Professores aprendem com a tecnologia e inovam as aulas

Docentes vêm repensando metodologias e se preparando dentro e fora de sala para integrar o ambiente digital ao ensino formal

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SÃO PAULO - Educação e tecnologia caminham juntas, mas unir as duas é uma tarefa que exige preparo do professor dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo em que oferece desafios e oportunidades, o ambiente digital pode tornar-se um empecilho para o aprendizado quando mal usado. Com alunos cada vez mais conectados, professores e coordenadores de cursos de graduação têm repensado suas metodologias e as maneiras mais eficazes de manter a atenção dos estudantes.

Michael Carrier, consultor de Cambridge English, atua no departamento da universidade britânica que cuida de exames e certificações internacionais de proficiência em língua inglesa. Seu trabalho inclui ensinar outros mestres a usarem tecnologia dentro da sala de aula. “Muitas escolas pensam em comprar um equipamento de última geração, mas é preciso saber para que ele serve e como aquilo auxiliará o aluno.”

Consultor. MichaelCarrier, de Cambridge English, ensina mestres a usarem recursos digitais Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Para o especialista, um dos pontos essenciais é a estratégia para lidar corretamente com as ferramentas digitais. “O primeiro passo é pensar na interação. Não é possível aprender algo novo apenas olhando para um aplicativo, por exemplo, tem de saber usá-lo.” E, quando fala em interagir, o consultor de Cambridge vai além dos recursos digitais. “Os alunos devem conversar entre eles e por isso a sala de aula ainda é importante. Aplicativos e ambiente escolar precisam trabalhar juntos.”

Barreira inicial. Outro fator importante está no preparo do professor antes de usar meios digitais em sala de aula, segundo Carrier. “Os mestres precisam estar confortáveis e conhecer todas as possibilidades que essas ferramentas oferecem, não basta entregá-las ao aluno.”

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O especialista ainda reforça que, apesar de possíveis inseguranças ao longo do processo, o resultado tende a ser positivo. “Alguns professores estão mais abertos ao uso de tecnologia, outros não. Esses, geralmente, é porque não sabem como aquilo será usado. Basta ensinar a eles.” 

O professor da faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Arnaldo Borges, passou por essa experiência em seu ambiente de trabalho. “Primeiro veio a reação natural, uma certa aversão por parte dos professores, mas depois vimos que é perfeitamente possível e necessário aliar tecnologia e qualidade de ensino.” 

Para isso, a Faap investe em um sistema que oferece todo o conteúdo programático online, ensino a distância e também aplicativos usados em sala de aula, mas não esquece do treinamento dos professores. 

“São realizados os treinamentos internos, todo semestre. Usar tecnologia é um exercício difícil porque todos os dias é preciso pensar em algo novo, em como aquilo pode continuar interessante”, diz Borges. “Os alunos demandam muita informação ao mesmo tempo. Essa situação obriga o professor a cativar mais o aluno, além de estudar ainda mais. 

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Antigamente, o que um professor falava era incontestável. Hoje, durante a aula, o estudante tem ferramentas que permitem que ele questione quem ensina. E, no fim das contas, é uma discussão enriquecedora.”

Nas aulas. Estudante da Faap, Daniel Andrade diz que, com a tecnologia, sente vontade de participar Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Facilidade para alunos. A facilidade de poder entregar uma prova ou atividade online, de onde estiver, é uma das vantagens para estudantes da Faap, como Daniel Andrade, de 25 anos. Ele vê benefícios nos métodos usados pela instituição. “É algo que ajuda tanto os professores quanto os estudantes. Estamos usando cada vez mais, deixando as aulas mais participativas. A gente acaba tendo vontade de interagir quando o professor faz uma simulação real do mercado financeiro, usa um vídeo, passa exercício no tablet.” 

Com muitos alunos fazendo estágio e estudando ao mesmo tempo, as plataformas online chegaram para ajudá-los ainda mais. “Fica fácil porque, se não consigo estar na faculdade, acompanho de casa o que foi dado em aula”, conta o estudante de Administração de Empresas. “Posso estar no ônibus ou no metrô e consigo estudar o que eu quiser graças ao sistema digital.” 

Em algumas instituições, como a Universidade Presbiteriana Mackenzie, as novas ferramentas tecnológicas já são vistas como uma extensão da sala de aula. “A gente tem defendido muito que o espaço de ensino na educação superior se dá em classe e laboratórios, mas também fora do ambiente universitário. Hoje o aluno aprende em todos os lugares com as facilidades que tem dentro de um celular”, conta o pró-reitor acadêmico, Cleverson Pereira de Almeida. 

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A universidade também aproveita as aulas online para ajudar alunos que ficaram com pendências em alguma matéria. “Às vezes o estudante reprova por algumas faltas ou notas baixas em apenas uma disciplina, mas mesmo assim tem de fazê-la outra vez. Para não ter conflitos de horário com as demais obrigações do curso, ele tem a opção de refazer essas aulas online”, conta Almeida.

Isso evita que o aluno deixe para refazer a disciplina apenas no fim do curso, atrasando a entrega do diploma, como ocorre em muitas faculdades.

A universidade Mackenzie também tem investido em seus cursos de licenciatura, aqueles que formam professores. “Em Pedagogia, Letras, Filosofia e Matemática, nós temos a obrigação de tratar as questões tecnológicas tanto quanto falamos de metodologia. A ideia é que eles saiam preparados e enxergando as novas ferramentas como um auxílio”, explica o pró-reitor acadêmico. 

A aposta em formação de qualidade para professores é o caminho para aliar educação e tecnologia, não importa a universidade. O coordenador do Núcleo de Educação à Distância da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Klaus Schlünzen, reforça que não basta dizer que o professor precisa usar tecnologia esquecendo que, antes de tudo, ele deve aprender também. 

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“O grande problema é a formação desses professores, que é formado para usar os métodos tradicionais de ensino. O problema não está na tecnologia, mas na preparação de quem vai ensinar.” 

Ele usa a própria Unesp como exemplo: de acordo com Schlünzen, apesar dos cursos de formação oferecidos online aos professores, estima-se que somente entre 10% e 15% do corpo docente aproveitem esse recurso. “As universidades têm a necessidade de tratar desse assunto de forma urgente e aproveitar que hoje temos um cenário de oportunidade de uso de tecnologia muito maior do que há 20 ou 30 anos.” 

Troca de informação. O coordenador ainda ressalta os desafios trazidos por novas ferramentas para a relação entre alunos e professores. “Em vez de apenas transmitir conhecimento para que o estudante compreenda, agora há uma troca. O aluno constrói informações e o docente orienta, saindo de sua zona de conforto.”

Para o pró-reitor de graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Marcelo D’Emídio, esse panorama valoriza ainda mais o papel do professor dentro da sala de aula. “É um profissional qualificado demais para estar naquele papel de apenas ficar repetindo conteúdo. A tecnologia permite trocas neste espaço, aprofundando a discussão dos temas de classe.”

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Para o recém-formado no curso de Administração da ESPM Filipe Gonzaga, de 23 anos, esse é um dos pontos fortes do ensino que alia tecnologia e métodos tradicionais. “Tendo material de aula no sistema online eu me sentia mais bem preparado para as aulas e lá nós aproveitávamos o tempo para fazer discussões realmente úteis. Acho fundamental ter meios de interação que me permitem entender a aula antes que ela aconteça.”