Proibição de celular em escola deve valer já em 2025: bastidores envolvem MEC e Nikolas Ferreira

Ministério e parlamentares de oposição aceleram discussão de veto aos aparelhos em sala de aula; pesquisas mostram prejuízos à aprendizagem ligados ao uso dos smartphones

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Foto do author Renata Cafardo
Foto do author Paula Ferreira
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA - As escolas do País devem começar o ano letivo de 2025 já com uma lei que proíba os celulares nas redes públicas e particulares. Integrantes do Congresso e do Ministério da Educação (MEC) ouvidos pelo Estadão acreditam que o tema está pacificado, tanto entre governo quanto entre parlamentares da oposição, e dizem que não haverá dificuldades para aprovar um projeto de lei até o fim do ano.

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A intenção é a de, logo após as eleições municipais, apressar os processos para que a votação seja rápida. O segundo turno será realizado no domingo, 27. Ainda que haja agora aparente consenso entre governo e oposição, nos bastidores, houve uma espécie de “guerra fria” pelo protagonismo no projeto.

Enquanto o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), ficou nos holofotes por pautar o tema nacionalmente no mês passado, o presidente da Comissão de Educação da Câmara, o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) caminhou com a tramitação de um projeto de lei de relatoria do deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), também apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Pesquisas mostram prejuízos à aprendizagem por causa do uso dos aparelhos em sala de aula Foto: Tatyana Batueva

Diversas pesquisas têm mostrado nos últimos anos o prejuízo para a aprendizagem e para a concentração pelo uso de celulares nas escolas. Países como Finlândia, Holanda, Portugal, Espanha, Estados Unidos já têm políticas de proibição ou restrição dos aparelhos.

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Uma das maiores evidências veio de um relatório do ano passado da Unesco, órgão das Nações Unidas, que compilou estudos que relacionam o uso de celulares e os resultados educacionais em 14 países. A conclusão da entidade foi de que os efeitos são negativos, com impacto principalmente na memória e na compreensão.

Outras pesquisas mostram que os alunos podem levar até 20 minutos para se concentrar novamente no que estavam aprendendo depois de usarem o celular para atividades não acadêmicas e ainda que, mesmo o aparelho desligado ou usado por um colega, pode levar a problemas de aprendizagem.

Pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada nesta semana mostra que 62% da população apoia o banimento de celulares nas escolas, índice que é semelhante entre eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Bolsonaro. Movimentos da sociedade civil, como o Desconecta, também ganharam força em centenas de escolas do País, pedindo a proibição.

O consenso e o clamor popular da medida podem fazer com que o MEC aproveite o tema para ganhar pontos no Congresso. Segundo o Estadão apurou, Camilo não faz questão de ter um texto do governo e pode contribuir com projetos sobre o assunto que já foram apresentados, o que também aceleraria a discussão.

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O projeto em debate na Câmara foi apresentado pelo deputado Alceu Moreira (MDB-RS) em 2015. A ele foram apensados outros 12 semelhantes. Relator do texto na Comissão de Educação, Diego Garcia (Republicanos-PR) apresentou um texto que prevê que alunos da educação infantil (creche e pré-escola) até o 5º não possam ter o celular nem na mochila. Já os de 6º a 9º e do ensino médio poderiam portar o aparelho, mas sem usá-lo na sala de aula e tampouco no recreio.

A exceção é para o uso como instrumento pedagógico, com orientação e monitoramento por parte do professor. Ou para estudantes com necessidades especiais que dependam do aparelho para acessibilidade.

No MEC, segundo o Estadão apurou, há ainda a preocupação de não passar a ideia de “demonização da tecnologia”, que pode ser aliada em alguns processos educacionais. O governo quer que políticas de educação midiática e de uso consciente dos celulares façam parte do projeto.

Especialistas da área chamam a atenção para o fato de que as novas tecnologias fazem parte da sociedade atual, especialmente dessa geração de crianças e jovens, e que só a proibição não será efetiva para mitigar os riscos.

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Garcia afirmou que não se opõe à participação MEC na discussão. Segundo ele, a pasta também não criou nenhum tipo de oposição ao texto que foi apresentado por ele na Comissão de Educação. Ele tem reunião marcada com a equipe do ministério na próxima terça-feira, 22.

“Se eles tiverem alguma outra contribuição positiva a apresentar, não vamos nos opor a nada. O projeto já está maduro suficiente. Acolhemos sugestões de todos parlamentares, todos partidos que nos procuraram. Na verdade, quem está atrasado é o MEC. Já fizemos essas discussões que tinham que ser feitas”, disse.

Segundo Garcia, o presidente da Comissão de Educação se comprometeu em pautar o projeto para votação na próxima sessão, ainda sem data. Na semana passada, Nikolas colocou o tema em discussão, mas não houve votação.

Caso o projeto seja aprovado na Comissão de Educação, ele segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, presidida pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC). Depois da apreciação na CCJ, o texto segue para o Senado.

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A expectativa é de que o projeto tenha tramitação concluída na Câmara ainda neste ano. Então, caberia ao Senado garantir celeridade para a medida ser aprovada até o fim de 2024.

Situação em São Paulo

Se aprovado no Congresso, o projeto valeria para todo o País. A ideia é a de que as redes públicas e privadas seriam responsáveis por decidir como seria a implementação da medida, se haveria espaço para os celulares serem guardados, se não poderia nem ser levado à escola etc.

Mesmo com o projeto nacional, há iniciativa semelhante em São Paulo, também acelerada nos últimos dias. Um projeto que proíbe celulares nas escolas públicas e particulares foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira, 16.

A norma impede o uso dos aparelhos inclusive no recreio. O projeto é de autoria da deputada Marina Helou (Rede), mas também une esquerda e direita, com coautoria dos parlamentares Lucas Bove (PL), Altair Moraes (Republicanos) e Professora Bebel (PT).

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Apesar do governo paulista também se posicionar a favor, há uma limitação nas escolas estaduais. Boa parte das atividades atualmente é feita pelos alunos em aplicativos da própria secretaria, usando o telefone celular, como redações, leituras e lições de casa.

Mesmo tendo propósito pedagógico, segundo pesquisas, o potencial de distração ainda existe quando o estudante usa um aparelho próprio, com acesso a redes sociais e outras funções.

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