As áreas mais procuradas pelos estudantes atualmente são as de Gestão e Negócios, Saúde e Tecnologia da Informação, com viés de crescimento especialmente para a última, com a ampliação de mercado para gestão de dados e inteligência artificial (IA). É o que mostra a mais recente pesquisa do setor, divulgada no mês passado pelo Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil.
Para Jefferson Vendrametto, diretor de Relações Institucionais do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), que já oferece programas de especialização EAD nas áreas de Negócios e Educação Financeira, mas que está se preparando para criar também cursos técnicos e para concursos públicos a distância, o pós-pandemia forçou o segmento de ensino superior a olhar com mais atenção para a oportunidade e a necessidade do modelo. “Houve um aumento gigantesco, muita empolgação. Em média, os cursos EAD são 15% mais baratos que os presenciais”, diz.
Vendrametto ressalta, contudo, que no início existiam deficiências tecnológicas e um índice elevado de evasão escolar nos cursos online de modo geral. “Chegamos a conviver no País com uma média de quase 70% de evasão, muitas vezes por falta de disciplina, tanto de jovens quanto de adultos. É preciso ensinar a estudar a distância”, afirma.
Para ele, as ferramentas de ensino a distância que funcionam bem são aquelas que permitem canais de comunicação entre os alunos e também tutorias dos professores. “Precisa acompanhar sempre a evolução dos alunos e investir forte na criação de plataformas mais ágeis, adaptadas inclusive ao celular. Os jovens têm mais facilidade com a tecnologia, mas não necessariamente uma motivação maior”, afirma.
Mary Murashima, diretora de Gestão Acadêmica da FGV Educação Executiva, menciona também a necessidade de se oferecer respaldo aos alunos na área de tecnologia. “Além da equipe pedagógica, é muito importante ter um suporte qualificado de TI.” No passado, a instituição enfrentou índice de evasão alta nos cursos EAD para a FGV, na faixa de 25%. “Atualmente, os números são bem mais baixos.”
Coordenador pedagógico da Minds, rede de escolas de idiomas que oferece cursos a distância em todo o País, Anderson Bedin considera que há problemas pontuais no País, como as dificuldades de conexão em Manaus, mas a maior dificuldade com esse tipo de modalidade de estudo continua a ser a disciplina, e a principal vantagem é a flexibilização de locais e horários.
“A sede dos nossos cursos está em Aracaju. Temos alunos de outros Estados e até de outros países, o que permite um intercâmbio muito grande”, diz. “Não creio que exista diferença significativa entre o conteúdo oferecido e o desempenho dos estudantes na comparação entre os modelos presenciais e EAD”, ressalta.
Mesma opinião tem Karina Franchini, head de Ensino Superior do SEB, grupo que tem opções de cursos EAD em três instituições de ensino: a Harven, em Ribeirão Preto, especializada na área do agronegócio; a Universidade Dom Bosco, em Curitiba, focada no setor de Saúde; e a Escola Paulista de Direito, em São Paulo. “Já trabalhávamos com a modalidade de ensino a distância antes da pandemia. Atualmente, o desempenho dos alunos nos cursos presenciais e EAD é similar”, afirma.
De acordo com Franchini, antes do período de isolamento social havia uma certa estranheza dos estudantes com a modalidade EAD, hoje totalmente assimilada. “Já era uma tendência e se acelerou”. Além de percebermos que seria possível oferecer cursos de qualidade nesse formato, a flexibilidade ajudou.”
Segundo ela, o mercado de trabalho também assimilou essa nova realidade e hoje exige dos profissionais que façam especialização. “No nosso caso, em breve até mesmo nos cursos de graduação o EAD deve superar o presencial. Atualmente, o índice de evasão escolar no EAD é semelhante ao do profissional e a qualidade também.”
Com experiência de cinco anos com programas de EAD, tanto como professor quanto como produtor de conteúdo, Fabiano Ormaneze, que atualmente é coordenador de produção de conteúdo dos cursos EAD da UniAnchieta, de Jundiaí, acredita que hoje os números mostram que a educação a distância é um sistema consolidado. “No período imediatamente posterior à pandemia, a reação que ainda havia em relação ao ensino a distância era grande. Isso diminuiu muito.”
Mas, de acordo com Ormaneze, é preciso adotar alguns cuidados na hora de escolher o curso e a instituição de ensino que irá oferecer uma especialização online. Um dos pontos principais indicados por ele é a qualidade do material didático. “A experiência de estudar pela internet envolve a utilização de diversas ferramentas, o que exige mais na elaboração do programa”.
Segundo ele, um bom curso a distância exige ainda critérios rigorosos de ensino e avaliação. “Outra questão importante é a autonomia e disciplina dos estudantes. EAD exige mais que outros formatos.
O setor de Comunicações e Linguagem, a qual inicialmente se dedicava, teve crescimento expressivo. “A pós-graduação nessa área já deve superar hoje os cursos presenciais. Entre as vantagens está a facilidade de acesso a boas instituições de ensino por pessoas que vivem em locais mais distantes. Custo menor é outra compensação, possibilita uma maior inclusão”, afirma ele.
Ângela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, considera ser possível apostar mais na modalidade de ensino a distância com qualidade, mas é preciso ter foco e cuidado com a existência de cursos de especialização, inclusive online, de má qualidade, sem cuidado com o conteúdo e a formação dos docentes.
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