudantes das escolas urbanas ingressaram na educação superior imediatamente após a conclusão da educação básica. Enquanto isso, nas escolas rurais, esse porcentual foi de 16%.
Apesar do avanço de matrículas, a situação preocupa os especialistas. “As pesquisas já demonstraram a evolução que o ensino superior pode dar em termos de empregabilidade e renda, além de aumentar a produtividade do País e reduzir desigualdades sociais. É preciso incentivar o aumento do ingresso no ensino superior”, disse ao Estadão Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, sindicato que reúne instituições de ensino.
O estudo do MEC demonstrou ainda importância de políticas de acesso e financiamento (ProUni e Fies). Além disso, mediu os programas de inclusão: 51% dos alunos cotistas da rede federal concluíram o curso, conforme o levantamento, enquanto o índice entre os não cotistas foi de 41%.
Outro recorte inédito mostra a importância do ensino a distância nos 5.570 municípios brasileiros com alunos frequentando a educação superior. A análise revelou que 89,7% das matrículas de EAD estão em 1.085 municípios onde já há oferta de cursos presenciais. E o restante aparece em 2.281 municípios onde essa é a única maneira de fazer uma graduação.
Os dados expõem a necessidade de revisão do marco regulatório do ensino online, que o MEC deve encerrar até dezembro. “Entre os mais jovens, a preferência é pelo ensino presencial. O ensino presencial precisa crescer para recuperar a atratividade do ensino superior e, inclusive, melhorar nossa taxa de escolarização líquida”, afirma Capelato, destacando a média de avanço das matrículas a distância de 17,58% ao ano entre 2015 e 2022 – e agora mais um crescimento de 13,46%. “É preciso organizar melhor o sistema, sem, no entanto, demonizar a modalidade de EAD.”
Na divulgação dos dados, a secretária de regulação do Ministério da Educação, Marta Abramo, destacou estar focada justamente na revisão de parâmetros de qualidade para avaliar o setor. “A gente tinha um documento de 2007 e precisava rever toda essa situação. É isso que estamos fazendo agora”, disse. Ela não detalhou, no entanto, quando os parâmetros serão divulgados.
O MEC atribui esse ritmo acelerado de aumento da EAD a um decreto assinado em 2017, que flexibilizou a abertura de polos de educação a distância no País. No ano seguinte, a oferta de vagas EAD já ultrapassou a oferta de vagas presenciais.
Concorrência
Considerando o total de matrículas no ensino superior, os programas tradicionais continuam com forte presença. O curso de Pedagogia é o que reúne maior número de matrículas EAD: 689.663. Já no presencial o curso com maior número de matrículas é Direito, com 658.530 matriculados.
Os dados de concorrência para ingresso, porém, podem fugir ao que se imagina. O curso mais concorrido das universidades públicas em 2023 foi Engenharia Naval, com 55 candidatos/vaga. Medicina teve 53 inscritos para cada vaga. Isso ocorre porque essa engenharia só tem 243 vagas em todo o Brasil – e Medicina apresenta 13.052.
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