Publicação de notas do Enem e chamada do Sisu expõem desafios do ‘pós-covid’

Após duas turmas muito afetadas pelo rodízio entre os formatos presencial, híbrido e remoto, colégios se mostram ansiosos para analisar como será o desempenho nas provas feitas no fim de 2022

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Por Redação

Com a chegada de fevereiro, e o início total das aulas em todas as redes públicas e privadas de educação básica do País, cresce a expectativa entre instituições e alunos pela divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre em 13 de fevereiro. Consolidado como principal vestibular do País, até pelo acesso às principais instituições federais, ele é a base dos principais programas governamentais de ensino superior (ProUni, Fies e Sisu, cujos editais foram divulgados na semana passada) e, apesar de muitas ressalvas, serve como ponto de avaliação da educação básica. Servirá agora, por exemplo, para medir mais claramente os efeitos da pandemia de covid-19 no desempenho dos estudantes.

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As inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ocorrem entre os dias 16 e 24 e a primeira chamada será divulgada no dia 28. Semestralmente, o sistema eletrônico ofertado pelo Ministério da Educação permite a escolha entre milhares de vagas em instituições de todo o País - os números consolidados serão divulgados nas próximas semanas e as instituições participantes deverão lançar a ocupação das vagas em primeira chamada entre 2 e 10 de março. “O Sisu democratizou o acesso ao ensino superior. Hoje o aluno não precisa mais se deslocar para fazer um vestibular de uma federal, por exemplo. Praticamente todas utilizam o Sisu”, diz o coordenador do ensino médio do Colégio Marista Arquidiocesano, professor Patrick Oliveira de Lima. “As federais são uma referência acadêmica, de formação de conhecimento, de pesquisa. Um aluno que almeja um crescimento acadêmico tem no Sisu uma porta.”

Usando um ranking das notas obtidas no Enem, o sistema de seleção permite acessar vagas em todas as Regiões do Brasil. E com duas possibilidades de escolha pelo estudante, uma de suas principais vantagens. “Essa possibilidade de se inscrever posteriormente, com a nota, sem precisar marcar uma carreira já na inscrição, como em outros vestibulares, é importante, principalmente para aqueles que não têm uma definição clara da carreira, que poderiam fazer Biologia ou Veterinária, por exemplo”, afirma a diretora escolar do Colégio Equipe, Luciana Fevorini.

Pandemia

A expectativa das principais instituições de ensino paulistas é de que a divulgação das notas do Enem no dia 13 traga melhores resultados. Os últimos anos, com as mudanças diversas no formato de aulas (remoto, híbrido e presencial), afetaram não só a verificação de aprendizagem nas aulas, como também a própria saúde mental dos estudantes que prestam os exames. “A pandemia deixou todos muito inseguros em relação às provas e com aproveitamento menor, por causa do remoto. As últimas duas turmas (de conclusão do ensino médio) se mostraram bastante inseguras”, diz Luciana.

“Houve uma defasagem de forma geral”, afirma o coordenador pedagógico de Ensino Médio da Carandá Educação, André Meller. “Recebemos alunos com algumas habilidades e competências que não foram devidamente aprofundadas. É um gap (uma defasagem) que fica em leitura, pesquisa. Tivemos de fazer um trabalho forte de retomada.”

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Esse mesmo processo foi observado em diversas instituições, e até na seleção inicial de candidatos, como relata o coordenador pedagógico do ensino médio no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, Adenilson Francisco Bezerra. “Tivemos de aplicar mais cuidado na seleção para o técnico no Liceu, por exemplo. Tivemos de fazer adaptações no conteúdo, retomando elementos em que o processo de aprendizagem foi diretamente afetado, e avançamos muito na questão diagnóstica.”

“Nós também nos preocupamos muito com a saúde física e mental do aluno”, afirma Bezerra. “Depois das provas trimestrais mais densas, seis dias na parte da manhã, no último dia fazíamos drops, um programa em que o aluno vinha, mostrava seus talentos, participava de shows e atividades com os colegas. Com a pandemia, passamos a fazer drops online.”

Preparo

O momento de divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio ainda permite às instituições avaliarem como estão preparando seus estudantes para o ensino superior. Tentando se distanciar das críticas em relação a conteúdos e uma formação só voltada para vestibular e não para o mundo acadêmico - uma preocupação que cresceu com o passar dos anos, com a construção de rankings de colégios com base na nota dos alunos, mesmo que não oficiais -, a maioria ainda procura criar programas visando a uma preparação específica sobretudo para o Enem.

“A preparação que temos aqui é em três dimensões: primeiramente, um diálogo com o vestibular em conteúdos; depois, outra dimensão é mostrar os procedimentos exigidos, como as expectativas em relação às diversas redações solicitadas nos vestibulares, como é cada exame, gerenciamento do tempo; isso é trabalhado durante todo o ensino médio”, diz Meller. “E há um último ponto: preparar alguém para ser um bom universitário. Isso exige uma formação geral, um contato com todas as áreas de conhecimento. É preciso pensar, pesquisar, escrever, de uma forma aprofundada.”

Vale até investir na produção de monografias, algo há poucos anos restrito às faculdades. “Fazemos uma experiência de monografia, na segunda e na terceira série do ensino médio”, diz o coordenador da Carandá. “Formamos alguém com autonomia, com repertório, capaz de fazer opções, de escolher um currículo.”

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O Arquidiocesano, por sua vez, procurou estabelecer um processo de tutoria, para orientar melhor seus estudantes. “Temos um tutor para cada área do conhecimento”, afirma Lima. “Nós criamos (no contraturno de aulas), um projeto chamado Superação, um programa voltado para o Enem e para os grandes vestibulares. São 12 aulas semanais, como um pré-vestibular; a questão é trabalhar com muitos simulados, feedbacks (conversas e orientações sobre o resultado) de simulados e uma tutoria.

Lima observa, por fim, que “um aluno que se prepare apenas academicamente não vai ter sucesso” no ensino superior. “Hoje, é preciso ter habilidades que vão além, como paciência e resiliência, gestão de tempo. Como trabalhar com ansiedade? É importante pensar nisso, pois o aluno muitas vezes põe no Enem todas as expectativas de um futuro próximo.”

Essas interrogações, muito além de conteúdos e escolha de uma carreira tradicional, também já estão entre as preocupações dos futuros universitários. “Eles estão mais preocupados em fazer um curso que os incentive, dizem ‘Quero continuar estudando o quê, de que jeito, isso vai me envolver?’ O mercado hoje exige flexibilidade, algo menos técnico, direto”, ressalta Luciana Fevorini.

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