Reconstrução da Educação: ‘Com poucas horas de aula, é difícil fazer um trabalho integral’

Melhoria do ensino passa, necessariamente, pelo aumento do tempo de permanência dos alunos na sala de aula

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Por Redação
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A necessidade de mudança no ensino das escolas públicas ficou ainda mais evidente após a pandemia. E, para isso, são necessários mais investimentos em tecnologia, a ampliação do ensino integral e maior apoio do poder público para os professores. O foco nessas áreas foi defendido por especialistas e gestores no Fórum Reconstrução da Educação, promovido pelo Estadão, nesta segunda-feira, 29.

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A ampliação da jornada escolar, apontada pelos educadores como uma urgência para alavancar a qualidade do ensino brasileiro, também passa por série de desafios. “Com poucas horas de aula, é difícil fazer um trabalho integral”, disse Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

“É necessário ter tempo para fazer isso. Ainda que exista interesse, é preciso saber como operacionalizar e ter clareza de quais são as alavancavas que permitem que o ensino integral seja realizado com mais condições”, acrescentou ele, que comanda a secretaria em Sud Mennucci, no interior paulista.

Em entrevista ao Estadão na semana passada, a presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, afirmou que “nenhum país que se industrializou tem quatro horas de aula por dia”. Ela também foi uma das participantes do Reconstrução da Educação.

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Segundo o Censo Escolar de 2022, só 14,4% dos alunos da rede pública estão matriculados no ensino integral em todo o País – o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece 25% dos alunos da educação básica como meta para 2024. O levantamento aponta, ainda, que metade das escolas públicas brasileiras não possui nenhum estudante em modalidade integral.

Secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Izolda Cela, disse que ,além das preocupações com o novo ensino médio, o MEC prioriza mais três desafios até o fim de 2023. Um deles é adotar a escola de tempo integral; outro será melhorar os níveis de alfabetização e o terceiro é incentivar a conectividade.

Para Izolda, ensino integral não se restringe a mais tempo de ensino, é preciso garantir a qualidade da oferta. “Não é apenas mais tempo”, afirma. “É mais tempo com substância, qualidade no currículo, condições suficientes para conforto das crianças e adolescentes.”

Há duas semanas, o MEC apresentou um projeto para ensino em tempo integral, que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso para se tornar lei.

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A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) defendeu o Poupança Ensino Médio, projeto que prevê incentivo financeiro para evitar que alunos em situação de pobreza e extrema pobreza abandonem as escolas. “Em muitos locais, as escolas de tempo integral são inviáveis para o aluno de baixa renda. A Poupança Ensino Médio vem para que o jovem não tenha que escolher entre investir no próprio futuro ou levar pão para casa.”

Com mediação da repórter especial do Estadão Renata Cafardo (esq.), participaram dos debates Tabata Amaral, Renato Feder, Luiz Miguel Garcia e Vitor De Ângelo Foto: Marcelo Chello/Estadão

Para Vitor De Ângelo, presidente do Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed), provas de avaliação do ensino das escolas públicas brasileiras devem mostrar “um país mais torto” após a crise da covid-19.

“Em certos lugares, um trabalho pode ter sido bem feito pelas secretarias e os resultados podem aparecer. Mas em outros, pode ser que os resultados não aparecem. Os efeitos da pandemia ainda vão ser sentidos”, disse ele, secretário da rede capixaba.

Em São Paulo, o secretário da Educação do Estado, Renato Feder, diz que o foco para melhorar o desempenho está no suporte oferecido às escolas. “Se queremos resultados, precisamos apoiar a sala de aula. Somos uma rede de serviço e o serviço principal é a aula. E acho que assim podemos melhorar os resultados em São Paulo”, diz.

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Romildo Calixto é professor da rede estadual de Minas Gerais Foto: Marcelo Chello/Estadão

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Romildo Calixto, professor da rede estadual de Vespasiano, na Grande Belo Horizonte, lembra que é necessário que o Ministério da Educação (MEC) escute mais quem está no chão da escola. “É muito importante que o MEC ouça nossas especificidades. Sem ouvir e investir no professor, não é possível colocar nenhum currículo em prática”, afirma.

Lucia Cristina Cortez de Barros Santos, diretora da Escola Municipal Professor Wladimir Garcia, de Manaus, defendeu que uma escola mais flexível, humanizada e que envolva os alunos é possível. Porém, assim como Romildo Júnior, também citou a importância do diálogo com o MEC. “Queremos estar ao lado do MEC de mãos dadas. Temos os mesmos fins, estamos do mesmo lado.”

Programação

Reconstrução da Educação é uma realização do Estadão, em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Lemann, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Vivo Telefônica, Instituto Natura e Instituto Península. E tem o apoio do Consed, da Undime e do Todos Pela Educação.

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